A família do agricultor Walter Willibald Friedrich, 76 anos, olha todos os dias pela janela da frente de casa e espera que, naquela semana, seu maior desejo finalmente seja atendido. Há 37 anos, em 1970, o terreno dos Friedrich foi cortado ao meio com a construção da então RS–240, rodovia de ligação entre Santa Cruz do Sul e Venâncio Aires.
Hoje, a estrada já mudou de nome pelo menos duas vezes, passando a RST–287 e depois a RSC–287. Mas a indenização pelo uso das terras da família nunca chegou. Em 1989, Friedrich e a esposa Leonida solicitaram pela primeira vez que o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) se manifestasse sobre a questão. Mas foi só há dois anos que veio a primeira resposta concreta, com a assinatura do termo de compromisso de compra e venda da área.
Os 8,7 mil metros quadrados foram avaliados pelo próprio Daer por R$ 81,5 mil. Mas a história ficou por aí até o mês passado, quando o advogado dos Friedrich entregou uma notificação à autarquia solicitando satisfações sobre a concretização do negócio. Nesta segunda-feira, veio a resposta.
A nota, enviada pela procuradora judicial assistente do Daer, Jane Teresinha Pahim, informa que a compra do terreno já foi aprovada. Agora, falta a liberação do dinheiro pela Secretaria Estadual da Fazenda. “Está tudo acertado. O problema é que não há dinheiro disponível”, explica o advogado Roberto Tailor Bandeira.
MANIFESTAÇÃO
O ofício do Daer chegou às mãos do advogado da família no mesmo dia em que o genro de Walter Friedrich, Laurindo Winck, realizou uma manifestação condenando o governo do Estado pela demora no encaminhamento das negociações. Ele, que é procurador do sogro, fixou uma faixa na frente da propriedade, às margens da 287, com a inscrição “Não vendam nada ao Estado porque é caloteiro. Só pagamento adiantado ou a dinheiro”.
Não demorou muito até que chegassem funcionários da Santa Cruz Rodovias, responsável pelo trecho, junto com patrulheiros do Comando Rodoviário da Brigada Militar. Winck foi obrigado a tirar a faixa, sob a alegação de que o material não poderia ser colocado lá sem autorização, já que se trataria de área de domínio do Daer. “Estava a dois metros do acostamento, dentro do pátio do meu sogro. A área ainda não foi comprada, então continua sendo dele”, afirma. “Se é um Estado democrático, então tenho direito de dizer que são caloteiros.”
Winck diz que a família sempre tentou fazer tudo de forma amigável com o Daer. “A gente não queria entrar na Justiça porque sabíamos que geralmente demora muito.” O valor da indenização, segundo ele, será investido na saúde do sogro e da sogra, ambos já com mais de 70 anos. “Neste tempo todo nós criamos 11 filhos e nunca recebemos nenhum centavo deste dinheiro”, lamenta dona Leonida Friedrich.