Volume jogado pelos motoristas e população vizinha às estradas equivale à quantidade produzida em cidades como Cubatão ou Jaú

Nas rodovias sob concessão do Estado de São Paulo são recolhidas diariamente 67 toneladas de lixo jogadas pelos motoristas e população vizinha às vias. Só em 2012 foram jogados 24,6 mil toneladas de detritos. São aproximadamente 310 quilos de resíduos mensais recolhidos em média em cada um dos 6.500 quilômetros de estradas concedidas. Entre o material descartado está lixo orgânico, latas de alumínio, papel, vidro e plástico, entre outros, além de restos de poda de vegetação. Há casos até de móveis e eletroeletrônicos quebrados deixados na beira da rodovia. Para dar conta de todo esse material, diariamente um batalhão de quase 500 funcionários (entre coletores, motoristas e outros profissionais) percorre a malha para recolher e transportar esses detritos a um depósito. O trabalho é estabelecido nos contratos de concessão, mantido com o dinheiro dos pedágios, e fiscalizado pela ARTESP – Agência de Transporte do Estado de São Paulo.

Recolhimento de lixo nas rodovias paulistas

A quantidade de lixo recolhido pelas 19 concessionárias é semelhante à produção de resíduos de cidades como Botucatu (62,7 toneladas/dia), Cubatão (60,1), Franco da Rocha (60,2), Itapetininga (66,8), Jaú (64,8) e Mogi Guaçu (66). O volume de detritos produzidos nas cidades paulistas é registrado no Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Urbanos 2012, elaborado pela Cetesb. Outra comparação possível através dos dados da companhia ambiental é que nas estradas é produzido mais que o dobro de lixo do que em cidades turísticas litorâneas como Peruíbe (24,1 toneladas/dia), São Sebastião (30,1) e Ubatuba (31,4).

Segurança. A coleta de lixo nas rodovias tem aspecto muito mais amplo do que de limpeza propriamente dito, contribuindo para a segurança e fluidez do tráfego. Acidentes podem ser causados, por exemplo, por animais em busca de alimentos atraídos por lixo orgânico, por isso é importante que o motorista ou os passageiros não arremessarem restos de comida pela janela, e que os vizinhos das rodovias não depositarem o lixo em local inadequado. Acidentes também ocorrem quando motoristas, em alta velocidade, tentam desviar de resíduos de maior porte ou se assustam com lixo jogado pela janela de carros à frente. O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prevê multa para quem arremessa lixo pela janela do veículo. O artigo 172 prevê que atirar do veículo ou abandonar na via objetos ou substâncias é infração média, sujeita a multa e perda de quatro pontos na Carteira de Habilitação. E, dependendo do volume de dejetos abandonados, o motorista pode responder a processo por crime ambiental.

Outro aspecto importante é que o material pode entupir o sistema de drenagem de água pluvial, provocando alagamento nas pistas na época de chuva, o que torna a dirigibilidade mais difícil e muitas vezes provoca lentidão. A ocorrência de incêndios também é potencializada pelo acúmulo de lixo à beira das rodovias, que pode servir de combustível para o fogo. Uma bituca de cigarro arremessada pela janela pode ser o detonador das chamas, por exemplo. A fumaça que se origina dos focos de incêndio prejudica a visibilidade do motorista, tornando-se outro fator de risco. Em áreas urbanas, resíduos podem até mesmo se tornar armas para bandidos, que arremessam nos carros com a intenção de fazê-los parar e, assim, praticar crimes.

Maior incidência. Apesar de boa parte do lixo ser arremessada pelos usuários de dentro dos carros, os pontos onde são mais comum o descarte de lixo nas rodovias são próximos a áreas urbanas, onde vizinhos da rodovia descartam os resíduos domésticos, entulho e outros materiais (como móveis e eletrodomésticos velhos) segundo as concessionárias. A Ecovias, que administra o Sistema Anchieta-Imigrantes, estima que 60% dos resíduos que suas equipes recolhem são provenientes de comunidades localizadas no entorno das rodovias. Em 2012, a concessionária recolheu 821,5 toneladas de lixo, e no primeiro semestre deste ano foram 494, 7 toneladas. A Ecovias até criou um programa com objetivo de incentivar moradores de comunidades da região de Planalto por onde passa a Rodovia dos Imigrantes a fazer o descarte correto do lixo.

Outro foco importante de produção de resíduos, informam as concessionárias, são as usinas de produção de açúcar e etanol. De acordo com a Cart – concessionária que administra parte do corredor Raposo Tavares – e com a Autovias – que administra trecho da Rodovia Anhanguera (SP-330), Rodovia Antovia Antônio Machado Sant’Anna (SP-255), Rodovia Engenheiro Thales de Lorena Peixoto Júnior (SP-318), Rodovia Cândido Portinari (SP-334) e Rodovia Engenheiro Ronan Rocha (SP-345), nos trechos que passam por áreas onde essa atividade se desenvolve há grande concentração de resíduos orgânicos.  As praças de pedágio e pontos de paradas de veículos de cargas também são pontos comuns de descarte.

A falta de consciência do motorista que joga ou permite que o passageiro jogue lixo pela janela é responsável, ainda, por danos à natureza. Há objetos que levam milhares de anos para se decompor – o vidro, por exemplo, demora de cerca de quatro mil anos. Mesmo restos orgânicos levam bastante tempo para se deteriorarem, uma fruta que pode demorar 12 meses. Outros exemplos de materiais normalmente jogados do carro que levam muito tempo para se decompor são: pontas de cigarro (um a cinco anos); plástico (100 a 450 anos); e alumínio (200 a 400 anos).

Reciclagem. A grande maioria das concessionárias desenvolve trabalhos visando a reciclagem de lixo, seja através da contratação de empresas especializadas ou parcerias com cooperativas e prefeituras. A Cart – que no ano passado coletou 5.177 toneladas de lixo em sua área de concessão (e no primeiro semestre deste ano atingiu 2.256 toneladas) – estima que cerca de 50% do lixo que recolhe é destinado à reciclagem. O material orgânico é encaminhado pelas concessionárias a aterros sanitários credenciados pela Cetesb. Parte das concessionárias, como a ViaOeste, Rodoanel, Ecopistas e Colinas, desenvolve trabalho junto a empresas para reaproveitamento de borracha de pneus (ressolagem) recolhidos nas rodovias.

Fonte: Ascom