Maioria das vítimas tem entre 20 e 29 anos; são 12 casos de acidentes por dia

A cada dois dias, um motociclista morre na Grande Belo Horizonte em decorrência dos acidentes de trânsito. Os dados do Corpo de Bombeiros ainda trazem à tona o alto número de atendimentos desse tipo de ocorrência. Segundo o subtenente Gertel Vaz de Souza, chefe da sala de imprensa da corporação, cerca de 12 casos diários foram assistidos pela corporação neste ano. Essas tragédias urbanas têm cara e idade. Elas estão vitimando, em sua maioria, homens jovens entre 20 e 29 anos.

Ontem à tarde, mais um motociclista morreu em um acidente no Anel Rodoviário, na altura do bairro Caiçara. A moto foi esmagada por um caminhão, no sentido Espírito Santo. Segundo a Polícia Rodoviária Estadual (PRE), o veículo causador do acidente fugiu sem prestar socorro.

Dados do Hospital de Pronto-Socorro João XXIII (HPS) mostram que neste ano, até a última terça-feira, 4.207 pessoas deram entrada na instituição nesse tipo de situação. O contingente não se restringe à capital. Esse total já é mais que a metade de casos atendidos no ano passado, quando o HPS recebeu 7.757 pessoas. De acordo com o gerente de informações do hospital, o médico Roberto Marini, cerca de 80% a 85% dos casos que chegam à instituição se referem a homens. Quanto à faixa etária, 56% estão entre 20 e 29 anos. “O que vem acontecendo nos últimos anos é o aumento de casos atendidos, mas o perfil dos acidentados não sofre grandes modificações”, explicou Marini.

O médico acredita que esses números crescentes estão relacionados ao aumento da frota bem como ao uso intensivo da moto como instrumento de trabalho. “O serviço de motofrete tem um paradoxo. Exige-se rapidez e pontualidade na entrega, contribuindo para o piloto ter uma conduta inadequada.” Tramita no Congresso a regulamentação da profissão de motoboy. Na esfera municipal, há um projeto para regulamentar a atividade.

Conforme a Secretaria Municipal de Saúde, as ocorrências envolvendo motociclistas correspondem a 8,7% do total de casos assistidos pelo Samu em 2007, o que representou um total de 5.955 atendimentos. No primeiro trimestre deste ano, o histórico possui 1.299 casos, 7,2% dos registros do Samu.

“Uma série de fatores contribui para esse aumento de acidentes. Entre eles, a falta de educação e respeito às regras de circulação”, analisou um dos diretores da Cooperativa Brasileira de Transportes Autônomos, Maurílio Queiroz. Para reverter as estatísticas, foi lançado no início da semana o Fórum dos Motociclistas. Além de discutir e elaborar estratégias, os profissionais terão um canal de comunicação para levar à BHTrans as reivindicações.

Samu. Ocorrências envolvendo motociclistas correspondem entre 7% e 8% dos atendimentos
Vaga de rotativo será discutida durante fórum

A primeira reunião do Fórum dos Motociclistas acontecerá na próxima terça-feira. Um dos temas da pauta é a discussão sobre a proibição do estacionamento de motocicletas, motonetas e ciclomotores nas vagas do rotativo, nos dias e horários de seu funcionamento para os demais automóveis. A medida, que entrou em vigor em março deste ano, causou muita polêmica, mesmo com a criação de 3.500 vagas específicas para as motos. Há cerca de 14 mil vagas físicas para carros.

“Quando houve a criação das vagas para motos, as colocamos em pontos que achávamos pertinentes. No entanto, as várias associações e sindicatos nos procuraram reivindicando outros lugares”, ressaltou Ronaro Ferreira, analista de relações comunitárias da BHTrans. (FP)

Carteira
Mudança em exame ainda sem data

Apesar de muitos apontarem como saída para reduzir os índices de acidentes, ainda não há previsão para que o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) altere as regras para se obter a carteira de habilitação para moto. Há dois anos, houve uma discussão nacional sobre o assunto. Mas, de acordo com o órgão, em Brasília, não há nada de concreto nesse sentido.

“As pistas para exame não condizem com a realidade estressante do trânsito. O motociclista precisa conhecer mais o seu meio de transporte e como conduzir sem risco em situações adversas, como chuva”, destacou um dos diretores da Cooperativa Brasileira de Transportes Autônomos, Maurílio Queiroz.

No mesmo mês em que Edson Chaves de Queiroz, 31, tirou sua habilitação para moto, ele se acidentou no Anel. Desde então, há oito anos, o piloto já deve ter se envolvido em cerca de dez acidentes. Por sorte, os ferimentos nunca foram muito graves.

“Quando você está caindo, é tudo muito rápido. A preocupação é proteger a cabeça.” Segundo Chaves, vários aspectos contribuem para os registros. “A inexperiência e imprudência. Mas acredito que o pior é a falta de educação e atenção. Poucos dão seta.”