BR-116, em Fazenda Rio Grande, ficou bloqueada por mais de 8 horas. Duas mil pessoas exigiam mais segurança
Um assalto a ônibus que resultou na morte do motorista foi o estopim para uma enorme confusão durante toda a manhã e parte da tarde de ontem, em Fazenda Rio Grande. Revoltados, colegas de trabalho da vítima e a população local fecharam os dois sentidos da BR-116 por quase oito horas, causando enorme engarrafamento e gerando pequenos conflitos com polícia e outros motoristas.
O crime não foi um ato isolado, e por isso mesmo os profissionais se revoltaram. Desde 2002 outros dois motoristas e três cobradores foram mortos em assaltos em linhas da Região Metropolitana de Curitiba (RMC). No ano passado, conforme números do Sindicato dos Motoristas e Cobradores nas Empresas de Transporte de Passageiros de Curitiba e Região (Sindimoc), foram 3.054 assaltos.
O assalto em Fazenda Rio Grande foi cometido às 6 horas de ontem, por um homem que entrou armado no ônibus da empresa Leblon, que fazia a linha Eucaliptos 2, então parado num ponto da Avenida das Araucárias. Segundo o cobrador, o bandido já entrou atirando e uma das balas acertou a barriga do motorista Ricardo Germano Hopaloski, 40 anos. Depois o ladrão pegou R$ 28 do caixa do ônibus e fugiu.
Moradores da região ainda levaram Hopaloski ao hospital local, mas ele não resistiu e morreu logo em seguida. Colegas contaram que o motorista trabalhava havia sete anos na empresa e era de personalidade pacata. Eles duvidam que pudesse ter reagido ao assalto.
Assim que souberam da morte, outros motoristas e cobradores de Fazenda Rio Grande abandonaram os ônibus e organizaram o protesto. Com ajuda de moradores, trancaram os dois sentidos da BR-116, na entrada da cidade, e atearam fogo a uma barricada de pneus, a partir das 7 horas. Nenhum ônibus saía ou entrava do terminal de transporte urbano local.
A população juntou-se aos poucos e engrossou o movimento, que tornou-se um grande protesto contra a falta de segurança. O comércio também se solidarizou e baixou as portas. Cerca de 2 mil pessoas se aglomeram às margens da rodovia, enquanto as filas de carros se formavam nos dois sentidos. Um caminhão de som apareceu e líderes do manifesto insuflavam a multidão a gritar palavras de ordem. Um carro da PM chegou a ser apedrejado.
Os manifestantes exigiram a presença do prefeito de Fazenda Rio Grande e do secretário estadual de Segurança Pública, Luioz Fernando Delazari, para liberar a rodovia. O clima esquentou ainda mais às 11h30, quando uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tentou ajudar um caminhão do Corpo de Bombeiros a apagar o fogo nos pneus. Alguns mais exaltados ameaçaram virar o carro da PRF, e os policiais desceram com armas pesadas nas mãos. Os pneus foram esvaziados e o protesto continuou.
Só a partir do meio-dia, e com a intermediação das polícias, os líderes do protesto permitiram a passagem de ambulâncias e carros de passeio transportando crianças e idosos. Naquele instante, a fila ultrapassava os 20 quilômetros — 10 em cada sentido da rodovia, mas teria chegado a 13 no começo da tarde. Somente às 14h45, os manifestantes permitiram que os bombeiros apagassem o fogo e liberaram a rodovia.
Perigo — Pelas estatísticas do Sindimoc, o número de assaltos a ônibus na RMC mantém-se estável desde 2005, mas nivelado por cima. Em 2005 foram 3.181 ocorrências. “Os assaltos em linhas de Curitiba até diminuiram, mas as da Região Metropolitana cresceram demais. As ocorrências migraram, e temos avisado as autoridades há tempos sobre isso”, diz o diretor de segurança do sindicato, João Carlos Mesquita.
Campo Largo, Fazenda Rio Grande, Almirante Tamandaré, Colombo, São José dos Pinhais, Pinhais, estão entre os municípios onde ocorrem mais assaltos. “Não dá nem para falar em um local mais perigoso. Todos estão com casos acima do suportável”, desabafa Mesquita.