O número de mortes por atropelamento registrado na rodovia Anhangüera de janeiro até agosto deste ano já supera, na região de Ribeirão Preto, o total de casos ocorridos em todo o ano passado. Os dados são da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo).
No trecho sob concessão da Vianorte, de Jardinópolis a Igarapava, não houve nenhuma morte do tipo em 2005, mas, nos oito primeiros meses deste ano, já foram três. Na área da Autovias, de Santa Rita do Passa Quatro até Ribeirão, o índice dobrou: de um caso em 2005 para dois do início de 2006 até agosto.
De São Paulo a Campinas, no trecho concedido à Autoban, o índice de atropelamento com mortes não chegou a superar, em números absolutos, o do ano anterior, mas na proporção acabou sendo maior. Foram 25 casos em 2005 (média de 3,3 por mês), contra 24 de janeiro a agosto deste ano (média da 4,2 por mês).
No trecho administrado pela Intervias, na região de Limeira, a proporção de acidentes se manteve praticamente a mesma: dez mortes em 2005 (média de 0,8 por mês) e seis neste ano até agosto (média de 0,7 por mês).
Em toda a rodovia, foram 34 casos nos oito primeiros meses deste ano, contra 35 em todo o ano passado. As concessionárias dizem que há passarelas para pedestres em número suficiente e que realizam campanhas para orientar a população a utilizá-las.
Mesmo havendo seis passarelas no trecho que corta o município de Ribeirão, a reportagem flagrou, no último dia 28, cinco pessoas atravessando a rodovia pela pista, num período de 20 minutos – num dos casos, o carro da Gazeta, que estava dentro do limite de velocidade (80 km/h) precisou frear para não atropelar um pedestre. No perímetro urbano, a rodovia é ladeada por 19 bairros, entre eles a Lagoinha, Vila Abranches, Interlagos e Parque Avelino Palma.
Um dos que estavam se arriscando, de bicicleta, na travessia da pista era o criador de porcos Roberto da Silva, 51, que ia de sua casa, no Salgado Filho 1, até a chácara onde mantém sua criação, no Jardim Palmeiras, do outro lado da rodovia. “Faz muito tempo que faço isso, duas vezes por dia. Se não tiver cuidado, o carro pega. Sempre morre gente aqui.” Mesmo com a passarela a alguns metros dali, ele insiste em ir pela rodovia. “O tambor está cheio de lavagem. Se subir a rampa, cai tudo, não tem jeito”, justificou.
Segundo o especialista em trânsito Creso Peixoto, professor da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), uma característica distingue a Anhangüera de outras rodovias, como a Bandeirantes, que faz o mesmo percurso de São Paulo a Cordeirópolis, mas tem menor índice de atropelamentos.
“As cidades próximas à Anhangüera a envolveram e ela passou a ser usada como avenida. Há muita intersecção entre veículos e, particularmente, entre pedestres, acessando de um bairro para outro.”
Para ele, só passarela não resolve – muitos a consideram mais cansativa e demorada. Além de barreiras físicas entre as pistas, radar e educação para a travessia são fundamentais, segundo o docente, para evitar atropelamentos. “Normalmente encontramos aceitação máxima no público mirim, e a criança não raro chama a atenção dos pais”, disse.
Pista é eixo industrial
A rodovia dá sinais de que é um dos três eixos industriais que partem da Grande São Paulo – os outros são a Via Dutra, rumo ao Rio de Janeiro, e a Castelo Branco, para o interior – a partir de Limeira, quando o trânsito começa a ficar mais pesado e o roncar dos motores passa a ser uma constante, nas duas faixas de pista.
Dali até Americana, Campinas e Jundiaí, a estrada parece fazer praticamente parte das cidades e, apesar da atividade rural intensa, a industrialização é o que predomina. A poluição visual é o indicador de que essas grandes cidades estão se aproximando, com placas e outdoors na beirada da rodovia. Nessa região, os condomínios de luxo contrastam com as favelas.
Já rumo ao extremo oposto da via, sentido Igarapava, a industrialização vai diminuindo e o que prevalece é a atividade agrícola.