O relatório da Confederação Nacional do Transporte – CNT, classificou a rodovia BR265 como a terceira rodovia mais perigosa do estado de Minas Gerais, devido ao traçado da pista, qualidade do asfalto e má sinalização. A via apresentou os maiores índices de acidentes na região do campo das vertentes. O excesso de velocidade é uma das maiores causas de acidentes nesse trecho. Os resultados desta 23ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias evidenciam que os sucessivos alertas da Confederação não foram devidamente ouvidos. Houve uma piora nas condições da malha pavimentada.
A CNT vem alertando – ano a ano – sobre a urgência de ampliar os recursos para as rodovias brasileiras e melhorar a aplicação do orçamento disponível. No entanto, na contramão de direção houve cortes no orçamento. O único empenho do governo foi com a promoção de operações tapa-buracos.
Como se não bastasse a falta de investimentos, no dia 14 de agosto de 2019, o presidente Jair Messias Bolsonaro determinou a retirada de radares por meio de um decreto presidencial, visando à reavaliação da regulamentação dos procedimentos de fiscalização eletrônica de velocidade em vias públicas, especialmente quanto ao uso de equipamentos estáticos, móveis e portáteis. Em várias ocasiões, Jair Bolsonaro declarou publicamente ser contra a fiscalização eletrônica por radares, bem como, uso de cadeirinhas para crianças. Dentre outras ações que culminaram com um afrouxamento das leis de trânsito brasileira.
Em contrapartida, o contrato com a Concessionária responsável pela manutenção dos radares na via não foi renovado e, como consequência, os equipamentos começaram a ser removidos gradativamente, no trecho que liga Santana da Vargem até Nazareno. A Superintendência do Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), com sede na cidade de Oliveira, é responsável por esse trecho.
No início de agosto de 2020 todos os radares já haviam sido removidos. A retirada ocorreu em pontos cruciais para manutenção da segurança na via, tais como: no Km 358, no local conhecido como “Curva da Caixa d’Água” ou “Curva da Morte” no município de Lavras, na entrada do município de Itutinga, na Ponte do Rio Grande e no trevo do município de Nazareno.
A partir da retirada dos radares os acidentes voltaram a ocorrer. O movimento Somos Todos Vítimas da BR-265 monitorou os números de acidentes nesses pontos onde havia a fiscalização e comparou com os números de acidentes ocorridos nos mesmos pontos em 2019, no período de agosto a novembro.
Mesmo com o movimento reduzido na BR-265, devido a pandemia, no período de 2020 (Agosto-Dezembro), o movimento registou oito acidentes nos locais onde os radares foram removidos. Uma carreta tombou na curva da Caixa d’água, cinco acidentes ocorreram na Ponte do Rio Grande e dois acidentes no trevo de Nazareno. A curva mais preocupante é a localizada na Ponte do Rio Grande, dos cinco acidentes que ocorreram, quatro veículos caíram no rio. No mesmo período em 2019, ocorreu apenas um acidente na ponte do Rio Grande e nenhum acidente foi registrado nos outros trechos analisados onde tinham os radares.
O movimento questionou o Dnit sobre a retirada dos radares. Em resposta o órgão informou que para haver a recolocação dos equipamentos é preciso morrer pelo menos duas pessoas em cada ponto onde havia radares. Dessa forma, para que sejam colocados 8 radares essenciais para manutenção da segurança de trafegabilidade, seriam necessários que 16 pessoas viessem a óbito.
Estudos internacionais atestam que os radares são hábeis para impedir acidentes, mortes e feridos. Segundo o estudo The handbook of road safety measures, do pesquisador norueguês Rune Elvik, os equipamentos de controle da velocidade reduzem o número de feridos em até 20% e de mortes em até 50%, estatísticas semelhantes a da Policia Rodoviária.
Mulher morre em acidente na BR-265 após capotamento de carro. O acidente ocorreu dia 22 de outubro de 2020 no Km 305 da BR-265, no trevo da cidade de Nazareno. Infelizmente a condutora do carro identificada como Thais Souza Braga, 41 anos, que trabalhava em São Sebastião da Vitória e residia na cidade de Ijaci morreu no local.
O movimento ‘Somos Todos Vítimas da BR-265’ que nasceu, cresceu e se fortaleceu por meio de pessoas que se juntaram de boa vontade, para tentar mudar a triste realidade desta rodovia, já acionou o Ministério Público (MP) e a Controladoria-Geral da União (CGU) para que sejam recolocados os radares removidos, bem como a instalação de novos equipamentos em pontos com alto índices de acidentes.
Além dos radares, segundo a CNT a priorização do governo nas políticas públicas e a maior eficiência na gestão são imprescindíveis para reduzir os problemas, aumentar a segurança e evitar desperdícios. Toda a sociedade paga o preço da ineficiência da infraestrutura de transporte. Se a rodovia tem problemas, há mais consumo de combustível e maior desgaste dos veículos. Isso gera custos, que elevam o valor dos produtos. Além disso, há a questão dos acidentes rodoviários, que tiram vidas e oneram o Estado.