Ligação entre Diamantina e o litoral da Bahia, reunindo trechos da BR-367, MG-114 e LMG-677, começa a sair do papel, mas ainda depende de acertos entre o estado e a União
Leme do Prado (MG) – A integração por asfalto do Vale do Jequitinhonha está saindo do plano dos sonhos. Um passo importante para isso é a pavimentação em andamento de 83 quilômetros da rodovia MG-114, a um preço relativamente baixo. Menos de R$ 37 milhões estão sendo gastos no trecho sob o guarda-chuva do Programa Proacesso, do governo do estado. O objetivo principal do investimento é levar o asfalto às cidades de Leme do Prado e de José Gonçalves de Minas. Mas, graças a essa obra, faltarão apenas 10 quilômetros da MG-114 e outros 40 quilômetros da LMG-677, entre o distrito de Lelivédia, no município de Berilo, e a cidade de Virgem da Lapa, para reduzir a distância por asfalto de Araçuaí a Belo Horizonte em 100 quilômetros.
Seria um investimento pequeno com grandes ganhos para a região e o estado. Basta lembrar que, sem retorno econômico e social relevante para o Vale do Jequitinhonha, conforme o Estado de Minas mostrou em reportagem ontem, a Hidrelétrica de Irapé custou R$ 1 bilhão, sendo R$ 120 milhões do Tesouro Estadual.
A grande vantagem da ligação rodoviária formada pela MG-114 e a LMG-677 é a topografia. São 110 quilômetros, aproximadamente, sem uma única ponte ou viaduto. O traçado rasga a chapada do Jequitinhonha e por mais de 90 quilômetros é plano, com grandes e largas retas. O trecho final, próximo a Virgem da Lapa, tem inclinações e curvas moderadas. Segundo a Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop), a pavimentação entre o trevo de José Gonçalves de Minas e a cidade de Virgem da Lapa faz parte de um programa em estudo denominado Links Faltantes, que pretende prencher lacunas na malha rodoviária pavimentada de Minas.
Por muitos anos, a rota Diamantina – Araçuaí projetada pelo governo federal foi a BR-367. O asfalto foi estendido até a cidade de Minas Novas, passando por Turmalina. No entanto, esse eixo tem de vencer os acidentados vales do Rio Araçuaí e de seus afluentes. Desse trecho asfaltado, a parte inicial, de 32 quilômetros, entre o trevo da MG-114 e a cidade de Turmalina, é quase inteiramente feita em curvas fechadas e rampas íngremes. Há duas pontes estreitas. A principal delas, sobre o Rio Araçuaí, não tem largura suficiente para o tráfego em mão dupla.
A lembrança mais incômoda da tentativa de concluir a pavimentação da BR-367 é o esqueleto de um viaduto sobre o Rio Fanado, que serviria também para desviar o trânsito das ruas estreitas do centro histórico de Minas Novas. O custo total do viaduto é de aproximadamente R$ 5 milhões, dos quais R$ 3,6 milhões já foram gastos. Dos 44 quilômetros do sinuoso caminho para Berilo, apenas 5 quilômetros foram pavimentados entre Minas Novas e Chapada do Norte.
O último segmento sem pavimentação da Transjequitinhonha compreende 60 quilômetros entre as proximidades da cidade de Jacinto e Salto da Divisa. É um dos trechos que entraram numa espécie de limbo depois da edição da Medida Provisória nº 82, no apagar das luzes do segundo governo Fernando Henrique, em dezembro de 2002. A MP transferiu para 14 estados a administração de vários trechos de estradas federais e R$ 130 mil por quilômetro a título de compensação. No entanto, passados quase seis anos, a transferência não foi concluída porque os estados reclamam um repasse maior de recursos para assumir as rodovias federais. A chegada do asfalto à cidade de Jacinto está na lista do Proacesso, mas nem sequer há autorização para a abertura de concorrência para obra por causa do impasse entre estados e União acerca da aplicação da MP nº 82.