Menos de dois minutos. É esse o tempo que um pedestre, em um ritmo de caminhada normal, leva para atravessar uma das três novas passarelas construídas sobre a BR-101, entre Natal e Parnamirim. É esse também o tempo que pode fazer a diferença entre a vida e a morte, uma vez que o tráfego de veículos sob as passarelas é intenso e representa um perigo constante a quem se arrisca em meio aos carros.
No entanto, mesmo tendo sido abertas aos pedestres há uma semana, as novas alternativas ainda são negligenciadas por muitos dos que precisam atravessar a rodovia. Em uma hora de observação, a reportagem da TRIBUNA DO NORTE presenciou um total de 15 pessoas passando a pista a poucos metros das passarelas. Sem querer se identificar, eles geralmente alegam “pressa” e “economia de passadas”, mas não levam em consideração que o tempo gasto esperando que os veículos dêem “uma brecha” para a travessia, por vezes alcança mais que o dobro do tempo gasto para passar pelo caminho seguro.
Próximo ao viaduto de Ponta Negra, alguns ainda se utilizam da antiga faixa de pedestres, que foi desativada assim como o semáforo que ficava no local, mas recebem críticas de quem reconhece a importância da nova passarela. “São loucos. A passarela ficou nota 10, porque minhas filhas estudam de manhã aqui e todo dia tinham que atravessar o sinal sozinhas. Eu morria de medo, já que não tinha como vir para passá-las”, revela a autônoma Maria Luiza Queiroz.
Segundo ela, todo dia a ida das garotas à escola, uma de 13 e outra de apenas seis anos de idade, era motivo de apreensão para a família. “Ficava com o coração na mão, mas agora estou mais tranqüila. Era para ter essa passarela há mais tempo, que evitaria muitas mortes que aconteceram”, destaca a mãe, que agora, diante da possibilidade de atravessar as pistas da BR, afirma: “Deus me defenda!”
A consciência da autônoma não é a mesma de todos e os comerciantes que trabalham em uma parada intermunicipal, perto da segunda passarela, construída entre Cidade Satélite e Nova Parnamirim, reconhecem que falta bom senso a muitos pedestres. “De 200 que têm de ir para o outro lado, só uns cinco vão lá pela passarela”, afirma um dos vendedores que preferiu não se identificar. Ele diz já ter utilizado a nova estrutura e não reclama do tempo gasto, uma vez que para passar em meio aos carros se demora ainda mais. “Mas o povo é teimoso”, conclui.
Das três recém inauguradas, essa é a menos utilizada, uma vez que fica a cerca de 100 metros do principal ponto de travessia, localizado entre a parada dos intermunicipais e outro ponto de ônibus, na entrada da avenida Abel Cabral. Pelo lado de Nova Parnamirim, aliás, há ainda um complicador, uma vez que para chegar ao acesso à passarela o pedestre tem de se arriscar na marginal da rodovia, pois o mato toma conta da calçada.
O risco, porém, não pode sequer ser comparado ao de atravessar as pistas. São seis ao todo, sem contar as marginais. No trecho, a velocidade média é alta e obriga os pedestres a passarem correndo, sob a ameaça de tropeçarem e serem atropelados. Já na terceira, próxima ao aeroporto Augusto Severo, o movimento de pedestres sobre a passarela é bem maior que embaixo dela, porém alguns que seguem para uma parada de intermunicipais próximo, no sentido Natal-Parnamirim, não respeitam a própria segurança.
Pedestre alega que quer ganhar tempo
O inspetor da Polícia Rodoviária Federal, Everaldo Morais, considera que “usar a passarela é uma forma civilizada de evitar acidentes.” Ele acredita que mais de 90% dos pedestres já se conscientizaram da importância de utilizar a nova estrutura, porém alguns ainda se arriscam desnecessariamente. “Um ou outro insiste. Eles alegam que as passarelas ficam um pouco longe, mas o que são alguns metros diante da possibilidade de perder a vida, já que atravessar hoje as pistas da BR é algo quase impossível”, avalia.
O adjunto da Comunicação Social da PRF lembra que o tempo gasto nas passarelas chega a ser, geralmente, menor que o perdido em tentar passar em meio aos veículos. “As passarelas foram uma reivindicação da população e houve empenho do poder público em atender esse pedido, cabe agora às pessoas darem sua contrapartida e as utilizarem, pois é uma questão de segurança”, destaca.
Apesar de o Código de Trânsito Brasileiro estipular, em seu artigo 69, que “para cruzar a pista de rolamento o pedestre tomará precauções de segurança, (…) utilizando sempre as faixas ou passagens a ele destinadas sempre que estas existirem numa distância de até cinqüenta metros dele”, não há ainda regulamentação que permita a cobrança da multa, prevista quando do lançamento do CTB, em 1997, e que hoje representaria um valor de R$ 26,00.
Ao mesmo tempo, ao contrário do que imagina grande parte da população, não há previsão legal confirmando que um atropelamento nas proximidades de uma passarela seja tratado como suicídio, porém normalmente durante o processo isso serve como atenuante da culpa do motorista. “Essa idéia de que seria suicídio não está escrito em lugar algum, mas isso é o de menos frente ao risco de as pessoas causarem um prejuízo às suas próprias vidas”, alerta Everaldo Morais.