Motociclistas colocam em risco quem transita pela Rodovia dos Bandeirantes nos fins de semana. Mais de 100 deles usam semanalmente a rodovia para tirar racha e usam motos possantes, que custam mais de R$ 50 mil e circulam a 250 km por hora.
Em geral, as corridas começam a partir das 9h, e os pilotos pouco se importam com os caminhões, com os carros e até mesmo com a polícia rodoviária.
– Nosso lance é a adrenalina. Queremos ver até quanto a nossa moto consegue ir. Não somos motoqueiros, somos motociclistas. O esquema é engatar a sexta e esquecer dos problemas da vida – diz um dos pilotos, que não quis se identificar.
Eles disputam em grupos de pelo menos cinco em longa distância. Com bom asfalto, poucas curvas e cortando as grandes cidades do estado, a estrada virou “circuito oficial”. Em alguns pontos, tem até mesmo público para acompanhar as disputas.
Depois dos pegas, eles se reúnem no km 72 da rodovia, no Shopping Serra Azul. No local, que não vende bebidas alcoólicas, eles almoçam e conversam sobre motos.
Irresponsáveis no trânsito nos fins de semana, eles são de segunda a sexta empresários bem-sucedidos, em média com 35 anos. Eles não admitem que possam colocar em risco os demais motoristas que transitam pela rodovia e acreditam que o domingo é o melhor dia, pois tem menos movimento de caminhões.
– Somos muito responsáveis e não queremos colocar ninguém em risco. A idéia é testar o limite das motos e extravasar um pouco da adrenalina – afirma um dos pilotos.
Segundo a Polícia Rodoviária, os acidentes com motos na Bandeirantes e na Anhangüera aumentaram 122% entre 2002 e 2007, enquanto com outros veículos a alta foi de 11%. Até agosto deste ano, 708 acidentes aconteceram com 15 mortos.
Os motoristas se surpreendem com a velocidade das motos.
– Eles são imprevisíveis e damos passagem para evitar problemas. Afinal, o estrago é grande quando uma moto bate em um ônibus – diz Roberto de Jesus, de 58 anos, motorista da Viação Cometa.
Para fugir da polícia e escapar de multas, eles fraudam as placas.
– O que acontece muitas vezes é fraude nas placas, que costumam ser adulteradas ou viradas para cima. Porém, quando os pegamos assim, a multa é ainda maior – diz o tenente Robinson Pomilio, da Polícia Rodoviária de São Paulo.
Parar os motociclistas na estrada parece não ser a melhor opção para a polícia.
– A abordagem no meio da estrada é tão perigosa que é melhor não fazer. Seria como colocar fogo no apartamento para tentar matar a barata. A bem da verdade, a nossa viatura não conseguiria acompanhá-los – reconhece o tenente.
A polícia tem motos com no máximo 750 cilindradas.
A única forma encontrada pelas autoridades para coibir os pilotos é fazer operações especiais.
– Eles são parados em pedágios, porque estão em velocidade baixa. No dia-a-dia, quando não tem operação, não paramos – diz o policial.
As peripécias dos pilotos já atingiram até a internet, com vídeos de manobras disponíveis no site You Tube.
– Sabemos dos vídeos e recebemos denúncias. Tentamos coibir, mas é um trabalho de formiga – diz o policial.