História passada a limpo e revelada em grande estilo. Dez monumentos da Estrada Real (ER), entre Ouro Preto e Ouro Branco, por onde transitaram Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1730-1814), Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e os imperadores Pedro I (1798-1834) e Pedro II (1825-1891), recebem os cuidados vitais da restauração. A expectativa é de que até a semana santa de 2008, pontes, muros de arrimo e bueiros, construídos nos séculos 18 e 19, estejam salvos da degradação e prontos para mostrar a moradores e turistas a beleza do trecho e das linhas da arquitetura colonial.
As obras no Caminho Novo da ER começaram na Ponte da Caveira, o primeiro ponto contemplado pelo projeto, fruto da parceria entre a Fundação Educativa Ouro Preto (Feop) e prefeitura local, com recursos do Banco Real, via lei federal de incentivo à cultura. Nos andaimes, sob os arcos harmoniosos, a equipe de trabalhadores faz a limpeza completa das pedras de cantaria, retirando rebocos adicionados posteriormente, recolocando pedras e garantindo a integridade do monumento. Quase dois séculos depois, volta o brilho escondido pela poluição, pelos fungos e pelo mato.
Iniciado em agosto, o restauro da ponte vem acompanhado de levantamento histórico, tratamento paisagístico, com mudas doadas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF) para reproduzir o desenho original, criação de áreas no entorno para visitação, iluminação e sinalização interpretativa, informa o diretor de projetos da Feop, Renê Ruggeri. Ele explica que, antes de dar início ao serviço, uma equipe de 20 pessoas – historiadores, engenheiros, arquitetos e mestres canteiros (especializados em pedra de cantaria) – se reuniu para traçar todo o detalhamento da obra. “Afinal, restaurar essas pontes é valorizar os marcos mais autênticos da ER”, afirma.
Os 10 monumentos representam um conjunto raro, a maioria feita em cantaria, arte criada há mais de 8 mil anos para talhar a pedra e usá-la em construções. O grande desafio foi recolocar algumas pedras de quartzito perdidas com o tempo. “O trabalho é minucioso e criterioso. Se uma pedra for retirada de forma errada, pode-se perder o equilíbrio e desestruturar a ponte”, conta o arquiteto responsável pelo projeto de restauração, Alexandre Mascarenhas.
Para talhar cada uma das pedras, com dimensão de cerca de 80 centímetros de comprimento, gastam-se duas semanas. “As pedras estavam escuras. Agora, já é possível notar a beleza em cantaria da ponte”, destaca a arquiteta Patrícia Álvares. A conclusão dos trabalhos está prevista para o fim do mês.
Rancharia
Os recursos assegurados na primeira etapa também vão garantir a recuperação do Conjunto da Rancharia, composto de duas pontes. As obras devem começar ainda este mês. O projeto completo de restauração está orçado em R$ 900 mil e, agora, os coordenadores partem para a captação de recursos. Estão incluídas no segundo pacote de obras as pontes Zero, Falcão e Calixto, o Arrimo Curvo e os bueiros do conjunto Calixto, o da Serra do Itatiaia.
Os monumentos foram construídos para facilitar a ligação entre a antiga Vila Rica (hoje Ouro Preto), capital da província mineira, e o Rio de Janeiro, sede da corte. O Caminho dos Diamantes, que nascia em Diamantina, e o Caminho Velho completavam a rota, que tinha como destino os portos de Paraty e do Rio. “Vamos mostrar a riqueza histórica deste trecho e também a importância que este caminho teve e ainda tem”, diz a historiadora Michelle Cardoso Brandão, responsável pela pesquisa do projeto.