Nas últimas semanas muitos usuários de rodovias vêm buscando informações junto à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para viagens utilizando a BR 319, mas levantamento do órgão realizado entre os dias 21 de maio e 09 de junho com o objetivo de registrar as condições de tráfego da rodovia que liga Manaus a Porto Velho alerta aos motoristas para evitarem a BR 319.
Construída na década de 70 pelo governo militar, a BR 319 tinha o objetivo de integrar a amazônia. Atualmente, no estado do Amazonas, a rodovia é trafegável até o quilômetro 215. A partir deste ponto, são aproximadamente 420 quilômetros de buracos escondidos, erosões, pontes em más condições, vegetação tomando conta do resto de asfalto e vários atoleiros.
Compete à PRF a fiscalização e o policiamento das rodovias e estradas federais. Na BR 319, há dois postos de fiscalização, um no quilômetro zero em Manaus, o outro no quilômetro 13 no município de Careiro da Várzea. Segundo o Chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização, Inspetor Affonso Neto as fiscalizações na BR-319 são eventuais e esporádicas. “Ficou inviável operacionalmente a manutenção do posto Careiro, devido a constante redução do efetivo da PRF ao longo dos últimos anos” diz o Inspetor.
Além disso, a falta de postos e de estrutura logística dificultam a presença dos agentes. Nessa ação, os policiais envolvidos dormiram nos veículos utilizados e nas casas de moradores. Não há pousadas ou hotéis nas proximidades da rodovia. “A PRF é uma polícia que faz amizade, conhecemos moradores ao longo do trabalho que nos oferecem local para dormir. Alguns até nos convidam para uma pescaria nas férias” afirmou um dos agentes que participou da incursão.
Um dos momentos mais preocupantes da viagem foi quando a equipe fora abordada por uma mãe pedindo socorro para sua garotinha de cinco anos com crise asmática. Elas estavam na comunidade Igapó-açu, município de Borba, onde não havia atendimento médico-hospitalar e nem transporte. Os policiais prestaram socorro encaminhando a menina ao hospital de Careiro Castanho a 113 quilômetros de Manaus.
Isolamento – A comunidade do Igapó-Açu no km 260 é uma das mais isoladas. Nos dias de chuva, formam-se atoleiros intransponíveis que são necessários tratores para retirada dos veículos de moradores da comunidade que tentam se aventurar.
Não há postos de saúde, transporte coletivo e segundo membros da comunidade, por causa do novo mapa de divisão de municípios, as crianças ficaram sem aula por mais de três meses.
Ainda segundo moradores, no local passam vários andarilhos, inclusive estrangeiros. Alguns afirmam que sem saber podem ter hospedado criminosos em suas casas. A PRF orienta aos moradores cuidado com possíveis foragidos da justiça que se aproveitam do isolamento geográfico via terrestre e buscam o Amazonas como refúgio para não cumprir a penalidade de seus crimes. Em 2009, a PRF prendeu 06 pessoas que possuíam mandado de prisão em aberto.
Custos – Duas viaturas da marca Mitsubishi modelo L200 levaram a equipe de policiais na missão do levantamento geo-referencial, em que são levantadas as condições da rodovia e sua ocupação entre Manaus e o município de Humaitá. A PRF realizou a incursão em duas etapas, a primeira entre os dias 21 e 27 de maio e a segunda de 01 a 09 de junho.
Mesmo os veículos sendo robustos e projetados para terrenos acidentados, sofreram danos durante a ação. Incluindo as diárias dos agentes, combustível e a manutenção das viaturas os custos foram de aproximadamente R$ 18 mil.
No percurso, os policiais auxiliaram veículos que estavam atolados na rodovia. Apesar das péssimas condições de tráfego, ainda existem pessoas que arriscam viajar até Porto Velho pela BR 319, inclusive há aventureiros de motocicletas, bicicletas e até mesmo a pé. A PRF alerta aos viajantes do risco de ficarem totalmente isolados caso algum problema surja na viagem.
Risco de morte – Na etapa de trabalho realizada em maio deste ano, a PRF ajudou uma família que se deslocava pela BR 319. Um casal e sua filha saíram da capital amazonense seguindo a pé com destino ao município de Humaitá onde pegariam ônibus para Porto Velho e de lá para Belo Horizonte. Na viagem foram acompanhados por dois andarilhos. Ao serem encontrados pela PRF foi lhes oferecido carona. Os andarilhos pediram para ficar pelo caminho e a família foi deixada em Humaitá pela PRF.
Na volta para Manaus, funcionários de uma empresa responsável pela manutenção da fibra óptica suspeitaram de que um dos andarilhos acompanhantes daquela família estava interessado em assassinar o pai e abusar sexualmente de mãe e filha.
Resgate – Em setembro de 2007, a PRF resgatou oito pessoas que viveram o drama de ficarem atolados na BR 319 sem comida e sem água na viagem de Itajaí (SC) para Manaus.