Motoristas que utilizam o desvio do pedágio na rodovia BR-369, que liga Campo Mourão a Mamborê, denunciaram à Tribuna que policiais rodoviários federais estão lhes obrigando a retornarem ao pedágio para pagarem a tarifa. A denúncia chegou ao conhecimento da reportagem na tarde de ontem.
O trecho que compreende o desvio é de cerca de seis quilômetros em estrada de terra e cercado por propriedades rurais. Um proprietário rural que preferiu não se identificar revela que um policial o abordou e pediu os documentos do carro e habilitação. Segundo o agricultor, o patrulheiro avisou que não podia desviar do pedágio e o obrigou a retornar e pagar a tarifa.
“O policial me abordou de maneira agressiva, veio com muito ímpeto cheguei a mostrar o mapa de localização e documentos da minha propriedade e expliquei que sempre passava por ali”, comenta. “Ele chegou a ver o mapa e ofereci para levá-lo à minha fazenda, mas não teve acordo me disse que se não pagasse o pedágio por ali eu não passava”, denuncia.
O produtor comenta que a ação não tem sentido. Ele revela que seus documentos só foram devolvidos quando apresentou o comprovante de pagamento da tarifa ao policial. “O que me aconteceu foi uma situação muito constrangedora”, reclama.
Outro que passou por uma situação parecida a do produtor rural foi o publicitário Rodrigo Ceccom. Ele também foi obrigado a retornar e pagar o pedágio para continuar viagem. O publicitário explica que vinha para Campo Mourão quando foi abordado pelos policiais. Conforme ele, um dos patrulheiros chegou a perguntá-lo se estaria desviando do pedágio. “Respondi ao policial que sim”, lembra.
Ceccom disse que teve seus documentos recolhidos e só os teve de volta quando comprovou o pagamento. “Não tive chance, o policial me disse que eu teria que retornar e pagar”, reforça. Ceccom comenta que foi ameaçado de ser multado em 580 ufirs caso não pagasse a tarifa.
O publicitário revela que no momento que retornou a praça de pedágio chegou a perguntar para o cobrador porque a polícia estava fazendo tal fiscalização. “O rapaz do pedágio me disse que não sabia o que estava acontecendo”, informa. “Mas com certeza tem alguma coisa acontecendo sim a polícia não pode interferir no desvio do pedágio nunca vi isso”, desabafa.
No momento em que foi abordado, informa Ceccom, tinham vários veículos parados. “Até pensei em tirar uma fotografia, mas na hora fiquei com raiva.” O publicitário diz que sempre faz o trajeto do desvio porque tem alguns clientes em Campo Mourão. “Se for pagar o pedágio toda vez que vou para Campo Mourão pesaria muito”, justifica.
Ceccom comenta que ficou sabendo do caso de um homem que não tinha dinheiro para pagar o pedágio e teve de desviar, mas foi abordado pelos policiais e obrigado a emprestar dinheiro para pagar a tarifa. “Imagine ter que emprestar dinheiro de uma pessoa que você nem conhece para pagar pedágio, é humilhação”, critica.
De acordo com o publicitário no dia em que foi abordado, três policiais faziam o bloqueio no desvio. Ele comenta que neste dia um dos patrulheiros chegou a dizer que não aplicaria multa, mas que se fosse pego outra vez iria ser multado.
Quem também passou pela mesma situação foi o médico veterinário de uma multinacional. Ele preferiu não se identificar por questões éticas com a empresa em que trabalha. O veterinário comenta que chegou a ser multado porque estava desviando do pedágio.
“Eu estava visitando alguns clientes que tenho naquela região a hora que eles me mandaram parar já tinha uns quatro ou cinco carros também parados”, diz. “Um policial veio com a prancheta anotando a carteira e documento do meu carro como numa blitz normal, mas na hora que ele terminou a anotação só me disse que estava sendo multado.”
O médico veterinário comenta que explicou ao policial que a empresa em que trabalha paga o pedágio. “Peguei os comprovantes que guardo mostrei a ele e disse que estava errado e que não podia me multar”, observa.
De acordo com o veterinário, o estranho foi que o policial chegou a dizer que a multa já estava pronta e disse que seria acima de quinhentos reais. “Eu pedi o comprovante da multa e ele não me deu acho que nem lançou a multa”. Conforme ele, a única coisa dita pelo policial foi que estava sendo multado por estar desviando o pedágio. “Ele me disse que podia recorrer assim que a multa chegasse e é o que vou fazer”, afirma. O ocorrido, segundo o veterinário foi há cerca de duas semanas por volta das 17h30.
Adjunto da PRF afirma que caso será investigado
O adjunto da Polícia Rodoviária Federal do posto de Campo Mourão, Luiz Roberto Karpinski, diz desconhecer o ocorrido. Ele pondera que os policiais não têm ordem para fiscalizar o desvio do pedágio e que para investigar o caso necessita de denúncia formalizada.
“Por enquanto é uma denúncia que desconheço. Temos que ter denuncia formal e não posso generalizar todos os policiais. Preciso identificá-lo, saber quando aconteceu e em que dia para que possamos apurar o fato”, explica.
O adjunto revela que não houve nenhuma determinação para que os policiais agissem de tal maneira e que se aconteceu, o fato pode ter sido abuso de algum policial. “Vamos ouvir os policiais para saber o que realmente está acontecendo.” Ele orienta as pessoas que sofreram este tipo de abordagem para que procurem o posto de polícia e relatem o ocorrido. “Só assim podemos fazer a investigação.”
Conforme Karpinski, sua permanência no posto de polícia é das 8 às 16 horas, ele garante que neste período este tipo de ação não foi feita. “Eu acho que o direito de ir e vir tem que ser mantido este procedimento não é da polícia e ninguém foi orientado a fazer nem por mim nem pelo pessoal da delegacia de Cascavel”, informa.
Karpinski diz que alguns usuários da rodovia estão ‘furando’ o pedágio e as placas estão sendo anotadas. “Nestes casos estamos fiscalizando está previsto no código que quem ‘fura’ o pedágio paga multa”, diz.
O adjunto lembra que este tipo de estrada vicinal é usada por contrabandistas para desviar cargas do posto e com isso pode ocorrer de algumas vezes policiais estarem fiscalizando a estrada neste sentido. “Pode ocorrer também do veículo evadir e entrar na estrada rural nada impede do policial fazer seu trabalho em caso de suspeita de veículos”, frisa.
A reportagem entrou em contato com o chefe substituto da delegacia da PRF de Cascavel, inspetor Seco. Ele informou que houve a denúncia de uma pessoa já há algum tempo, mas que não foi formalizada.
“Quem for autuado indevidamente ou achar que alguma atitude não está correta nós temos corregedoria. O que não pode acontecer é fazer denúncia que não procede e informações formalizadas eu não tenho nada”, lembra.
Viapar desconhece caso e nega envolvimento
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Viapar, empresa responsável pela administração da rodovia. A informação repassada é de que a empresa desconhece o fato e não tem poder para prender ou autuar motoristas. Conforme a assessoria, a empresa é responsável apenas pela via concessionada.
“O desvio está ali. Somos responsáveis apenas pela via concessionada qualquer outro acesso não é de nossa responsabilidade. A Viapar não tem poder de polícia se a polícia está fazendo esta fiscalização não é de nosso conhecimento”, informou ao jornal.