A Estrada do Coco-Linha Verde é a rodovia estadual com maior número de acidentes no Estado. A BA-099 acumulou este ano 1.028 ocorrências até o dia 28 de outubro. O dado representa 25,6% do registrado em todas as estradas estaduais da Bahia. Muito utilizada pelo turismo, redobra-se a necessidade de cuidados nesta via nos dias que antecedem o verão, período que começa em 21 de dezembro e no qual os números de acidentes costumam aumentar, devido ao grande fluxo de veículos.

Este ano foram 254 feridos e 20 mortos na BA-099. Do total, 34 pessoas ficaram feridas por conta de atropelamento, modalidade que, em 2008, registrou cinco mortes naquela estrada. Ano passado, no mesmo período, foram registradas 939 ocorrências, com 270 feridos e 21 mortos.

Dentre os principais perigos da BA-099, aponta a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), está o fato de a via expressa atravessar áreas bastante povoadas, combinado à imprudência de pedestres e motoristas. “O local já perdeu as características de rodovia. É uma estrada que corta um meio urbano”, explica o coordenador de planejamento operacional da Polícia Rodoviária Estadual, capitão Luidi Duplat.

Um dos trechos mais perigosos é a região de Lauro de Freitas. “Por ser perto da capital, tem número alto de ocorrências simples. Já mais adiante, o número é menor, mas com maior gravidade”, dimensiona Duplat. A partir do Km-8, a via é privatizada desde 2000, através de concessão ao Consórcio Litoral Norte (CLN), e apresenta em grande parte de sua extensão sinalização e passarelas. Mas o investimento não resolveu o problema na região.

PEDESTRES – Para os moradores, a insegurança na localidade tem sido responsável pela preferência dos pedestres pela travessia da pista. “Tem assaltos a todo momento, principalmente à noite”, conta a estudante Samile Eustáquio, 20 anos, residente em Vila de Abrantes. A reportagem de A TARDE percorreu cerca de 30 quilômetros da estrada e presenciou diversas situações de risco durante todo o percurso.

A auxiliar de classe Rute Souza, 30, protagonizou uma destas cenas. Acompanhada do filho de 9 anos, que saía da escola, ela preferiu correr de um lado a outro da rodovia, apesar de estar a poucos metros da passarela, enquanto carros seguiam em alta velocidade. “A passarela é muito grande. Mas quando meu filho vai sozinho para a aula, peço a ele que sempre use”, tenta justificar. José Batista, vendedor de frutas na rodovia, diz que a passarela é subutilizada. “Se passar 10 pessoas num dia é muito”.

Na entrada de Arembepe, considerada ponto de alto risco pela PRE, o grande número de ocorrências provocou protestos da população há cerca de dois anos. Como providência, o Consórcio Litoral Norte (CLN) foi obrigado a colocar uma passarela no local. Sem o efeito desejado, pôs ainda uma tela de proteção no canteiro central para impor aos cidadãos o uso do equipamento. No entanto, o problema continua: “Alguns pedestres rasgaram a tela para forçar a passagem. Você vê gente atravessando até com criança de colo”, afirma o policial rodoviário Ramos.

ÁLCOOL – No que se refere aos condutores, a combinação álcool e velocidade é a principal responsável pelos acidentes. “Depois da lei seca, houve menos ocorrências”, garante o sargento Ramos. De acordo com dados da PRE, quando considerados apenas os meses de julho a outubro – visto que a nova lei foi implantada no final de junho -, os acidentes de trânsito nos 194 quilômetros da BA-099 reduziram em 13% em relação ao mesmo período de 2007. Foram 353 ocorrências contra 307 no ano passado.

De acordo com o Departamento de Infra-Estrutura de Transportes da Bahia (Derba), a realização de campanhas educativas é uma das condições da concessão à CLN, além de investimentos em infra-estrutura. A fiscalização fica a cargo da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações (Agerba).

Contatado pela reportagem, o representante da Agerba não respondeu sobre o cumprimento das exigências legais pela concessionária. Representantes da CLN, por meio de assessoria, dizem desconhecer os números da PRE e garantem cumprir a sua parte, especialmente no quesito educação, com a campanha Trânsito Legal, realizada todos os anos. A próxima acontece até o dia 10 de novembro e visa orientar a comunidade através de teatro, fórum e oficinas.

Para o arquiteto Hernani Oliveira, especialista em trânsito urbano, um dos principais problemas é a falta de controle do Estado. “Você dirige quilômetros e não vê policiamento. Só aparecem quando tem acidentes”, diz. Uma questão apontada por ele é a avaliação precária das condições de tráfego. “É preciso um especialista para sugerir intervenções. Os policiais não têm preparo para isso”, afirma Oliveira. EmLauro de Freitas, onde se concentra um número alto de atropelamentos, ele sugere a colocação de radares para limitar a velocidade praticada por motoristas.