Caos aéreo é apontado como um dos fatores de aumento de 23,5% em acidentes e de 15,6% em óbitos em Minas
As férias de julho terminam com saldo negativo nas rodovias mineiras. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) contabilizou aumento de 23,5% no número de acidentes em Minas no período de recesso escolar deste ano em relação ao ano passado. Pelo balanço parcial divulgado ontem de manhã pela PRF, o número de vítimas fatais subiu de 86, em 2006, para 102, em 2007, um acréscimo de 15,6%. Mas no final da tarde, mais cinco pessoas morreram em uma batida na BR-135. A operação Férias Escolares, que iria terminar ontem, foi estendida até a meia-noite de amanhã, dia 31.
O aumento das ocorrências está associado às férias e também ao caos aéreo, intensificado no país depois do acidente com o airbus da TAM no dia 17 deste mês, no aeroporto de Congonhas, em São Paulo. “Os números são reflexo da crise aérea. O tráfego nas rodovias federais aumentou 40% nas regiões Sul e Sudeste do país neste mês”, afirmou o inspetor Alexandre Castilho, da PRF em Brasília.
Entre os dias 29 de junho e 28 de julho deste ano, foram registrados 1.789 acidentes que resultaram em 1.208 feridos e 102 mortos nas rodovias federais. No ano passado, foram 1.368 acidentes com 1.003 feridos e 86 mortos nesse período. As rodovias estaduais mineiras também tiveram aumento no número de mortos, mesmo com menos ocorrências de acidentes. Até a manhã de ontem, a Polícia Rodoviária Estadual (PRE) identificou 364 acidentes com 220 feridos e 29 mortos. Em 2006 foram 405 acidentes, 275 feridos e 14 mortos.
Conforme Castilho, cada rodovia tem um “trecho da morte”. Dois deles estão na BR-116 e na BR-101, que cortam mais de dez Estados brasileiros – a 116 passa por Minas. “Algumas rodovias despertam a atenção da PRF, como sempre, a BR-381, entre São Paulo e Vitória. A BR-040 também, mesmo que não tenha fluxo grande, mas tem alta velocidade”, afirmou.
Entre os acidentes que mais chocaram a população este mês, um ocorreu na madrugada da última quinta-feira na MGT-122, entre as cidades de Porteirinha e Janaúba, no Norte de Minas. Um ônibus de romeiros e um caminhão de cerâmica se colidiram deixando mais de 30 pessoas feridas e 11 mortos – os dois motoristas e mais nove pessoas do município de Chapada do Norte, no Vale do Jequitinhonha.
Na tarde de ontem, um acidente envolvendo uma carreta bitrem carregada de arroz e um veículo Monza de Belo Horizonte na BR-135, altura da cidade de Curvelo, KM 635 deixou cinco pessoas mortas: o motorista Ozías Gonçalves dos Santos, 30, Alexandre Paulo de Oliveira, 21, Levi Cândido de Matos, 21, e as irmãs Ingrid, 17, e Lorena Perácio Costa Silva, 20.
Caos aéreo
Junto com São Paulo e Rio de Janeiro, Minas Gerais ficou em primeiro lugar no ranking de superlotação das rodovias. De acordo com o inspetor Aristides Júnior, coordenador de comunicação da PRF no Estado, além do acréscimo de 30% registrado normalmente durante o período das férias de julho, o Estado teve mais 25% de acréscimo em conseqüência do caos aéreo. “Tivemos um aumento além da média histórica por causa dos aeroportos”
Conforme Alexandre Castilho, o trecho da BR-381 que liga Belo Horizonte a São Paulo e da BR-040, que leva até o Rio de Janeiro, foram os mais movimentados em Minas. “Os Estados que tiveram maior reflexo da crise aérea são aqueles em que as metrópoles ficam mais próximas umas das outras, com até 700 km, com média de duração da viagem pela estrada de até seis horas. Por isso, os eventuais passageiros do transporte aéreo vão pela rodovia porque vão perder no aeroporto o tempo que gastariam na estrada”, afirmou Castilho.
Condições
Na tarde desse sábado a BR-135, que liga Belo Horizonte à Bahia, estava cheia, com carros de passeio e caminhões, principalmente com carga de carvão, vindos da região Norte. A rodovia passou por obras de recapeamento no início deste ano, mas trechos como o próximo ao município de Curvelo, na região Central, mostram o asfalto ainda deteriorado com ranhuras que tornam a viagem perigosa. Entre o trevo de Corinto, e a capital havia acostamento em poucos lugares. Na grande maioria, o espaço está deteriorado ou não existe.
Na BR-381, alguns trechos exigem cuidado do motorista. Obras de recapeamento da pista estão sendo feitas entre Belo Horizonte e João Monlevade. Já na BR-262, que vai até o Triângulo Mineiro, segundo informações do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) na Internet, alguns pedaços estão esburacados, como na altura da cidade de Betim.
Motoristas confirmam aumento de tráfego
Na tarde do último sábado, a equipe de reportagem de O TEMPO percorreu duas rodovias federais bem diferentes: a BR–367, que é administrada pelo Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (DER), e a BR–135, delegada ao Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit). Nenhuma das duas são duplicadas, mas na 135 o tráfego é visivelmente mais intenso com deterioração também maior. Alguns motoristas confirmaram à reportagem que houve um aumento no tráfego depois do acidente com o avião da TAM.
“Não conheço ninguém que deixou de viajar de avião e preferiu o carro, mas percebo que o tráfego aumentou sim”, disse o caminhoneiro Júlio Araújo, 40, que há um ano trabalha em uma fábrica de biscoitos em Juiz de Fora e roda praticamente todas as rodovias do Estado. “Vejo muita degradação, falta de sinalização, mato na beira da estrada, falta de acostamento. Isso tudo é muito sério porque as estradas mineiras são mais perigosas, com topografia de muita curva”, reclamou. Bruno Stéfani Mota, 23, também é caminhoneiro e costuma levar carvão da região Norte para a Central de Minas. Na estrada, ele padece dos mesmos problemas: más condições e aumento de veículos que competem com os caminhões. “Vejo muitas barberagens. É motorista que ultrapassa em lugar proibido, entra em lugar que não cabe, corta um caminhão no meio da curva. Por isso, vejo tantos acidentes”, disse.
O motorista Carlos Eduardo Jamar, 36, adiantou a volta de férias para o sábado. Ele estava com a família em Belo Horizonte e estava voltando para Diamantina, onde mora. Segundo ele, nos últimos seis meses percebeu que BR–135, onde mais trafega, está mais cheia, o que para ele culmina em asfalto ainda pior e viagem mais perigosa.