A Polícia Rodoviária Federal (PRF) reforça a fiscalização contra o transporte clandestino de trabalhadores rurais, recrutados no Norte de Minas e no Nordeste e levados para o corte de cana e colheita de café no interior de São Paulo e no Triângulo Mineiro. O combate é feito na Operação Viagem legal II, iniciada na segunda-feira. De acordo com a PRF, 90% do transporte de bóias-frias é feito de forma irregular.
“Minas é a principal rota e esta situação ocorre não por falta de fiscalização, mas devido à posição geográfica. Os ônibus que saem do Nordeste com destino a São Paulo necessariamente precisam passar pelo estado”, afirmou, quarta-feira, o presidente da Comissão Nacional de Fiscalização de Transporte de Passageiros da PRF, inspetor Antônio Carlos Ruvenal Farias, coordenador da operação. A operação visa, ainda, o combate ao trabalho-escravo nas lavouras, denunciado pelo Estado de Minas no domingo.
No caminho dos locais onde são recrutados até as usinas, os trabalhadores são submetidos a todo tipo de sofrimento, como ocorreu com 47 pessoas, que saíram de Rio Pardo de Minas e estavam sendo transportadas num ônibus clandestino para a colheita de café em São Paulo. Para fugir dos fiscalização, o motorista do ônibus, Sínval Santos, levou o veículo para o meio do mato, no município de Capitão Enéas, na noite de segunda-feira. Ele fugiu e deixou o ônibus com os passageiros no local. Somente na tarde de terça-feira, os trabalhadores foram encontrados pelos patrulheiros, avisados por moradores de Quem-Quem, distrito de Capitão Enéas.
Segundo o inspetor da Polícia Rodoviária em Montes Claros, os trabalhadores foram encontrados numa estrada vicinal com fome e sede, sem saber para onde ir. No ônibus também viajam algumas crianças. Além de não possuir autorização para rodar, o veículo não tem banheiro, faltam cintos de segurança e os pneus estão carecas.
De acordo com ocorrência, Sinval Santos dirigia um dos quatro ônibus em péssimo estado apreendidos em Montes Claros segunda-feira à noite. Mas, quando o comboio seguia para o posto da PRF na BR-135, Santos desviou do caminho e seguiu em direção a uma estrada vicinal em Capitão Enéas. Na tarde de terça-feira, o motorista reapareceu e foi preso. Os bóias-frias puderam seguir viagem em outro ônibus, de uma empresa de linha. O veículo clandestino ficou retido no posto.
De acordo com o inspetor Antônio Carlos Ruvenal Farias, de segunda-feira até a tarde de quarta-feira foram apreendidos no território mineiro 23 ônibus sem autorização para fazer o transporte de trabalhadores rurais. Ocorreram 12 apreensões em Patos de Minas e 11 foram apreendidos no Norte de Minas, onde a fiscalização foi intensificada a partir de quarta-feira. “A região de Montes Claros, além de ser o segundo entroncamento rodoviário do país, tem uma grande circulação de ônibus clandestinos pelo fato de contar com uma diversidade de estradas vicinais, usadas para driblar a fiscalização”, afirmou o inspetor Farias.
Ele afirmou que os responsáveis pelo transporte clandestino conta com uma rede de informantes na região, que sempre revelam onde está sendo feita a fiscalização. A PRF realiza investigação com o intuito de localizar e prender essas pessoas, disse.