De maio a setembro deste ano, em relação ao mesmo período de 2007, houve redução no total de vítimas de acidentes em todos os meses, graças, principalmente, à maior fiscalização
A violência no trânsito do Distrito Federal está caindo. O número de mortes em acidentes apresentou redução nos últimos cinco meses consecutivamente. Isso não acontecia havia 11 anos no período entre maio e setembro. O balanço do Departamento de Trânsito (Detran) revela que, no mês passado, 36 pessoas perderam a vida nas ruas do DF. No mesmo período de 2007, houve 55 mortes, queda de 34,54%.
Coincidência ou não, a diminuição na quantidade de vítimas foi maior no período de vigência da Lei Federal nº 11.705/08, a lei seca. Em vigor desde 20 de junho, a legislação proíbe aos motoristas a ingestão de álcool, com punições severas para os infratores. Em maio deste ano, antes da lei seca, o percentual de queda na comparação com maio de 2007 ficou em 5%. E em junho, mais que o dobro: 10,9% de redução das mortes em relação a junho do ano passado (veja quadro).
Os dados são vistos como uma vitória pelas autoridades de trânsito. Na avaliação do diretor-geral do Detran, Jair Tedeschi, a queda nos números de mortes e de acidentes violentos são um reflexo do aumento da fiscalização e de mais campanhas educativas. A lei seca, segundo Tedeschi, é outro fator positivo: “A tolerância zero ao álcool, as punições mais severas e a divulgação maciça por parte da mídia provocaram um eco muito maior. Toda a nação tomou conhecimento”.
Para quem perdeu alguém nas ruas, os dados representam uma esperança de que menos famílias passarão pelo mesmo sofrimento. Esse é o sentimento da assistente comercial Ludimila Nicolino, 24 anos. Há um ano e seis meses, a “amiga e irmã de criação” Paloma Rodrigues da Costa, 27 anos, morreu em um acidente de trânsito. A colisão foi provocada por um motorista alcoolizado, que trafegava em alta velocidade na contramão da via. Ele também morreu. Assim como uma tia e uma prima de Paloma que estavam no mesmo carro da jovem. “Eu conheço muita gente que diz ser capaz de beber e dirigir. É possível que elas cheguem em casa. Mas é possível também que, no meio do caminho, elas matem um ser humano. E deixem a casa de alguém mais vazia, assim como a nossa casa ficou com a morte da Paloma”, declarou.
As estatísticas apontam queda também na quantidade de acidentes fatais. Foram 30 em setembro deste ano contra 53 em setembro de 2007, redução de 43,39% no período. O percentual de redução também é maior desde a lei seca.
Punições
Na esfera administrativa, quem for pego no teste do bafômetro com 0,1 ou 0,2 miligrama de álcool por litro de ar expelido dos pulmões paga multa de R$ 957. O Detran abre um processo de suspensão do direito de dirigir, que pode ser por até um ano. As punições também ocorrem na esfera criminal. O motorista flagrado no teste com valores acima de 0,3 miligrama de álcool por litro de ar é levado à delegacia, onde abre-se um inquérito por crime de dirigir alcoolizado. Para não ficar atrás das grades, ele terá de pagar fiança que varia entre R$ 650e R$ 2 mil. Se condenada, a pessoa pode ficar presa por um período de seis meses a três anos.
Na avaliação do professor da Universidade de Brasília (UnB) David Duarte, presidente do Instituto de Segurança no Trânsito, as estatísticas refletem “o efeito colateral da lei seca”, que completou ontem quatro meses de vigência. Segundo ele, mesmo que a intolerância à combinação álcool e volante não seja a única responsável pela redução das mortes e de acidentes com mortes, o Detran e o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar intensificaram a fiscalização. “A gente vê muito claramente que alguma coisa aconteceu de maio para cá. E, muito provavelmente, foi a postura dos órgãos de trânsito que melhoraram a fiscalização”, observou.
Mestre em engenharia de transportes, José Lelis de Souza também credita a redução das mortes no trânsito ao aumento das campanhas educativas e da fiscalização por conta da lei seca. “Reduzir o teor alcoólico não diminuiu os acidentes. Se a lei anterior tivesse sido fiscalizada como a atual provavelmente o resultado seria o mesmo”, completou José Lelis.