A venda e a transferência de carros com recall pendente poderá ser proibida, para tornar obrigatório o comparecimento às chamadas de conserto de defeitos de fabricação. É o que defende o deputado Hugo Leal (PSC-RJ) e o coordenador-geral de Infra-Estrutura de Trânsito do Denatran, Orlando Moreira da Silva.
“A grande questão é que os acidentes de trânsito no Brasil não são tratados com a relevância que deveriam”, afirma o deputado. Leal, que já foi diretor do Denatran do Rio de Janeiro, acredita que alguma medida deverá ser adotada ainda este ano para colocar a mudança em prática.
A Anfavea (associação das montadoras) reconhece que apenas 50% dos proprietário de veículos comparecem ao recall na primeira chamada. De acordo com o líder do Movimento SOS Estradas, Rodolfo Alberto Rizzoto, 5 milhões de carros são alvos de recall. Destes, 90% tiveram apenas uma convocação.
“Se você tiver um carro com extintor vencido é multado e não pode licenciar, mas se você tem um carro com recall por fazer, você pode vender o carro e ele pode pegar fogo”, argumenta Rizzoto, ao defender a obrigatoriedade de comparecimento nas chamadas.
Levantamento do SOS Estradas mostra que de 2000 a 2007 deveriam ter passado pelo procedimento 3,65 milhões de carros. “É uma questão de segurança pública, porque esses carros continuam em circulação”, ressalta Rizzoto.
Detran – A proposta dos especialistas, apresentada à Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados nesta semana, em audiência pública, inclui que os recalls sejam acompanhados pelo Dentran e pelos Denatrans.
“O recall é uma primeira fase para estabelecer a questão com o consumidor, a segunda é analisar esses acidentes. O Denatran podia agir nesse sentido, como uma agência, a exemplo do que existe nos Estados Unidos”, defende Hugo Leal. “O órgão tem que fazer toda a segurança, não somente emplacamento e habilitação”, completa.
Anúncios não mostram perigo real
Priscila Dal Poggetto
Do Diário do Grande ABC
A rigidez sobre os anúncios de recall também será estendida às veiculações na mídia. De acordo com o Procon-SP, os termos utilizados nas chamadas de reparação são técnicos e não indicam a gravidade dos defeitos de fábrica. Por lei, o anúncio deve ser feito em emissoras de televisão e rádio e em jornais e revistas.
“A idéia é que o proprietário do veículo receba na residência a notificação. Ela deve conter todo detalhamento técnico da mudança que irá ser feita. Isso serve para a oficina e para o proprietário”, afirma Rodolfo Alberto Rizzotto, do Movimento SOS Estradas.
O Procon-SP reconheceu ainda, durante audiência pública na Comissão de Viação e Transportes, que muitos recalls são omitidos pelas fabricantes. “Hoje é a montadora que fala se é necessário o recall. Nos Estados Unidos há um departamento público que faz essa investigação”, observa Rizzotto.