Marco Cantero, médico do trabalho, participou diretamente na aplicação dos exames toxicológico no transporte aéreo. Ele foi inclusive presidente da Associação Brasileira de Medicina Aeroespacial
Com experiência em testagens toxicológicas e programas de álcool e drogas, em empresas aéreas, na antiga TAM, Azul, por 12 anos, e mais na Infraero, o médico Marco Cantero conversa com a reportagem do Estradas sobre a Portaria do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), à qual considera de extrema importância para os trabalhadores.
Como o senhor avalia a nova Portaria do MTE sobre o exame toxicológico?
Em relação às testagens toxicológicas, eu entendo o seguinte, para os trabalhadores, é a oportunidade de que quem tem alguma dependência, algum uso abusivo e mesmo um uso isolado, que possa ser tratado, orientado e evitar o uso de drogas que é sempre danoso. Não há uso de drogas que seja positivo do ponto de vista de saúde individual. Não há nenhuma possibilidade disso, nenhuma possibilidade prática de que seja algo que dê algum valor para as pessoas, exceto o momento imediato de prazer, com um custo alto em redução de saúde, em adoecimento, em morte.
Então, para o trabalhador, a grande vantagem é a oportunidade de inibir o uso de quem usa pontualmente, porque isso acontece na empresa aérea, as pessoas que usavam pontualmente pararam de usar porque sabiam que podiam ter a sua carreira comprometida. E quem usa tem a oportunidade de ser tratado. Então essa é a grande vantagem para os trabalhadores.
Para a empresa é fantástica a oportunidade porque vai investir num tema que tem a ver com a segurança operacional, com a imagem na companhia, com compliance, com redução de perdas em todos os aspectos, em produtividade, em acidente, em afastamento previdenciário, em riscos jurídicos e trabalhistas, que a empresa se protege, garantindo que o ambiente seja seguro e saudável.
Além disso, tem uma imagem institucional a ser zelada, de que os processos são de acordo com saúde, de acordo com o cuidado com as pessoas, com respeito aos seus trabalhadores, e com o resultado final de que é um produto confiável, de qualidade, de excelência para ser entregue para o seu cliente. Então, para a empresa também é fantástico.
Quais as vantagens da nova Portaria para a sociedade?
E para a sociedade, é a inibição em massa do uso do tráfico que gera violência urbana, acidentes de trânsito, acidentes domésticos, violência familiar, agressão contra familiares e contra pessoas na sociedade e toda sorte de problemas que as drogas e o tráfico de droga causam.
Então, do ponto de vista da saúde individual é fantástico, do ponto de vista de saúde corporativa é muito bom e do ponto de vista de coletivo de sociedade só tem ganho. Um controle rigoroso do uso de álcool e drogas, inibindo que as pessoas tenham a oportunidade de usar a droga e executar a sua tarefa, o seu trabalho, a sua atividade profissional, inibe o uso e com isso você tem uma sociedade melhor. É mais uma das maneiras, e essa me parece bastante inteligente, de inibição do uso de drogas.
Quais sua avaliação sobre os programas de álcool e drogas?
Como eu costumo dizer, os programas de álcool e droga interessam a todos, só não interessa ao traficante. Como a minha preocupação com o traficante é nenhuma, eu acho que é perfeito qualquer programa de álcool e droga, bem instituído, especialmente os que têm um foco em educação, em orientação inicial e depois uma testagem bastante rigorosa.
Naturalmente com métodos confiáveis e não só o método, tem aqueles testes agudos, né, que eu sempre falo, né, quando você tem um acidente, você pode fazer um teste de intoxicação aguda e ele tem um valor muito grande, mas o mais importante que eu vejo sempre é o teste de comportamento, que é o do queratina (teste do cabelo), que é exatamente o que está contemplado, porque você vê o comportamento, tem pessoas que advogam que a pessoa, nas férias, poderia usar drogas.
Se a pessoa usa nas férias, um uso abusivo, mesmo que seja um uso pontual, por que não ela não vai usar num dia prévio a um dia de trabalho comum? É muito difícil esse controle, é evidente que não dá certo e é evidente que a pessoa acaba usando, sem contar que mesmo a abstinência de curto prazo afeta o comportamento do indivíduo.
Então o controle tem que ser de comportamento e isso, a matriz queratina é muito adequada porque pode pegar de 4, 5, 6 meses, depende da técnica usada e do material utilizado. Então você vê comportamento prévio para, a partir disso, ter uma conduta de acompanhamento e eventualmente de tratamento dessa pessoa.