Após tragédia com 11 mortos na MG-223, nome da empresa é escondido
ANTES DA PINTURA: Veículo tombou na MG-223 e deixou ao menos 11 mortes e vários feridos. Na foto, ainda aparece o nome da Real Expresso. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Polícia Civil de Minas não informou quem pintou o nome da Real Expresso, após o sinistro na terça (8); matéria publicada no site oficial não cita o nome da empresa

Apesar de sofrimento e de dor provocados pela tragédia na rodovia MG-223, envolvendo o ônibus da Real Expresso, Mercedes-Benz, prefixo 11921, que matou 11 pessoas, sendo duas crianças, os familiares têm que se deparar com a falta de bom senso da empresa, quis esconder o nome Real Expresso, estampado nas laterais e parte traseira do veículo, após ele ser destombado.

O Estradas solicitou da PCMG a explicação sobre a pintura – após o sinistro – para esconder o nome da Real Expresso. Até a publicação desta matéria, o portal não recebeu a resposta.

Além disso, o Estradas apurou que a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) omitiu o nome da Real Expresso na matéria publicada, nessa quarta-feira (9), no site oficial da Corporação. Além disso, a matéria informa que o sinistro foi uma “colisão entre um ônibus e um caminhão“. Porém, em nenhum momento, há menção de envolvimento de caminhão no sinistro. O próprio delegado regional em Araguari (MG), Luciano Alves dos Santos, não fala em colisão quando da coletiva de imprensa.

Além do excesso de velocidade, já citada em matéria do Estradas, na terça-feira (8), a Polícia Civil de Minas Gerais informou, mesmo que preliminarmente, o que a reportagem já citou na matéria do dia da tragédia, ou seja, que a maioria dos passageiros que morreram não fazia uso do cinto de segurança. As investigações seguem e devem ser concluídas no início do mês de maio.

De acordo com o delegado Luciano Alves Dos Santos, o trabalho conjunto entre as forças de segurança e os institutos de identificação tem permitido agilidade no processo, garantiu Luciano Alves. “Em pouco mais de 24 horas após o acidente, já conseguimos identificar nove vítimas, o que demonstra o empenho das equipes envolvidas“, disse.

Ainda conforme o Santos, a dinâmica do acidente e suas causas estão sendo apuradas, e o resultado da investigação será divulgado pela Polícia Civil com o avançar dos  levantamentos. “Já produzimos diversas provas, entre elas testemunhais, periciais e outras de natureza objetiva. O inquérito segue em andamento e, ao final, apresentaremos as conclusões“, reforçou o delegado.

Segundo Santos, os trabalhos policiais são conduzidos pela Delegacia Regional em Araguari e outras informações sobre as investigações serão repassadas em momento oportuno.

Motorista disse que viu um “vulto”

Em depoimento na delegacia de Araguari (MG), o motorista do ônibus, de 58 anos, disse ao delegado Santos que viu um vulto, um reflexo e, por isso, perdeu o controle da direção do ônibus. Após ser ouvido, ele foi liberado, uma vez que, até o momento, não há elementos suficientes que justifiquem a sua prisão.

O Estradas apurou que ele estava sozinho no veículo. De acordo com a Real Expresso, o outro motorista iria assumir o volante em Uberaba (MG). Ele era acostumado a fazer a rota, já que fazia o trajeto semanalmente.

Após tragédia com 11 mortos na MG-223, nome da empresa é escondido
ABSURDO: Mesmo diante de uma tragédia, com 11 mortes, empresa se preocupa em esconder o nome Real Expresso nas laterais e traseira do veículo. Foto: reprodução/Redes Sociais
Após tragédia com 11 mortos na MG-223, nome da empresa é escondido
ABSURDO: Mesmo diante de uma tragédia, com 11 mortes, empresa se preocupa em esconder o nome Real Expresso nas laterais e traseira do veículo. Foto: reprodução/Redes Sociais

ANTT não informou sobre o esquema operacional

Apesar de solicitado, na manhã do dia do sinistro com o ônibus da Real Expresso, a Agência Nacional de Transporte terrestre4s (ANTT0 não informou qual seria o esquema operacional da linha à qual o ônibus Mercedes-Benz, da Real Expresso, faria naquela segunda-feira (7), com chegada prevista para a terça-feira (8), na capital paulista.

A reportagem questionou a Agência sobre as paradas previstas, mas não recebeu a resposta. Já a Real Expresso, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que o ônibus se acidentou muito perto de Uberaba (MG), onde haveria a troca de motorista. Entretanto, o Estradas levantou que o percurso entre Araguari (MG) e Uberaba (MG) é de 140 quilômetros. O que deveria durar ainda pelo menos 2 horas e 30 minutos.

Ainda segundo a Real Expresso, o ônibus parou em Caldas Novas (GIO), pois é secção oficial da linha e parou para lanche, sem citar o local. A reportagem perguntou se o coletivo iria parar em Campinas (SP). A empresa limitou-se a informar que o ônibus parou em varias sessões, mas o destino final era São Paulo.

