No final do mês de novembro, um motorista de 26 anos com histórico de abuso de drogas e álcool desde a adolescência, envolvido em vários acidentes, passou o sinal vermelho a 106km/h numa avenida de Recife cujo limite era de 60km/h e colidiu com outro veículo. Como resultado matou 3 pessoas, sendo a esposa do outro condutor, seu filho, a babá que estava grávida. Sobreviveram o marido e uma filha pequena.

O jovem motorista irresponsável estava visivelmente alcoolizado e possivelmente sob efeito de drogas. Ele sofreu ferimentos leves e foi preso. A repercussão foi tão grande que a polícia apresentou a conclusão do inquérito oito dias depois. A quantidade de testemunhas e o histórico do causador do acidente ajudaram na apuração da tragédia. Entretanto, a estratégia da defesa, pelas primeiras manifestações, será alegar que ele era dependente químico e que já tinha sido internado para tratamento, ou seja, era doente. Tudo para amenizar a pena no julgamento embora não seja possível fazer o mesmo com as vidas humanas perdidas.

Existem muitas lições para extrair desse episódio e evitarmos que novos crimes de trânsito como esse ocorram. Entretanto, o que desejamos destacar desta vez é a necessidade de revermos os exames médicos de motoristas no Brasil. Todos os condutores são obrigados a passar por esses exames mas um ex-diretor do Denatran já havia denunciado que não são confiáveis, ao menos muitos médicos não cumprem o protocolo.

No caso deste acidente de Pernambuco é fácil concluir que ele tem razão. Afinal, como um jovem que desde a escola era conhecido como usuário de drogas, costumava dirigir alcoolizado e foi internado várias vezes, consegue passar pelo exame médico sem que o profissional especializado em Medicina de Tráfego identifique esse problema? Na mesma linha de raciocínio, nas operações de saúde realizadas com caminhoneiros nas estradas até 40% dos motoristas examinados são identificados com deficiência visual, embora não apareça o registro na CNH. Depois saem com carretas de 40 toneladas circulando nas estradas, colocando em risco a vida dos usuários, além da própria. Portanto, não importa a categoria da CNH do motorista fica evidente que precisamos investigar a qualidade desses exames médicos que não podem servir apenas para gerar receita para os doutores. Parece claro que os atuais exames, principalmente para detectar dependentes de drogas, parecem ser uma droga de exame.

Rodolfo Rizzotto é Coordenador do SOS Estradas e autor de vários livros e estudos, dentre eles “Acidentes Não Acontecem”