A população foi surpreendida na manhã de ontem por uma mobilização do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra). Um grupo de aproximadamente 100 manifestantes organizou um bloqueio na BR-174 causando revolta em motoristas e passageiros que ficaram impossibilitados de trafegar pela rodovia.

Segundo informações de pessoas que estavam no local, a pista foi interditada a partir das quatro horas da manhã, na altura do igarapé Água Boa. Os integrantes do MST cortaram galhos de caimbé e incendiaram formando a barreira.

O produtor rural Jânio Barbosa estava indignado com a situação. “Vou perder toda a minha produção de leite. Não concordo com esse tipo de manifestação. Eles têm sim o direito de reclamar, mas sem prejudicar o restante da população. Eu sobrevivo do que produzo. Se ficar mais tempo aqui, vou perder toda a minha produção”, afirmou.

Agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) conseguiram acalmar os ânimos dos manifestantes e dos que reclamavam do seu direito de ir e vir. A situação ficou tensa quando algumas pessoas tomaram a iniciativa de remover os galhos colocados na pista pelos manifestantes.

“Se a gente não fizesse esse tipo de pressão, a polícia não ia se mobilizar. Não sou contra a manifestação do MST. Eles têm sim o direito de fazerem a sua reivindicação, mas precisam cumprir alguns cuidados como, por exemplo, comunicar previamente a população”, disse um morador de Caracaraí, que preferiu não se identificar.

Jovens que estavam em uma excursão para Manaus reclamaram pela demora na liberação da pista. “A gente mora em Boa Vista e está em excursão para Manaus. Desde as 4h da manhã estamos parados. Toda hora ouvimos uma promessa nova. Já avisaram que iam liberar a pista às 7h30 e nada. Eu não concordo com esse tipo de manifestação, eles deveriam fazer isso em outro lugar”, afirmou a estudante Luana Pereira, 20.

O coordenador do MST, Ezequias David da Silva, lembrou que a pauta de reivindicação do movimento é antiga e inclui medidas para a melhoria da qualidade de vida do homem do campo, como a regularização das famílias nos assentamentos, ampliação das linhas de crédito, a questão da habitação e as estradas de acesso às comunidades rurais.

Quanto à reação da comunidade, Ezequias informou que o MST buscou diversas formas de sensibilizar a comunidade e, como não houve um posicionamento do Incra nem do governo, o grupo decidiu bloquear a BR-174.

“Este ano, o Incra não fez nada. Não conseguimos liberar nenhuma linha de crédito nova e isso causa uma revolta no homem do campo. Ouvimos as mesmas promessas de sempre, mas nada de concreto acontece”, disse.

Após três tentativas de negociação, por volta das 8h, um lado da pista foi liberado, permitindo o tráfego de veículos. Os integrantes do MST se dirigiram à sede da Superintendência do Incra em Roraima. Eles tentaram falar com o superintendente Titonho Beserra. A reunião foi marcada para as 14h e terminou após as 17h, com um acordo firmado entre o Incra e o MST.