Por meio de uma outra nota oficial, ainda na terça-feira (8), a Real Expresso escreveu: A empresa reforçou sua posição e enviou a seguinte mensagem: “A Real Expresso informa que está colaborando intensamente para a elucidação das causas do acidente, e esclarece que o veículo estava devidamente revisado conforme um plano de manutenção corretiva e também preventiva realizado na empresa. Cabe esclarecer ainda que a empresa não trabalha com duplas de motoristas e sim com trocas ao longo dos percursos exatamenre para garantir que todos trabalhem devidamente descansados. O motorista havia subido no ônibus vindo de casa e descansado. É importante ressaltar que a empresa também possui todo um trabalho de treinamento para condutores inclusive é uma das pioneiras do trabalho de medicina e higiene do sono possuindo salas de ativação e todo um tratamento especial aos condutores para garantir uma qualidade de condução atenta e segura. Todas as reclamações de clientes são devidamente tratadas e todo o Grupo Guanabara tem SAC 24 horas 7 dias por semana para atendimento, inclusive possuindo nota 8 no site Reclame Aqui.

Recheado de multas

O Estradas apurou, também, com exclusividade, que o ônibus Mercedes-Benz, modelo Busscar VBUSS DD, ano-modelo 2019-2020, com placas de Carmésia (MG), tem registro, em aberto, de 14 multas e 7 autuações, sendo a maioria por excesso de velocidade., conforme consta no site do Detram-MG.

Vítimas identificadas

A Polícia Civil de Minas já identificou as vítimas fatais. São elas:

  • Elhadi Ahmed Khalifa, 69 anos – estrangeiro, natural da Líbia
  • Maria Catarina da Silva, 62 anos – morava em Ribeirão Preto (SP)
  • Sueli Pereira Dias Fernandes, 56 anos, natural de Bebedouro (SP)
  • Nilda Helena de Paula, 53 anos, natural de Itumbiara (GO)
  • Suely Maria de Araújo, 45 anos, natural de Itambé (MG)
  • Francini Batista Rodrigues Marcondes, 42 anos, natural de São Paulo (SP)
  • Basileu da Silva Pereira, 41 anos, natural de Isaias Coelho (PI)
  • Rogério Ribeiro de Queiroz, 41 anos, natural de Goiânia (GO)
  • Kleyton Serra da Silva, 40 anos, natural de Barcarena (PA)
  • Laura Costa de Negreiros, 6 anos, morava em Trindade (GO)
  • Lorena Costa de Negreiros, 2 anos, morava em Trindade (GO)

Leia também:

1 de 8 motorista de ônibus e caminhão tem exame vencido

Veja 20 dicas para você viajar de ônibus com segurança e identificar situações de risco

2 COMENTÁRIOS

  1. Eu acompanho o site e tudo e concordo com a maioria das matérias que são publicadas aqui,mas ficar fazendo esse tipo de matéria que polemiza a exclusão do nome da empresa,seja A ou B,depois de um acidente grave,acho um pouco sensacionalista.Eu como ex-motorista de ônibus rodoviário interestadual de passageiros,sei que depois de um grave acidente,como o acontecido com o ônibus da Real Expresso,toda e qualquer empresa cobre o nome com faixas ou simplesmente apaga da lataria.Isso não tem nada a ver com a falta de empatia ou assistencia com os familiares das vítimas por parte da empresa,e sim um procedimento padrão adotado por várias empresas de transporte,seja de passageiros ou de cargas.Acho que o site deveria se apegar a outros fatores mais importantes,como descanso do motorista, condições da via,do veículo,entre tantas outras coisas que poderiam contribuir para evitar que tragédias como essa acontecem novamente.E também hj em dia, antes da notícia sair na mídia mainstream,todo mundo já fica sabendo de qual empresa ou transportadora o veículo sinistrado em ocorrências graves pertencem, principalmente pela rapidez da internet e dos aplicativos de mensagens.O mais importante na minha opinião, é cobrar da empresa melhorias nas escalas de jornada dos motoristas, alojamentos decentes para um bom repouso, veículos em boas condições de manutenção, treinamento de respeito as leis e tratamento aos clientes, salário decente,assistência aos familiares das vítimas com pagamentos de idenizações e assistência psicológica,entre tantas outras coisas,e não o fato de cobrir a logomarca da empresa que independente disso,todo mundo já sabe qual é antes mesmo de sair na mídia.Fica a dica.E que Deus conforte a todos os familiares das vítimas,pois perder um ente querido em um acidente evitável, não deve ser fácil.

    • Agradecemos suas observações. Entretanto, está previsto no Art. 347 do Código Penal que não é permitido alterações no local do crime. A presença de pessoas que representem o interesse de quem pode ser responsabilizado, alterando características do veículo, não é permitido. Até porque, podem desaparecer, como já ocorreram, outros elementos que ajudam a perícia. Como o disco diagrama do cronotacógrafo. Mas sua observação é mais um estímulo para aprofundarmos o tema e questionarmos as autoridades sobre quem permitiu essa iniciativa de pichar o nome da empresa. Como já acompanhamos investigações há mais de 30 anos, esperamos que os demais aspectos serão investigados pelo Ministério Público e Ministério Público do Trabalho. É importante lembrar que as alterações no nome da empresa foram feitas enquanto corpos eram transportados para o necrotério ou vítimas para o hospital.

Deixe um comentário

Você digitou um endereço de e-mail incorreto!
Por favor, digite seu nome aqui