Foi lançado, na Feira do Livro de Pelotas, o livro-reportagem ‘A noite que não acabou’, escrito por Eduardo Cecconi, repórter do ClicRBS, e Nauro Jr., fotojornalista do jornal Zero Hora. A obra que remonta os dias difíceis vividos pelo GE Brasil, desde os bastidores da tragédia com a delegação Xavante – no último dia 15 de janeiro –, até o fim do Campeonato Gaúcho deste ano, roubou a cena no primeiro dia do maior evento literário pelotense. O livro foi um sucesso de vendas e a sessão de autógrafos foi a mais movimentada da feira.
O Presidente Xavante, Helder Lopes, compareceu à cerimônia de lançamento e chegou a se emocionar quando recebeu o abraço dos autores. O dirigente não estava no ônibus que despencou de uma barranca de quase 40 metros, mas ele foi uma das figuras mais importantes no processo de reestruturação no período após o acidente. Fazendo com que até hoje a direção do Brasil tenha o reconhecimento de todos, inclusive dos familiares das vítimas, pelos esforços prestados para apaziguar ao máximo possível os prejuízos do desastre.
“Eu espero que o Cecconi e o Nauro possam ter colocado nessa obra o sentimento de todos os que se envolveram no acidente, pois esse livro é um marco na história do Brasil, depois que o clube passou por tudo aquilo no início do ano. Eu fiz questão de vir aqui prestigiar o lançamento destes dois amigos, porque nos momentos difíceis eles souberam colaborar conosco”, afirmou Lopes.
‘A noite que não acabou’ é divido em oito capítulos e tem mais de 300 páginas, sendo que 16 delas são de fotos. Abaixo segue um trecho do Capítulo 3, intitulado “CURVA”.
Trecho do capítulo 3 – “Curva”
A curva tem uma mureta metálica de proteção em sua margem externa. De dia, o guard rail mais parece o parapeito da janela onde se debruça uma coxilha logo à frente. À direita da ondulação do relevo, há uma área cultivada com acácias para florestamento destinado à indústria de celulose. Recobre o morro a característica vegetação rasteira do pampa, com herbáceas variadas. Pouco à esquerda, mais abaixo, sobrevive uma pequena plantação de milho.
Da coxilha vultosa ao cúbito da curva faz-se um vale. Em qualquer dos pontos mais altos – na margem da estrada, ou no topo do morro – percebe-se a profundidade que tem em sua base fileiras quase simétricas formadas por um arbusto nativo chamado popularmente de vassoura.
O sol valoriza todas as cores do Paraíso. E torna até agradável o acesso da rodovia estadual em curva à direita inclinada até a federal. São nuances de todos os verdes misturados ao dourado da palha do milho e às singelas gotas de vermelho e amarelo das flores do campo adornando os arbustos.
Mas à noite a paleta de pintura confunde todas as tintas, que pela ausência de cores oferecem o preto como resultado. A coxilha desabitada une-se ao céu, que se compacta ao vale, e abraça a mata nativa, a plantação e as árvores exóticas. O inspirado quadro transforma-se em um paredão uniforme tão negro quanto a própria escuridão.