TRITE REALIDADE: Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) morto às margens de rodovia sul-mato-grossense. Foto: Mario Alves/ICAS

Entre 2017 e 2020, foram encontrados 602 tamanduás mortos em acidentes em 14% das rodovias asfaltadas

Assim como a onça-pintada, o tamanduá-bandeira é um dos animais símbolo do bioma pantaneiro que está na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, organizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Desde junho do ano passado, o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla) está na categoria “vulnerável”, junto a outras 465 espécies, em risco elevado de se tornarem ameaçadas.

Acidentes com veículos em rodovias contribuem para a queda do número de tamanduás. Mato Grosso do Sul e Minas Gerais estão entre os Estados com maior índice de mortalidade de tamanduás em estradas, conforme levantamento do Icas (Instituto de Conservação de Animais Silvestres).

Entre 2017 e 2020, pesquisadores do projeto Bandeiras e Rodovias realizaram o monitoramento de 14% das rodovias asfaltadas do Mato Grosso do Sul. Durante esse período, foram encontrados 602 tamanduás mortos em acidentes nas estradas.

Entretanto, a bióloga especialista em Ecologia de Transportes do Projeto Bandeiras & Rodovias do Icas, Erica Saito, acredita que a estimativa seria maior caso fosse considerada 100% da malha viária do Estado.

Com hábitos noturnos e locomoção lenta, o tamanduá-bandeira é frequentemente afetado por acidentes de trânsito em Mato Grosso do Sul. Além disso, seus olhos não refletem a luz do farol como outros animais, o que dificulta a visualização por parte dos motoristas.

Infelizmente, essa espécie já ameaçada de extinção é uma das mais atingidas por esse tipo de acidente na região”, comenta Erica.

A bióloga também reforça que a problemática das colisões veiculares não afeta somente a biodiversidade, mas também tem se mostrado um perigo iminente para os usuários das rodovias.

Mitigação

Estradas e rodovias são fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. O desafio é garantir a segurança dos motoristas e dos animais que compartilham essas vias de tráfego.

Erica relata que o Projeto Bandeiras & Rodovias, em parceria com o Governo do Estado, fez um manual com orientações voltadas aos gestores de rodovias. “Esse é o primeiro material compilado para área de Ecologia de Estradas no Brasil”, pontua.

O objetivo do manual é reduzir o número de acidentes nas 142 rodovias estaduais que totalizam uma extensão de 13,3 mil quilômetros, dos quais 8,5 mil ainda não possuem pavimentação.

Entre as medidas propostas, estão: o cercamento das rodovias próximas a áreas naturais; melhoria da sinalização; instalação de redutores de velocidade; e até mesmo a construção de “viadutos de fauna”, estruturas que permitem que animais possam atravessar as pistas de forma segura.

A bióloga também ressalta que é preciso manter as campanhas de conscientização dos motoristas, uma vez que parte das colisões surgem por imprudência.

Prevenção

Desde de 2022, quando o Governo do Estado instituiu o Manual de Orientações Técnicas para redução de colisões veiculares com a fauna silvestre nas rodovias de Mato Grosso do Sul, projetos rodoviários elaborados no âmbito da Agesul (Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos de Mato Grosso do Sul) têm considerado as diretrizes básicas deste documento.

De acordo com o engenheiro sanitarista da Agesul, Joel Dourado de Assis, o programa “Estrada Viva – A Fauna Pede Passagem” tem atuado na mitigação de colisões nas rodovias estaduais.

Joel explica que o programa atua na implantação das diretrizes técnicas e infraestruturais nas rodovias estaduais, na conscientização dos motoristas e no monitoramento das estradas.

Diversas obras de pavimentação de rodovias pelo Estado já utilizam as diretrizes deste manual de orientações técnicas. Entre elas, as obras da MS-345 (Estrada do 21), da MS-382 (Baía das Garças) e da Rodovia do Turismo, todas em Bonito, a 257 quilômetros de Campo Grande.

O programa também trabalha com o monitoramento de atropelamento de animais silvestres em algumas rodovias, como MS-040, MS-178, MS-382, MS-339, MS-345 e MS-450, catalogando as espécies atropeladas e identificando os principais pontos de passagem dos animais para propor medidas preventivas e de redução dos acidentes.

Impacto

Na visão de Erica, o impacto das estruturas que foram adaptadas até o momento só poderá ser avaliado após sua implantação total.

É necessário que o governo acelere a implantação dessas estruturas para que seja possível monitorar sua efetividade e determinar se estão cumprindo seus objetivos. Somente por meio dessa avaliação será possível saber se elas estão atingindo seu propósito e beneficiando a população”, comenta a bióloga.

Fonte: Campo Grande News