Empresas cortam combustível de veículos em movimento, submetendo motoristas e passageiros ao risco de acidentes. BHTrans diz que equipamento não é regulamentado

Três das maiores empresas de táxi que atuam em Belo Horizonte apostaram numa tática perigosa para controlar sua frota: cortar o combustível dos veículos em movimento, caso o motorista contratado como auxiliar, sujeito a uma das diárias mais caras do mercado (R$ 115), não dê notícias até o horário determinado pelos chefes. Os 53 carros das locadoras MCO, JL e LE, que pertencem à mesma família e funcionam num único endereço, são equipados com bloqueadores ligados ao sistema de injeção eletrônica. Acionados, eles fazem os veículos pararem no meio da pista, sujeitando chofer e passageiro ao risco de acidentes. Os taxistas que trabalham para o grupo dizem que o objetivo é obrigá-los a quitar o aluguel até as 16h30. As firmas admitem o uso dos equipamentos, mas alegam que a finalidade não é essa.

As três empresas integram um grupo de 32, cadastradas pela BHTrans para prestar o serviço de táxi na cidade. Os bloqueadores foram instalados há pelo menos dois anos e são operados por uma firma terceirizada. Quando solicitado pelas locadoras, recebem um sinal de rádio que interrompe o fornecimento de combustível. Em geral, o susto é dado em duas etapas. Primeiro, um alarme é acionado e, simultaneamente, o carro falha pelo menos quatro vezes. Alguns segundos depois, o suficiente para que ocorra uma batida, o funcionamento volta ao normal. É dado mais um prazo e, da segunda vez, o veículo pára.

Um dos auxiliares, que pediu para não ser identificado, conta que o sistema tem sido implacável. “Ele é usado para controlar o pagamento de diárias e multas. O horário de tolerância vai até as 16h30. Quem passa disso fica sujeito aos cortes”, afirma. “Por sorte, nunca houve um acidente. Mas é comum termos que dispensar passageiros, sem cobrar a corrida, e empurrar os carros no meio de grandes avenidas”, acrescenta. Segundo ele, para que o fornecimento de combustível seja restabelecido, o motorista tem que telefonar para as empresas, avisando que está a caminho, com o dinheiro.

De acordo com a BHTrans, nenhuma legislação regulamenta o uso de bloqueadores nos táxis de BH, o que significa que eles não são proibidos nem autorizados. O auxiliar explica que os atrasos são comuns, porque nem sempre o trabalhador consegue arrecadar o suficiente. Além da diária de R$ 115, as três locadoras cobram R$ 10 de caixinha, usados para cobrir eventuais dívidas com multas. Os valores são os mais altos do mercado. Em média, as demais firmas cobram R$ 80 de diária.

O gerente das empresas, Wanderson Teixeira Alves, conta outra versão dos fatos. De acordo com ele, o bloqueio só é feito em último caso, depois que as tentativas de localizar o auxiliar se esgotam. O objetivo, alega, é evitar seqüestros, assaltos e assassinatos. “Em geral, as diárias vencem às 8h, mas damos até o fim da tarde para que os motoristas compareçam. Se eles ficam 48 horas sem aparecer, tentamos ligar para os telefones dele e dos familiares. Só depois disso, caso o paradeiro não seja identificado, cortamos o combustível. Mesmo assim, o alarme do carro toca várias vezes para avisá-lo”, comenta.

Patrimônio

Alves explica que, nos últimos anos, três auxiliares vinculados às locadoras foram mortos, o que levou à instalação dos aparelhos. “Trata-se de uma medida para garantir a segurança deles e preservar o nosso patrimônio”, comenta. O Estado de Minas acompanhou um dos choferes das empresas, enquanto o combustível era cortado. A equipe de reportagem ficou no táxi pelo menos duas horas e, nesse período, não foi constatada nenhuma tentativa de aviso. O bloqueio foi feito por volta das 16h40, quando o motorista encostava o carro para desembarcar dois passageiros.