O aposentado Josemir Silveria, que tem um sítio na região da Serrinha, divisa dos municípios de Alto Alegre e Mucajaí, resolveu conhecer as estradas e vicinais da região. Pegou o Mapa de Roraima adquirido em uma livraria da cidade, e outro adquirido no Google Mapas, e seguiu pela RR-205 até chegar à RR-452. Percorreu toda a extensão da estrada, onde no final deveria pegar a RR-323 que, segundo os mapas, levaria até a BR-174, na região de Iracema. No entanto, ao chegar ao local onde a 323 deveria começar, nada encontrou.

“Chegando ao ponto indicado pelo mapa perguntei de uma senhora que estava cuidando de um pequeno bar se ali havia alguma estrada ou vicinal, e ela informou que nunca teve”, disse Josemir. Ele seguiu então até a Vila São Silvestre, para ver se lá alguém poderia informar onde começava a RR-323, mas os moradores do local informaram que a estrada não existia. “Eu acho que disseram que essa estrada foi feita, mas na verdade ela nunca existiu”, contestou.

A Folha foi até uma papelaria da cidade e comprou um mapa de Roraima feito pela empresa Geográfica Didática LTDA, com sede no Estado de São Paulo. O mapa é o mesmo utilizado nas escolas públicas do Estado. O enunciado diz: “Estado de Roraima Político, Rodoviário e Escolar – Edição atualizada”.

Nele, a RR-323 aparece como estrada implantada saindo da BR-174, no Município de Iracema, seguindo até bem próximo ao Município de Mucajaí, e o resto do trajeto aparece como um planejamento para que a mesma rodovia seguisse cortando Mucajaí, passando pela RR-452 até a RR-175, quase na divisa com o Município do Alto Alegre.

O mapa foi levado ao Departamento de Infra-Estrutura de Transporte (Deit) e, segundo o diretor da unidade, José Eufrânio Alves, a RR-323 nunca existiu. Além dela, pelo menos mais quatro falsas estradas estaduais contidas no mapa são inexistentes ou contém erros grotescos no traçado. O mapa mostra, por exemplo, um trecho inexistente na BR-401. A rodovia na verdade sai de Boa Vista e vai até Bonfim, no entanto, no mapa ela continuaria até uma localidade no Município de Normandia, chamada Cariri, no Norte do Estado.

Uma das principais rodovias estaduais, RR-203, que sai da BR- 174, passa pelo Município de Amajari e vai até a Serra do Tepequém, no mapa produzido em São Paulo e vendido em Roraima tem um grande erro em seu traçado. “Está tudo errado nesse mapa”, disse Eufrânio.

O mapa mostra ainda uma RR-202, que foi transformada em BR-433, uma RR-480, que na verdade é a BR-431 e uma RR-170, que é a BR-432. Ou seja, a malha viária ilustrada no documento está amplamente equivocada.

Um dos técnicos no Deit informou que precisaria de uma semana para analisar o material com mais calma, mas olhando superficialmente já pode identificar diversos erros. O diretor nega que a Seinf tenha enviado as informações para a empresa. “Estou aqui desde 2005 e nós não mandamos nenhuma informação”, disse.

EMPRESA – A Folha entrou em contato com a empresa Geograf Didática LTDA, em São Paulo. De acordo com o funcionário que atendeu a chamada, a empresa chama-se na verdade “Eca Produtos de Ensino” e é especializada na elaboração de mapas escolares.

O responsável pela firma, Enio Remi, informou que tem conhecimento dos equívocos do mapa. “Nós já estamos fazendo um novo mapa todo correto para ser lançado em 2009”, disse, reconhecendo que é uma situação no “mínimo irritante” a que passou o aposentado Josemir Silveria, ao se basear em um mapa para percorrer uma estrada, e a mesma não existir na realidade. “Sei que é uma situação desagradável, mas a empresa não tem estrutura para fazer as atualizações freqüentemente”, disse.

Ele informou que o material foi produzido em 2002 e teve como fonte o Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE), que forneceu a base cartográfica. A Diretoria de Georeferenciamento da Secretaria de Planejamento do Estado de Roraima (Seplan) forneceu algumas informações e o traçado da malha viária, segundo ele, foi fornecido pelo Conselho Nacional de Transporte (CNT).