NORMAL: Conforme previsto pelo Estradas.com.br, muito antes das manifestações de algumas entidades que representam caminhoneiros e transportadoras, o movimento organizado por alguns grupos que dizem liderar caminhoneiros fracassou. Foto: Aderlei de Souza

Conforme previsto pelo Estradas.com.br em 13 de janeiro, muito antes das manifestações de algumas entidades que representam caminhoneiros e transportadoras, o movimento organizado por alguns grupos que dizem liderar caminhoneiros fracassou.

Informações obtidas pelo Portal Estradas indicavam desde cedo na manhã desta segunda-feira (1º/2) que no geral as rodovias federais e estaduais estavam sem nenhuma manifestação, mesmo nos pontos tradicionais de concentração de piquetes. No Rio Grande do Sul, onde costumam ser mais fortes esses movimentos, as rodovias registraram fluxo menor mas sem nenhuma retenção.

No Paraná, ocorreu o mesmo, assim como em Minas Gerais. Já em São Paulo, na manhã desta segunda-feira, teve uma manifestação na Castello Branco (SP-280) com faixas contra o governador Dória. Grupos políticos ligados ao governo federal estavam infiltrados no movimento, assim como outros ligados à CUT. Os “caminhoneiros” envolvidos buscavam visibilidade na mídia para dar impressão que o movimento tinha força.

Conforme o Estradas apurou, ao longo do dia, o tráfego nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Bahia, Sergipe, Paraná e Santa Catarina continuava fluindo sem pontos de lentidão em decorrência da greve, tanto nas rodovias federais como estaduais. Boletins da PRF confirmavam essa condição nas rodovias federais. Até imagens de helicóptero foram usadas para garantir que estava tudo normal.

O Ministro da Infraestrutura disse no final do dia que o fracasso da paralisação era pelo uso político do movimento.

Isto sempre ocorreu, inclusive nas paralisações apoiadas pelo então candidato Bolsonaro em 2018 e 2016. Os vídeos de Bolsonaro apoiando as paralisações foram usados por grupos que defendem o movimento para mostrar a contradição e sensibilizar os autônomos e transportadores.

Os caminhoneiros estão cientes do tamanho da crise que o país atravessa e majoritariamente sempre foram contra as paralisações do passado. A adesão era devido a intimidação e violência de piquetes financiados por terceiros.

Grupos políticos, ora a esquerda, ora de direita, usaram os movimentos para tumultuar as rodovias. Muitos dos que estavam nos piquetes ameaçando e intimidando caminhoneiros, sequer tinham habilitação para dirigir caminhões. Eram capangas contratados.

Contavam ainda com apoio de alguns empresários do setor produtivo e maus transportadores. Naturalmente, temerosos de agressões e danos materiais, muitos caminhoneiros ficavam parados e não resistiam. Assim como donos de transportadoras mantinham seus caminhões parados ou orientavam seus motoristas a não reagir.

Espera-se que a categoria de caminhoneiros autônomos e também das transportadoras e caminhoneiros empregados entendam que essas paralisações nunca funcionaram. Não há dúvida que se trata de um setor explorado no Brasil, mas o aumento do frete passa por reduções da jornada, tempo de direção e controle de velocidade e peso. Temas que jamais são abordados nesses movimentos. As propostas são justamente ao contrário.

Quando o caminhoneiro aceita viajar horas sem dormir e parar, andando acima do limite de velocidade para chegar antes e ganhar uma criminosa bonificação, muitas vezes com mais peso do que o veículo suporta, está contribuindo para aumentar a oferta de mão de obra e frete e reduzir o valor do serviço de transporte.

Além disso, fazem concorrência desleal com os que não aceitam essas condições e facilitam as negociações para quem explora a categoria. Sendo que ainda colocam suas vidas e a de terceiros em risco; quando não ficam dependentes de drogas que usam para suportar as longas jornadas.

A pauta que está sempre presente é: redução do diesel. É inviável e todos sabem disso. Por outro lado, é preciso separar o custo do diesel do valor do frete, assim como já se faz com o pedágio. O serviço é de transporte e não de venda de combustível.

É bom que a sociedade fique atenta à questão do diesel e entenda porque está sempre na pauta dos movimentos. A verdade é que muitos caminhoneiros autônomos caem nessa armadilha. Ao invés de cobrar pelo serviço do frete, ficam discutindo o custo do diesel. E tem muita gente do agronegócio que utiliza diesel intensamente na sua produção e por isso utilizam os movimentos de caminhoneiros para pressionar os governos exigindo redução do custo do combustível. É a chamada mão de gato que está por trás desses movimentos.

Porque os movimentos de caminhoneiros nunca lutam por melhores condições de trabalho, redução de jornada, aumento de salário, diária mínima para as despesas de viagem? Onde estão os interesses legítimos dos caminhoneiros empregados?

Já a falta dos pontos de parada é outro mito. O Brasil é um dos países que mais têm pontos de parada. O que acontece é que os governos anteriores e o atual, assumiram uma responsabilidade que não é sua de oferecer aos caminhoneiros locais onde parar com segurança, sem pagar nada.

Por trás dessa exigência estavam vários grupos, inclusive transportadoras que abastecem seus caminhões e dos agregados, inclusive sonegando impostos. Como os caminhoneiros vão precisar dormir na estrada mas não vão abastecer, jogam todo o custo nos donos dos postos que passam a ser os “vilões” das estradas.

Assim como muitos caminhoneiros abastecem em postos que não tem nenhuma estrutura por causa do preço e depois querem parar para dormir com segurança e usar banheiros e chuveiros nos pontos grandes mas sem abastecer. Gerando só despesa.

Um pátio para estacionamento de 100 carretas custa mais de R$ 10 milhões. Acreditar que um posto terá condições de manter uma área dessas sem receita de combustível, oferecer banheiro e chuveiro, Wi-fi e segurança, tudo grátis é contrariar a lógica de mercado que o próprio ministro da Infraestrutura tenta defender quando fala da tabela única do frete.

Aliás, o ministro está alardeando que incluiu nos novos contratos de concessão a obrigação de oferecer o Pontos de Parada e Descanso, mas omite que as concessionárias vão transferir esse custo para o pedágio e ainda terão condições de fazer concorrência desleal com os pontos de parada da iniciativa privada que não tem receita compulsória como o pedágio. Por que o Ministério da Infraestrutura não constrói pontos de parada para os caminhoneiros nas rodovias que não tem pedágio? A razão é simples, jogam para toda sociedade esse custo através do pedágio e ainda querem dizer que estão ajudando os caminhoneiros.

Quando o valor do frete incluir uma diária mínima que permita ao caminhoneiro pagar e escolher onde parar, conforme as condições e serviços de cada ponto, estaremos estimulando o crescimento dessas redes de pontos de parada, que são essenciais para a logística do país e dignidade dos profissionais da estrada.

O Estradas encerra sua cobertura sobre o movimento. Ficou claro que supostas lideranças da categoria não representam de fato o interesse dos caminhoneiros e muito menos da sociedade.

(*) Matéria atualizada às 7h42 de 2/2/21

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