Um protesto contra a falta de segurança na área de ocupação Parque Verde, no bairro do Tapanã, interditou o trânsito na Rodovia Augusto Montenegro por mais de uma hora na manhã de ontem. A manifestação ocorreu em frente à entrada da área, na altura do quilômetro cinco, onde os manifestantes atearam fogo em pneus e pedaços de madeira. Ali, eles denunciaram o abandono pelo Poder Público e reivindicaram policiamento para a área. Segundo José Anselmo Costa, uma das lideranças comunitárias da ocupação, os moradores vivem noites
de terror desde a última sexta-feira, quando pelo menos seis casas foram assaltadas. O protesto só foi encerrado depois que a Polícia Militar se comprometeu em reunir à noite com os moradores. Antes disso, o capitão Neil Duarte, comandante da 5ª Zona de Policiamento
(Zpol), garantiu que um trailer policial seria instalado no local esta manhã. Após a liberação do trecho, um grupo de militares percorreu a área para conhecer os pontos críticos do Parque Verde. O clima foi tenso durante toda a caminhada. Como aquela cena era
rara – segundo os moradores a polícia não entra na área -, dezenas de moradores relataram os roubos, ali mesmo, no meio da rua. Uma delas foi a dona-de-casa Graça, 30 anos, vítima de assalto no início do mês. Ela estava no quarto com o filho, contou, quando dois homens
entraram no vão da casa. Colocaram uma arma na minha cabeça e outra na da minha filha.
Levaram alguns eletrodomésticos e, no final, ainda tentaram estuprar a minha cunhada, de 14 anos .
As marcas dos pés dos arrombadores, ainda cravadas nas portas dos imóveis, mostram as investidas recentes. De acordo com os moradores, as últimas ações foram precedidas por ameaça. Recados de que o grupo voltaria mais tarde para aterrorizar a comunidade. O receio
de novos assaltos colocou os moradores em pânico. Muitos deles, a partir das 18 horas, pregam pedaços de madeira nas portas e se recusam a sair do imóvel. Tanto que, quem chega depois desse horário corre o risco de dormir na rua. Eu digo: se tu não levar a chave não vai entrar porque não saberei se está sendo vítima de um assalto ou não. O melhor é dormir na casa de um amigo longe dali , comentou uma moradora.
Não temos segurança. A polícia se recusa a passar por aqui e o único PM Box que existia na área foi invadido por um homem que o transformou em bar. É lá que os bandidos se reúnem para descer para as nossas casas , denunciou a assistente de produção Leonor Barbosa, 43.
A Polícia Militar desmentiu a acusação de que o órgão não verifica os chamados dos moradores da área. Nós não somos ausentes. O caso é que a ocupação é muito grande e de difícil acesso. Só na semana passada, fizemos duas operações na área. Numa delas 30 pessoas
foram presas e na outra, apreendemos dois quilos de cocaína , pontuou o capitão Neil Duarte, comandante da 5ª Zpol. O capitão ainda disse não ter conhecimento da existência de qualquer PM Box naquela área, mas, adiantou que o órgão fará um levantamento no sistema para verificar a informação.
Além dos assaltos, a comunidade ainda enfrenta outro problema: a falta de serviços básicos na área. Nas ruas desenhadas em ladeira, onde foram construídas centenas de casas minúsculas, não há posto de saúde, iluminação pública, água encanada e escolas. O único
poste com lâmpada foi quebrado por vândalos. Estamos abandonados. Nenhuma viatura policial ou ambulância chega à área. As nossas crianças adoecem com a água dos poços e fica por isso mesmo , desanima Leonor Barbosa.