Quando em 1987 o governo do Estado iniciou a pavimentação da rodovia PR 462, que liga os municípios de Barbosa Ferraz e Iretama, lideranças e munícipes das duas cidades comemoraram, enfim, a possibilidade de maior desenvolvimento regional. Só que dos 55 quilômetros da rodovia, o asfalto não passou dos 30, partindo de Barbosa Ferraz até o Rio do Óleo. Desde então, quem mora ou depende do restante do trecho (25 km) convive com poeira, barro ou buracos. Na semana passada, a reportagem da TRIBUNA percorreu o trecho e conversou com alguns moradores.
“Meu filho estuda em Barbosa Ferraz e quando chove o ônibus não vem e não dá para levar de carro. Nessa semana mesmo ele perdeu dois dias de aula”, conta a dona de casa Helena da Rosa Ruiz, que mora em uma chácara às margens da estrada, há cerca de 15 quilômetros de onde o asfalto parou. O agricultor Laércio Freire, que trafegava de automóvel, reclama do desgaste do veículo. “Com buraco, pedra e às vezes barro não há carro que agüente. Trafegar por aqui desanima a gente”, diz.
Um dos principais reflexos dos transtornos que a falta de pavimentação traz pode ser visto no distrito de Paraíso do Sul, que fica há dois quilômetros da rodovia e há cerca de 17 km do Rio do Óleo. “Teríamos mais gente morando aqui se tivessem terminado esse asfalto. Muitos foram embora”, afirma o comerciante Agnaldo Rodrigues Ferreira. Segundo ele, a falta de pavimentação prejudica principalmente quem vive do comércio. “Quando chove os aposentados, por exemplo, não podem ir receber e atrasam o pagamento. Além de que também não tem como ir fazer compra para repor o estoque e às vezes perco vendas por falta de mercadoria”, conta.
Há mais de 30 anos trabalhando no comércio e na agricultura no distrito, Josias Rodrigues Bastos é outro que reclama. “O povo está desanimado, indo embora daqui. Quem tem filho para estudar não quer mais ficar. Antigamente tinha ônibus todo dia e agora só duas vezes por semana. Por falta de gente e estrada estamos abandonados”, lamenta.
Para os moradores, o término do asfalto traria desenvolvimento para a comunidade. “O lugar aqui é bom de morar, não temos problemas de roubo e violência. Se tivesse asfalto teria desenvolvimento”, argumentam os comerciantes. No distrito, o comentário é de que a verba para asfaltar o restante do trecho já teria sido liberada. “Já ouvi dizer que no papel esse asfalto já está pronto”, afirmam alguns.
Segundo a assessoria de imprensa do Departamento de Estradas de Rodagem (DER), de Curitiba, não há previsão de licitação para asfaltar o trecho. Em contato com a TRIBUNA, a assessora Francis Baras disse que não passam de boatos os comentários de que já teria sido liberada verba para conclusão da pavimentação da rodovia.
De acordo com o DER, o trecho asfaltado faz parte do primeiro lote (Barbosa Ferraz/Rio do Óleo), o único licitado em 1986 e concluído no ano seguinte. “Não temos qualquer registro que tenha sido licitado o lote dois”, afirmou a assessora. Ela disse ainda que o órgão mantém a conservação, mesmo do trecho sem asfalto. Isso foi constatado pela TRIBUNA. No dia que a reportagem percorreu a rodovia, máquinas do DER executavam serviços de cascalhamento em trechos mais críticos.
A PR 462 encurta o caminho, por exemplo, entre Iretama e Maringá. Pela falta de asfalto, moradores de Iretama preferem passar por Luiziana/Corumbataí do Sul ou mesmo Campo Mourão, o que aumenta ainda mais a distância. A rodovia também é considerada estratégica como um corredor turístico. Isso porque liga o Hotel Fazenda Thermas de Jurema ao norte do Paraná e São Paulo.
Candidatos defendem união de cidades para cobrar asfaltamento
A conclusão do asfalto na PR 462 é de responsabilidade do governo do Estado, mas os candidatos a prefeito de Barbosa Ferraz e Iretama afirmam que, se forem eleitos, vão lutar juntos.
“Essa reivindicação é antiga. Sabemos que o asfalto fica caro e já conversamos com o governo do Estado para incluir essa obra entre as obras prioritárias. Precisamos lutar junto com Barbosa Ferraz pela conclusão do asfalto”, afirma o prefeito de Iretama, Antonio José Piazalunga (PMDB), que é candidato a reeleição. “Terminando essa estrada fica bem mais perto para se deslocar até Maringá, sem falar no acesso do nosso principal ponto turístico, o Thermas”, acrescentou.
Para o ex-prefeito de Iretama, Same Saab (PDT), que também disputa a prefeitura, a conclusão do asfalto é estratégica pelo fato da região ser produtora de leite. “O leite é um produto perecível e quando chove muitos produtores não conseguem levar para a cidade. Isso já fez muita gente desistir da atividade”, argumenta. Caso seja eleito, ele diz que vai trabalhar via associações, como a Comcam e AMP, em prol do asfaltamento da estrada.
“O desenvolvimento passa pela estrada”, avalia o atual prefeito de Barbosa Ferraz e também candidato a reeleição, Mario César de Carvalho (PMDB). Ele disse que já tentou junto ao governo federal incluir a obra no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), mas não teve êxito. “Não foi falta de correr atrás, mas as obras prioritárias do Paraná já estavam contempladas”, explicou.
Se tiver um próximo mandato, segundo ele, vai continuar reivindicando. “Acho que necessita uma parceria entre Iretama e Barbosa, por ser uma rota a um dos principais pontos turísticos do Brasil. Acredito que se o vice-governador Orlando Pessuti assumir em 2010, fica mais fácil de conseguir”, argumentou o prefeito.
O empresário do ramo de supermercado, Roni Tavares, que é candidato a prefeito de Barbosa Ferraz pelo PDT, é um dos que sofre diretamente com a falta de pavimentação na rodovia. “A gente faz entrega nessa região e vê o sofrimento da população. Tenho fregueses em Paraíso do Sul e nesta semana não conseguimos entregar as compras em razão da chuva”, afirmou.
Caso seja eleito, Tavares diz que pretende pressionar o DER. “Temos de oferecer um acesso melhor para essa gente. Já ouvi falar que esse asfalto, no papel, já teria sido feito. Precisamos conferir se isso é verdade”, argumentou. O terceiro candidato a prefeito de Barbosa Ferraz, Valdemar Eduardo da Silva (PcdoB), não foi encontrado pela TRIBUNA nem pessoalmente nem nos três telefones celulares fornecidos por um funcionário da sua empresa.