O leilão de concessão da rodovia BR-101, trecho do Espírito Santo, colocará à disposição da iniciativa privada um importante corredor de exportações e ligação entre o Sudeste e o Nordeste do Brasil, além de marcar a retomada do programa federal de privatizações de estradas. A concorrência no certame deverá ser forte, segundo especialistas.

O trecho a ser licitado possui 475,9 km de extensão, sendo que 458,4 km estão no Espírito Santo. A rodovia corta todo o Estado capixaba, da divisa com o Rio de Janeiro ao limite com a Bahia. Segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), a rodovia receberá investimentos de R$ 2,15 bilhões em obras, sendo que a metade de sua extensão será duplicada até o sexto ano da concessão e a outra metade até o décimo ano. Além disso, deverão ser aplicados mais R$ 1,7 bilhão em custos com operação.

“Esse lote é um trecho importante, com grande circulação de cargas. É o resgate da relevância da circulação de produtos em direção aos portos”, afirma o professor especialista em transportes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luiz Afonso dos Santos Senna.

A BR-101 é próxima ao litoral e seu traçado passa perto do Porto de Vitória, com vocação para commodities e cargas gerais. Além disso, a rodovia passa pela ArceloMittal Tubarão e por uma fábrica de celulose da Fibria na cidade de Aracruz. Na Bahia, o trecho se encerra no município de Mucuri, onde a Suzano produz celulose. Como liga a Bahia ao Rio de Janeiro, a BR-101 também pode ser uma alternativa ao trecho mineiro da BR-116 como acesso ao Nordeste ou Sudeste, principalmente após a duplicação.

Concorrência e sinergia
Após um intervalo de três anos, uma rodovia federal voltará a ser licitada, o que deverá despertar grande interesse das companhias que atuam no setor. “As empresas de concessão estão atrás de ativos, mas o único ponto que pode desviar um pouco a atenção é o leilão de concessão de aeroportos”, afirma o analista Leonardo Nitta, do BB Investimentos, referindo-se ao certame dos terminais de Guarulhos, Viracopos e Brasília previsto para 22 de dezembro.


Além de empresas de capital fechado, a disputa poderá contar com Triunfo Participações, Ecorodovias e OHL Brasil. “A OHL Brasil deve ter bastante interesse, assim como a Ecorodovias”, disse Nitta. O professor do Insper-SP, Eduardo Padilha, diz que está trabalhando para uma companhia interessada e que vê “cinco ou seis grupos” participando da disputa. “Serão mais empresas brasileiras. Não é um negócio tão grande para um estrangeiro”.

A OHL Brasil administra a Autopista Fluminense, que liga a capital do Estado à Campos dos Goitacazes, na divisa com o Espírito Santo, o que mostra um eventual ganho de sinergia para a subsidiária da espanhola OHL. Em 2008, a OHL Brasil surpreendeu ao vencer cinco das sete rodovias levadas à leilão pelo governo federal, como a Régis Bittencourt, entre São Paulo e Curitiba (PR), e a Fernão Dias, entre São Paulo e Belo Horizonte (MG).

A OHL Brasil afirmou à Reuters que “analisa as oportunidades de crescimento no setor de infraestrutura de transportes e decide se irá ou não apresentar propostas levando em consideração fatores como o plano de expansão da empresa, disponibilidade de crédito e expectativa de retorno para seus acionistas, entre outros”.

Já a Isolux Infrastructure, subsidiária da espanhola Isolux Corsán, afirmou que deve entrar na disputa pela BR-101 em parceria com a brasileira Engevix. A Invepar – que têm concessões de rodovias na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo e administra a Linha Amarela e duas linhas do metrô do Rio de Janeiro – disse que “tem interesse e está estudando o assunto”.

No início de outubro, o presidente da Ecorodovias, Marcelino Rafart de Seras, disse estar analisando projetos como o da BR-101, mas que via o assunto “com um pouco de preocupação” pelos altos deságios apresentados em leilões anteriores de estradas.

Já o presidente da Triunfo Participações, Carlo Botarelli, disse à Reuters que tem interesse na estrada capixaba. Segundo ele, a Triunfo pode participar sozinha, sem formação de consórcios para a disputa.

O período de concessão da rodovia será de 25 anos e o trecho terá sete praças de pedágio, com uma tarifa-teto de R$ 0,06237 por km. Vence a disputa quem oferecer o maior deságio em relação a esse valor.