Os 402 quilômetros da rodovia que liga São Paulo a Curitiba são administrados desde 2008 por uma empresa privada. Apesar dos investimentos, a rodovia continua matando. pesar da privatização da Régis Bittencourt, o número de acidentes nessa importante rodovia federal aumentou. Nossos repórteres percorreram a estrada e mostram o motivo.
Algumas décadas atrás, o Brasil escolheu as estradas, preferiu as rodovias para ligar os vários cantos do país. Carros, ônibus e caminhões: uma frota para levar gente, riqueza e progresso.
O progresso veio, o Brasil cresceu. E as estradas? Repórteres da TV Globo percorreram parte da Rodovia Régis Bittencourt, que liga Sul e Sudeste. O que eles encontraram foram pistas não duplicadas e muitos acidentes. Acidentes muito graves que tiram vidas e deixam prejuízos imensos.
No meio do caminho, o retrato do atraso. “Está péssimo, muito ruim, todo dia quase tem congestionamento aí, acidentes, muito ruim”, reclama o taxista Cilho Lemos de Pontes
É pela Régis Bittencourt que trafega a riqueza entre as duas regiões mais desenvolvidas do país. Os 402 quilômetros da rodovia que liga São Paulo a Curitiba são administrados desde 2008 por uma empresa privada. De lá para cá, a estrada recebeu melhorias no asfalto, nova sinalização, muretas de proteção, e serviço de atendimento ao motorista. Mas os R$ 302 milhões investidos até agora não foram suficientes para acabar com a má fama da Régis.
Apesar da melhora nas condições da pista, o número de acidentes aumentou do ano passado para cá. Na madrugada deste domingo, um motorista de caminhão morreu depois de perder o controle do veículo. O caminhão destruiu o guard rail e despencou de uma altura de mais de 15 metros.
No trecho paulista da estrada, 88 pessoas morreram de janeiro a junho, 33% a mais do que no primeiro semestre do ano passado. O carro da família Muniz ficou todo destruído, depois de um acidente neste fim de semana. Pai, mãe e filho tiveram ferimentos leves.
“Nós vínhamos sentido Paraná, um rapaz de bicicleta bêbado atravessou a pista, eu fui desviar dele e acabei capotando o carro”, conta o advogado Obed Muniz Teodoro.
O acidente ocorreu na Serra do Cafezal, um trecho no estado de São Paulo de 30 quilômetros de pista simples e sinuosa – considerado o calcanhar de Aquiles da estrada. Na última quinta-feira, uma carreta desgovernada bateu em outros quatro veículos, que pegaram fogo e interditaram a estrada por oito horas.
“A duplicação tem que sair, urgente”, pede o motorista Osvaldo Feitosa.
As obras já começaram. Enquanto não ficam prontas, o acostamento vira pista. A placa indica o telefone do serviço de emergência que poderia ajudar a salvar vidas. Mas justamente nesse trecho de serra, não conseguimos fazer a ligação, porque essa região está fora da área de cobertura da maioria das operadoras.
Os moradores que vivem às margens da estrada têm outras queixas. “Precisávamos de uma passarela ou de uma lombada eletrônica, que os carros maneirassem um pouco, tem muito atropelamento”, pede a dona de casa Margareth de Morais
As lombadas eletrônicas que existiam foram retiradas. “A lombada eletrônica não é uma solução, mas é um grande quebra galho. Se essa estrada tivesse mais lombadas eletrônicas, seria com certeza mais segura, mas com menor fluidez. Esse equilíbrio então é que é difícil”, diz o engenheiro de transporte Luiz Célio Bottura.
O engenheiro conta que em 1971 participou de um projeto de licitação para duplicar a Régis e lamenta que a obra ainda não tenha sido concluída.
À espera de uma solução, quem trafega pela estrada tenta administrar o medo. “Pede muito a Deus. Sempre peço proteção na rodovia. Você dirige por você e pelos outros”, aponta o carteiro Lindomar Nunes da Silva.
A Polícia Rodoviária Federal informou, em nota, que tem feito fiscalizações rotineiras para tentar educar os motoristas a disse que o aumento da frota de veículos é um dos motivos que explicam o aumento dos acidentes.
A concessionária que administra a rodovia informou, em nota, que ainda depende de licença ambiental para fazer a obra de duplicação na Serra do Cafezal.