O motorista Rosinei Ferrari, que dirigia o caminhão envolvido no segundo acidente na seqüência de colisões ocorrida no dia 9 de outubro na BR-282, disse não ter conhecimento de problemas nos freios em depoimento prestado nesta segunda-feira (22).
Ele foi ouvido por delegados das comarcas catarinenses de Maravilha e Descanso no Hospital São José, onde continua internado devido a uma lesão nas pernas.
Os acidentes ocorreram na BR-282 na terça-feira (9). Na seqüência de colisões, 27 pessoas morreram e cerca de 90 ficaram feridas. O caminhão dirigido por Ferrari atropelou 20 pessoas que acompanhavam o resgate das vítimas da primeira batida, entre um ônibus e uma carreta.
Entenda a seqüência de acidentes
O depoimento começou no fim da manhã e terminou por volta das 14h de ontem. De acordo com o delegado-titular de Descanso, Rudinei Charão Teixeira, responsável pelo caso, Ferrari disse ter parado em uma oficina mecânica em Campanema (PR), enquanto viajava de Cascavel (PR) com destino a Caxias do Sul (RS), para verificar um problema no radiador.
“Ele disse que parou em Campanema para corrigir um problema no radiador, que estava com superaquecimento, mas em momento nenhum percebeu problema nos freios”, afirmou Teixeira.
“Sobre o acidente, ele disse que seguia no sentido Maravilha com velocidade de 70 km/h, quando dois veículos no sentido contrário deram sinal de luz e ele pensou se tratar de uma barreira. Depois uma ambulância o ultrapassou e ele percebeu se tratar de um acidente.”
De acordo com o delegado, Ferrari disse ter iniciado o processo de frenagem nesse momento, quando já avistava os veículos e pessoas ao redor do primeiro acidente, a 500 metros do local onde estava.
“Ele contou que já estava freando, próximo à fila, quando acendeu uma luz vermelha no painel do caminhão, indicativa de falta de ar no sistema. Ele teria continuado a pisar no freio, mas não conseguiu controlar”, afirmou Teixeira.
Para não colidir nos veículos parados, de acordo com o depoimento do motorista, ele pensou em jogar no barranco, do lado esquerdo da pista, mas havia muitas pessoas no local. Sem ter para onde direcionar o caminhão e sem controle, ele teria começado a jogar luz sobre as pessoas e a buzinar para que saíssem da frente.
“Cheguei a questioná-lo sobre o fato de as mangueiras do sistema de freios estarem isoladas, mas ele disse que desconhecia esse fato até ouvir declarações do perito pela televisão”, disse o delegado.
Ferrari deve receber alta ainda nesta semana. Segundo a polícia, ele será preso assim que deixar o hospital.
Julgamento
No início da noite de sexta-feira (19), o juiz Fernando Steck de Souza, da comarca de Descanso, onde o caso foi registrado, negou o pedido de liberdade provisória protocolado pela defesa do motorista.
Entre os principais argumentos do juiz estão a repercussão nacional do caso, os indícios de materialidade e o fato de o motorista pertencer a outra comarca (a de Cascavel).
Segundo a advogada Solange da Silva Machado, que representa o motorista e a transportadora Turatto & Turatto, dona do veículo envolvido no acidente, a defesa entrará com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça nos próximos dias.
Na decisão, o juiz acatou o pedido do Ministério Público para que Ferrari seja transferido para um presídio de segurança longe da comarca para evitar o “clamor popular”.
Os delegados ganharam prazo de mais 20 dias, a partir de sexta-feira, para concluir o inquérito. Eles vão ouvir outras testemunhas nos próximos dias para ver se confirmam as declarações do motorista. Das 27 mortes ocorridas naquela noite, 16 foram atribuídas ao segundo acidente.