Desde o final de 2007, os moradores de cidades como Extremoz ou Ceará-Mirim que precisem ir para as Rocas ou Ribeira, têm de descer e subir centenas de metros na avenida Rio Branco para pegar seus ônibus. Na mesma área, quem mora em Nova Parnamirim há duas semanas convive com a incerteza de saber, entre três pontos diferentes, onde finalmente estão parando os coletivos no largo da antiga rodoviária. Esses são apenas dois exemplos dos prejuízos causados aos cidadãos pela falta de integração entre o sistema urbano de Natal e os dos demais municípios da Região Metropolitana.

A disputa para definir onde os ônibus “intermunicipais” e “interurbanos” podem parar dentro da capital já chegou à Justiça, porém o grande desafio do próximo prefeito de Natal será buscar uma solução através de outro meio: a implementação do Plano de Mobilidade Urbana, previsto para ser concluído até o final deste ano, aliado ao Plano Diretor de Transporte da Região Metropolitana, que deverá ser apresentado até o final deste mês.

Esse último estudo irá prever formas de integração dos sistemas de transportes públicos das cidades da Grande Natal, contudo terá de ser respaldado pela Prefeitura da cidade, uma vez que uma das principais modificações previstas é a transformação da atual gestão, que é municipalizada, em uma gestão integrada. “É preciso haver essa integração institucional. O sucesso do plano passa por uma gestão metropolitana”, ressalta a consultora Adriana Torquato.

Ela coordenou o estudo que serve de base para a elaboração do Plano Diretor de Transportes da Região Metropolitana e defende que não se pode mais pensar nenhum sistema municipal de forma isolada. “É preciso ter uma visão do todo, para que as linhas possam ter um traçado mais racional e a população inteira consiga se deslocar adequadamente”, afirma. Isso passa por uma integração entre as diversas opções de transporte, para que ninguém precise esperar horas pelo próximo veículo, depois de descer do primeiro, por exemplo.

Esse avanço depende diretamente de uma reorganização dos atuais sistemas, que trabalham de forma isolada. “Serão necessárias novas licitações, que já prevejam isso e tragam essas regras de forma clara para as empresas. Mas já temos sinais positivos, como o fato de que a licitação dos ônibus em Natal está para ser feita em 2010”, aponta.

Adriana Torquato também considera imprescindível a integração tarifária, o que não significa que os trajetos tenham todos os mesmos preços, mas sim o mesmo sistema de cobrança. “Identificamos nos estudos que há um grande fluxo de deslocamento internamente na zona Norte de Natal. Quem precisa se deslocar dentro dessa região não tem de pagar a mesma tarifa de alguém que necessite ir, por exemplo, de Ceará-Mirim a Macaíba, mas é importante que este também tenha condições de realizar todo esse trajeto de forma integrada”, conclui.

Trânsito não absorve fluxo extra de veículos

Para a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito Urbano (STTU), os grandes problemas causados pelo tráfego de ônibus “intermunicipais” dentro de Natal dizem respeito à incapacidade do trânsito da capital absorver esse fluxo extra, em áreas como ao lado do Shopping Midway e no largo do Teatro Alberto Maranhão, e também ao fato de que esses coletivos terminam por captar passageiros que em tese seriam das linhas urbanas, o que fragiliza o sistema municipal.

Ainda assim, a expectativa na secretaria é que a integração ocorra da melhor forma possível. “No Plano de Mobilidade Urbana certamente essa integração estará prevista”, afirma a secretária adjunta de Transportes, Lúcia Rejane. Parte das obras que vêm sendo desenvolvidas na capital, aliás, já prevêem esse tipo de integração, uma vez que o Pró-transporte, programa que irá aplicar R$ 72 milhões na melhoria do tráfego na zona Norte de Natal, inclui entre suas metas a ampliação da estação de transferência das Mangueiras (às margens da BR-101 Norte), para que atenda também ônibus vindos de outros municípios.

Lúcia Rejane lembra que o impasse com os “intermunicipais” ocorre porque, enquanto a redução no número de passageiros nas linhas urbanas prejudica o sistema local, já que uma demanda maior permitiria inclusive a redução da tarifa, o mesmo fato não atrapalha os empresários, pois as mesmas empresas que operam as linhas “intermunicipais”, como a Eucaliptos e a Nova Parnamirim, também operam linhas urbanas. “Para eles tanto faz, pois o empresário não deixa de receber aquela passagem. Mas para nós é ruim, porque aquele passageiro não vai entrar no cálculo da nossa tarifa urbana”, relata.

O chefe do Departamento de Estudos e Projetos da STTU, Flávio Nóbrega, destaca que nenhuma linha de ônibus é pensada levando-se em conta apenas a demanda de origem, uma vez que todas trabalham captando passageiros também no trajeto. E no caso das “intermunicipais”, esse trajeto é quase inteiramente dentro de Natal. Na tentativa de evitar essa perda para as linhas urbanas, a STTU propôs no início do ano que os ônibus viessem apenas até as proximidades do Natal Shopping e de lá os ocupantes fizessem a conexão com as linhas urbanas, através das estações de transferência.

A proposta foi rejeitada pela população, que não aceitou abrir mão do direito de se deslocar no antigo itinerário, que abrangia grande parte do centro de Natal, e também foi descartada pelos empresários, que temiam prejuízos decorrentes da limitação das rotas. Ainda assim, a STTU promoveu modificações nos trajetos, impedindo a entrada dos “interurbanos” na Ribeira, após a conclusão das obras do novo largo do Teatro Alberto Maranhão, fazendo-os voltar da Rio Branco.

A medida segue valendo, mas a que contemplava os “intermunicipais”, impedindo que parassem nos pontos por trás da antiga rodoviária, foi derrubada na Justiça. Contudo, os passageiros dessas linhas ainda convivem com a incerteza sobre o local exato das paradas, já que alguns motoristas seguem pela Duque de Caxias e outros pela lateral do teatro.