Trafegar pela BR-040, que liga Belo Horizonte ao litoral do Rio de Janeiro e às cidades históricas incluídas no roteiro das cerimônias religiosas da semana santa, pode se tornar uma aventura cheia de riscos e de malabarismos ao volante. No feriado prolongado, a viagem ficará pior, devido ao grande movimento, o que exigirá do motoristas atenção redobrada. São muitos os buracos e outras armadilhas no trecho de 100 quilômetros entre BH e Conselheiro Lafaiete.

O superintendente do Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) em Minas, Fernando Guimarães Rodrigues, informa que será feita uma operação tapa-buracos, em caráter de emergência, depois do período chuvoso, em abril.

Na mesma rodovia, no sentido BH/Brasília, há pontos que também exigem direção cuidadosa, principalmente entre Sete Lagoas e o trevo de Curvelo e perto de Paracatu, no Noroeste de Minas. Para quem vai pegar estrada rumo aos litorais do Espírito Santo e da Bahia deve ter ficar atento aos problemas da BR-381, entre a capital e Governador Valadares. Além da infinidade de curvas e de defeitos na pista, a sinalização está em estado precário ou escondida pelo mato. Na saída para São Paulo, o asfalto também oferece perigo.

Custo

As obras no trecho BH/Rio da 040 custarão R$ 150 mil. Paralelamente, haverá licitação do contrato de conservação, com investimento de R$ 18 milhões. As propostas serão abertas em 24 de abril. Além de tapar os buracos, a empreiteira vencedora terá que manter a rodovia trafegável e com segurança. A capina ao longo da via e a conservação do pavimento estão incluídas nas responsabilidades. O contrato de manutenção acabou em 15 de janeiro e, desde então, nada foi feito.

“Não agimos antes porque o Orçamento da União estava fechado e não era possível a dotação de verbas”, diz o superintendente. Segundo ele, outros 47 trechos distribuídos pelas BRs que cortam Minas serão atendidos por contratos de conservação, incluindo o trecho da 040 entre o trevo de Curvelo e Felixlândia.

O Estado de Minas percorreu, terça-feira, os 89 quilômetros entre BH e Congonhas e constatou as péssimas condições da rodovia. O motorista tem que desviar o tempo todo das crateras. Nos primeiros quilômetros, no Bairro Jardim Canadá, em Nova Lima, na Grande BH, o asfalto já cedeu em alguns pontos. Até o trevo de Ouro Preto, remendos, buracos e rachaduras avisam do perigo. Logo adiante, há uma seqüência de depressões.

Um pouco antes do km 576, o asfalto está totalmente comprometido, obrigando o motorista a segurar a direção. Num dos pontos, uma placa, diante de uma fileira de buracos, informa sobre o alto índice de acidentes . Até no perigoso Viaduto das Almas há problemas na pista, principalmente ondulações.

Motoristas contam que a situação está inviável. O empresário Ronildo Dias Alves, de 35 anos, dirigia de Juiz de Fora a BH. “Com a chuva, a estrada está piorando e, com o tráfego de caminhões, as crateras se abrem ainda mais. Deve ser feito um recapeamento na pista. Um tapa-buracos apenas não adianta. Já perdi um pneu nessa brincadeira”, disse.

O caminhoneiro paranaense Heverton Forgati, de 30, saiu do Rio para BH e teve de parar: “A trepidação excessiva quebrou um cano de óleo. A estrada está boa até um pouco antes de Santos Dumont (Zona da Mata), depois não é possível mais andar. Esse trecho é um dos piores. Só perde para a rodovia Régis Bittencourt, entre São Paulo e Paraná. Na 040, são duas faixas para o tráfego, mas a da direita é puro buraco. Se estamos à esquerda, as carretas passam quase tirando o retrovisor. Se jogamos para o outro lado, quebramos o caminhão. Não temos muita saída”.

O borracheiro Lindomar Caetano dos Reis, de 43, trabalha há dois anos numa loja que funciona 24 horas, no km 583. Ele diz que o serviço aumentou depois do carnaval. São muitas rodas amassadas e pneus estourados: “O movimento é maior em período de chuva e à noite. Os carros de passeio são os mais atingidos, pois os pneus de caminhão são maiores e mais resistentes. O risco de acidentes é grande e só está bom o trecho onde foi feita a recuperação, há pouco tempo, entre a Curva do Sabão, no km 580, e a Vila Ribeirão do Eixo”.

Alternativa

O especialista em engenharia de transportes Paulo Rogério da Silva Monteiro explica que os buracos surgem a partir de duas condicionantes: qualidade do pavimento e excesso de tráfego. “Para não tê-los, é preciso melhorar as condições da via ou reduzir a demanda do trânsito.” Ele considera o trecho entre Itabirito, a 55 quilômetros de BH, e Conselheiro Lafaiete, o pior da 040, devido ao movimento intenso de caminhões carregados com minério: “O impacto é muito grande e qualquer pavimento nesta região tem durabilidade menor”.

Ele ressalta que esses fatores, associados a algumas características da rodovia, como a ausência de canteiro central, curvas com raios pequenos e o abuso da velocidade, influenciam diretamente na segurança de quem trafega por ela. Para o consultor, a solução seria criar uma via alternativa, exclusiva para veículos das mineradoras. “A diferença de velocidade entre um carro de passeio e um excessivamente pesado é um risco ainda maior, pois o caminhão anda muito devagar e é quase um carro parado. A via alternativa seria interessante para as empresas, pois teriam um sistema interno, totalmente isolado do tráfego misto e comum. Elas se responsabilizariam e se programariam para gerenciar as vias que mais se desgastam. Além disso, muitas placas de sinalização ficam cobertas de pó de minério, o que torna mais arriscado dirigir à noite ou com pouca visibilidade”, diz.