A pressão para que agentes municipais de trânsito aumentem a produtividade na fiscalização, aplicando mais multas, não é exclusividade da Gerência de Estacionamento Rotativo da BHTrans, conforme admitiu a própria empresa, ao abolir a prática. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Assessoramento, Pesquisas, Perícias e Informações de Minas Gerais (Sintappi-MG), nos últimos dois anos funcionários de outras equipes de fiscalização teriam sido advertidos verbalmente para que melhorassem o desempenho nas ruas. A afixação de um ranking com o nome dos agentes e o número de multas aplicadas a cada mês no quadro de avisos de algumas gerências seria uma das ferramentas de pressão. A BHTrans nega, mas cópias de documentos com nomes de agentes e estatísticas de autuações indicam o contrário.

O Estado de Minas teve acesso ao ranking com o desempenho dos agentes do turno da manhã da Gerência de Administração Regional Barreiro e Oeste (Garbo), em janeiro e fevereiro deste ano. Obteve também um quadro comparando a atuação dos profissionais dos dois turnos. Para poder divulgar os documentos, o EM se comprometeu a preservar o nome dos fiscais listados. Segundo os sindicalistas, a estratégia foi abortada depois que veio à tona uma gravação feita por um dos fiscais do rotativo em BH, que registrou parte de uma reunião entre funcionários e um gerente da empresa.

Na ocasião, o dirigente exigia uma cota mínima de 18 multas para dar aos servidores o direito de fazer horas extras e conseguir folgas aos sábados. O incentivo foi cancelado na quinta-feira pela direção da empresa municipal. Os beneficiados pelo sistema eram os 19 agentes que fiscalizam as 14 mil vagas do estacionamento rotativo da capital. “A pressão existe em todas as gerências, de forma velada. Quem tem o nome associado a um baixo índice de multas tem chamada a atenção”, afirma o fiscal de trânsito e delegado sindical Alex Alves.

Embora o ranking não seja mais afixado nos quadros, supervisores da empresa continuam recebendo mensalmente a listagem de funcionários e multas aplicadas, sustenta o sindicato. De acordo com o sindicalista, o documento ainda é um instrumento de pressão para que os fiscais aumentem a produtividade durante o trabalho nas ruas de BH. “Infração não falta na cidade, mas não pode haver pressão para multar. Em primeiro lugar deve estar a função educativa do agente de trânsito; a multa não pode ser prioridade”, defende o sindicalista.