O PT, outrora crítico da cobrança de pedágios praticada nas estradas de São Paulo, cujo número de praças aumentou significativamente durante a administração do PSDB no Estado, parece ter mudado de opinião. O senador Aloizio Mercadante, candidato do partido ao Palácio dos Bandeirantes, revelou nesta terça-feira, em Pirituba, Zona Norte de São Paulo, que o Rodoanel será administrado por concessionárias em sua possível gestão. Com isso, conseqüentemente, haverá cobrança de pedágios.

“Temos de estudar concessões em todas as estruturas importantes de transporte, como é o Rodoanel”, garantiu. O senador desmentiu que o seu partido tenha mudado de idéia com relação aos pedágios. “O problema não é fazer concessão, e sim permitir abusos na tarifa cobrada pelas concessionárias.”

Mercadante acredita que o pedágio não inibirá motoristas que pretendam usar o Rodoanel. Especialmente, segundo ele, se as tarifas forem controladas. “Se fizermos revisão completa no sistema, com um acordo moderado, adequado e compatível, seguramente iremos beneficiar bastante o sistema de transporte”, avalia.

Segundo o petista, a tarifa dos pedágios cresceu 716% em dez anos. “Foi 210% acima do índice do IPC/FIP, que é o crescimento real. Isso é inaceitável porque penalizou e prejudicou o transporte estadual”, ressalta. Para Mercadante, uma concessão “bem dirigida, com tarifa adequada” possibilitará investimentos para a modernização das estradas.

O senador lembrou que o governo do Estado não pode se prender apenas ao trecho Sul do Rodoanel, que passa pelo Grande ABC. “Temos de pensar também no trecho Norte, que é o mais caro e longo da obra. Não podemos esperar quatro anos para concluir o trecho Sul, que no meu governo espero antecipar para 30 meses, para começar a discutir a área Norte”, avalia.

Ele destacou que São Paulo precisa buscar “imediatamente” formas alternativas de financiamento com a iniciativa privada. E assegura que o fará caso seja eleito. “Onde for possível, faremos parceria com o setor privado”, reforça.

Mercadante explicou ainda que pretende se reunir com as concessionárias que hoje operam nas estradas estaduais para discutir os contratos. “É possível renegociar e termos um pedágio mais justo. Ver onde o número de praças de pedágio é excessivo para que a gente tenha uma situação razoável e racional”, pondera.

Ataques – O governável voltou a falar da questão da violência no Estado. Criticou o secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu, e defendeu o governador Claudio Lembo (PFL). “Não podemos responsabilizá-lo pelos 12 anos de governo que herdou.” Acompanhado da ex-prefeita Marta Suplicy, o petista disse que a União pretende acelerar o envio de projetos para a construção de dois presídios no Estado.

Prefeitos ficam surpresos com idéia

Prefeitos da região se mostraram surpresos com a proposta de Mercadante, que disse nesta terça-feira ser inevitável a cobrança de pedágio no trecho Sul do Rodoanel, com previsão para ser concluído em 2010. João Avamileno (PT), de Santo André), disse que o assunto ainda precisa ser discutido dentro do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. Clóvis Volpi (PV), de Ribeirão Pires, considerou a idéia “uma loucura” e Adler Kiko Teixeira (PSDB), de Rio Grande da Serra, acha que o senador “deveria se preocupar em trazer os recursos prometidos pelo governo federal”.

Segundo o chefe do Executivo de Santo André, ainda é muito cedo para discutir essa questão. “Eu ainda não conversei com o Mercadante sobre isso. Vou ouvir as argumentações dele para formar uma posição mais clara. Mas é necessário discutir esse tema também no Consórcio”, disse o petista. Na avaliação de Avamileno, há duas vertentes sobre a instalação de pedágios em rodovias: “Por um lado é ruim porque passa a ser um peso para a população, mas por outro lado existe a necessidade de manutenção da rodovia”.

Clóvis Volpi foi mais veemente em relação a proposta de Mercadante. “Muito do que o PT falou em outras campanhas não cumpriu, por isso não acredito nessa idéia. Ele está desconectado com a realidade. O senador não raciocinou direito. Deve estar estressado”, alfinetou. Para o prefeito, a cobrança de pedágio irá prejudicar o Grande ABC. “Como você vai cobrar pedágio em uma pista que certamente vai passar dentro da região urbana? Geraria muita confusão. Eu não concordo”.

Adler Kiko Teixeira – vice-presidente do Consórcio e coordenador político das campanhas de Serra e Alckmin na região – também criticou o líder do governo Lula no Senado. “Antes do Mercadante dizer se o Rodoanel deve ou não ser pedagiado, ele deveria fazer o papel dele de senador, que é cobrar do presidente o que tinha sido prometido pela União para as obras”.

Assim como Avamileno, Kiko também acha prematuro iniciar discussões sobre o tema antes do resultado das eleições. “Essa é uma questão técnica que tem de ser melhor discutida. Acredito que se Serra for eleito, vai manter as posições do governador Alckmin (de não pedagiar)”. O tucano completou: “Ninguém gosta de pagar pedágio, mas as vezes ele é necessário”.