A procura pelo transporte rodoviário no Sul e no Sudeste do país já cresceu 20%, em decorrência da crise aérea, que teve seu ponto alto com o trágico acidente do avião da TAM, em Congonhas, no mês passado. Com o aumento do movimento de passageiros, principalmente para viagens de até 600 quilômetros, a Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT) também já registrou alta nas queixas dos passageiros contra as empresas, na comparação com o mesmo período do ano passado. “O volume de reclamações cresceu, mas não na mesma proporção do aumento da demanda. Isso sempre ocorre porque os operadores não têm como dimensionar uma expansão da frota para um momento de pico”, afirma o superintendente de Serviços de Transportes de Passageiros da ANTT, José Antônio Schmitt.

O advogado aposentado Dilermando José Silveira e o representante comercial e empresário Manoel Lúcio da Costa foram alguns dos passageiros de ônibus interestaduais que sentiram na pele os reflexos dos problemas gerados pelo aumento da procura pelo transporte rodoviário. Com mais quase 40 pessoas, eles compraram passagens de Belo Horizonte para Cabo Frio (RJ) em ônibus executivo da Útil, com saída prevista para as 21h30, em 19 de julho. Pagaram R$ 107,80 para terem um pouco mais de conforto durante a viagem, que duraria perto de 10 horas. A passagem do ônibus convencional tinha valor bem inferior, de R$ 76,80.

Mas, ao chegar à rodoviária, observaram o ônibus da empresa que saiu às 21h15 com a palavra executivo estampada em sua lataria e ficaram esperando pelo veículo que os transportaria para Cabo Frio. “Só que enviaram um ônibus normal, com a palavra clássico estampada na lataria”, conta Dilermando Silveira. Os passageiros ficaram inconformados, pediram a troca do veículo e o motorista informou que não seria possível. Por fim, Dilermando, Manoel e os outros passageiros decidiram fazer um boletim de ocorrência policial e apresentar queixa ao fiscal da ANTT de plantão na Rodoviária de Belo Horizonte. Só depois que os procedimentos foram concluídos e o motorista da empresa notificado pela ANTT é que os passageiros aceitaram seguir viagem no ônibus com qualidade inferior ao que estava previsto no bilhete adquirido. “O atraso foi de duas horas”, conta Manoel Costa.

Segundo ele, mesmo aqueles que tiveram de esperar por todo esse tempo na rodoviária de Juiz de Fora ficaram decepcionados com a postura da empresa, que ofereceu um veículo de qualidade inferior e não deu nenhuma posição ou possibilidade de solução para seus clientes. Dilermando Silveira conta que esta semana pretende entrar, com outros 24 passageiros que deixaram seus nomes e telefones, com ação no Juizado Especial de Relações de Consumo de Belo Horizonte. “Vamos pedir o ressarcimento do valor que pagamos a mais e danos morais, porque foram muitos os que perderam compromissos e foram prejudicados por causa do problema, que gerou o atraso de duas horas”, diz. A Útil informou que vai apurar o que ocorreu para buscar uma solução para os passageiros e evitar esse tipo de situação. Os consumidores serão contatados diretamente pelo Serviço de Atendimento ao Cliente da empresa.

Tanto Dilermando Silveira quanto Manoel Costa manifestaram o receio de que a crise no transporte aéreo acabe se refletindo no rodoviário. “As empresas podem começar a oferecer veículos sem manutenção, de qualidade inferior, o que também pode gerar acidentes”, observa Manoel Costa. Schmitt, da ANTT, afirma que já intensificaram a fiscalização nas oficinas e garagens das empresas para que não exista risco para os passageiros. Ele acredita que agora, com o fim do período de férias escolares e a redução na demanda de agosto em 20%, na comparação com julho, as operadoras do transporte rodoviário no país tenham melhores condições de atender o aumento da procura.