Ônibus saem da Estação Rodoviária de Salvador e, a partir daí, reinam a insegurança e o medo
De janeiro a setembro deste ano, houve aumento de 15% na quantidade de assaltos a ônibus nas rodovias da Bahia. De acordo com dados da Associação de Empresas de Transporte Coletivo Rodoviário (Abemtro), as vias mais cobiçadas pelos bandidos são a BR-324 e a BA-093. Pontos de ligação para cidades como Catu, Dias D’Ávila, Mata de São João e Alagoinhas, os coletivos nestas vias têm grande adesão dos passageiros que saem da capital todos os dias e seguem para estudar ou trabalhar nesses municípios.
Na empresa Expresso Alagoinhas, por exemplo, foram 37 assaltos de janeiro até este domingo, 19. O número é mais que o dobro de todo o ano passado, com 18 ocorrências. São 70 horários de viagem todos os dias, com coletivos saindo da rodoviária de Salvador a cada 30 minutos. Segundo a diretora da empresa, Ana Piñeiro, cerca de 110 mil pessoas são transportadas todos os meses e 70% das linhas passam pelas BR-324 e BA-093.
Somente no último final de semana foram três novos assaltos (dois sábado e um domingo). Dois funcionários da Expresso estão afastados das funções depois de agressões físicas durante a ação dos bandidos. “Chegamos a ser assaltados duas vezes no mesmo dia”, lamenta.
Sem se identificar, um passageiro assaltado na última sexta-feira, 17, comenta que ter os bens saqueados se tornou algo comum nesse trecho. Industriário há dois anos nas cidades de Pojuca e Catu, o rapaz de 26 anos perdeu até as alianças de casamento, além do celular. “Eram dois bandidos. Depois de levarem tudo, desceram na região da Jaqueira do Carneiro como se nada tivesse acontecido”, disse.
Outra vítima é o funcionário público do INSS Helmuth Brito, 50. O ônibus em que Brito viajava, foi assaltado no início deste mês. Eram 6h15 quando dois homens entraram e se ajeitaram nas poltronas do fundo. Poucos metros adiante, anunciaram o assalto. Pelo menos 11 colegas dele também já foram vítimas dessa violência. Todos são servidores do INSS em Catu, Dias D´Ávila, Mata de São João e Alagoinhas.
Segundo relato de motoristas e cobradores, os bandidos entram como se fossem passageiros e anunciam o assalto assim que o coletivo sai do ponto. Em pouco mais de cinco minutos levam os pertences de quem estiver sentado e ainda recolhem o dinheiro recebido pelo cobrador. Os locais de maior atuação são a Brasilgás, na BR-324, além dos pontos em Simões Filho, Dias D’Ávila e na rodoviária de Alagoinhas. “Estão sempre armados, em grupos com dois ou três jovens”, diz um motorista.
Na última quarta-feira, dia 15, o relógio marcava 17h50 quando quando três homens armados subiram no ponto em Dias D’Ávila. Pouco mais de 100 metros depois começaram a gritar com as armas em punho. Celulares, dinheiro e relógios foram recolhidos de todos os passageiros. “Foi o oitavo assalto”, diz, com ar de desânimo, o motorista Manoel Araújo, 30. Dentre os piores relatos, Araújo diz ter tido uma arma apontada para a cabeça.
ESTRATÉGIA – Os coletivos mais visados são aqueles que fazem paradas em pontos ao longo da estrada. Com tarifas mais baratas, esses ônibus começam a ser evitados por quem pode optar pela passagem mais cara. É o caso do analista de sistemas Tiago Borges, 26, que estuda em Alagoinhas e tem família em Salvador.
A passagem no ônibus expresso custa R$ 12,10, enquanto o executivo sem paradas sobe para R$ 16,70. O gasto a mais é compensado pela sensação de segurança. “Tive três amigos assaltados nessa linha. O último foi no mês passado”, assinala. Na manhã desta segunda-feira, dia 20, o rapaz perdeu o horário do executivo e teve de seguir viagem no expresso.
A violência tem atingido também as empresas Planeta, São Luiz, Regional e Bonfim. O diretor-executivo da Abemtro, Edmar Ribeiro, afirma que todos os meses os órgãos de segurança recebem relatórios sobre os assaltos nas estradas, mas admite que há dificuldade de coibir os assaltos quando os bandidos se infiltram como passageiros nos coletivos.”O melhor é fazer um trabalho constante de investigação para desarticular as quadrilha”, afirma.
Procurados para comentar o caso, representantes das policiais civil e militar não deram resposta sobre o assunto até o fechamento desta matéria.