TRISTE REALIDADE: Colisão entre carro e caminhão na PR-182 que liga Palotina a Assis Chateaubriand, no Paraná, é um dos acidentes registrados no carnaval 2023. Foto: Divulgação

De acordo com o levantamento exclusivo feito pelo Estradas, incluindo todo o território nacional, números de óbitos são os que foram registrados na pista; total pode ser maior

Os primeiros números apurados pelo Estradas.com.br, em levantamento exclusivo e nacional dos acidentes (sinistros), indicam 136 mortos nas rodovias federais e estaduais, sendo 73 óbitos nas federais e mais 63 nas estaduais que a reportagem conseguiu ter acesso, ou seja, apenas 11 estados e o Distrito Federal informaram os dados. São mortes registradas na pista, não considerando os óbitos a caminho do hospital ou que ocorre até 30 dias após o sinistro.

O número de feridos, considerando as rodovias federais e estaduais, totalizou 2.119  vítimas, sendo que, destas, 1.520 foram na malha federal. Dos 12 estados que divulgaram algum balanço dos sinistros, apenas cinco informaram o número de feridos. O que explica a diferença entre o elevado número de feridos nas federais e das estaduais.

O levantamento das rodovias federais é pertinente ao período entre 0h da sexta-feira (17) e 23h59 da quarta-feira de Cinzas (22).

Já em vários estados, as informações são referentes ao intervalo entre sexta-feira (17) e terça-feira de carnaval (21). Considerando os sinistros graves ocorridos na quarta-feira de Cinzas, o balanço dos estados será ainda maior do que o informado, quando for possível finalizar os números.

Das 27 unidades da Federação, até o momento em que esta matéria foi publicada, apenas 12 (11 estados e o Distrito Federal) divulgaram dados sobre o período do carnaval.

Nas rodovias estaduais de São Paulo foram 614 acidentes, 397 feridos e 18 mortos. Minas Gerais registrou 14 mortes em apenas 142 sinistros. Paraná teve 89 sinistros, 108 feridos e 7 mortos. No total de mortos, Ceará registrou 5, Alagoas 2, Sergipe 3, Mato Grosso do Sul 1, Santa Catarina 3, Tocantins 2, Distrito Federal 3, Mato Grosso 2 e Bahia 3. Somente cinco estados informaram os feridos. Foram eles, além de São Paulo e Paraná, Tocantins (25), Santa Catarina (58) e Sergipe (11). Portanto, ainda faltam dados dos feridos de 21 estados e do Distrito Federal.

Mato Grosso, Minas e Bahia revelam precariedade das informações

Em Mato Grosso, a informação oficial é de que teria ocorrido apenas um sinistro nas rodovias estaduais, em todo período do carnaval. Numa busca rápida, o Estradas.com.br encontrou notícia de mecânico que derrapou com moto e morreu na MT-030, no domingo (19). Outro caso foi de capotamento com morte no local em outra rodovia estadual do Mato Grosso, ocorrido no sábado (18). Além disso, a reportagem encontrou ainda dois outros capotamentos com três feridos. O que deixa claro de que os dados oficiais informados não são confiáveis.

Na Bahia, no site oficial do governo, em que consta o Balanço das Operações da Polícia Militar durante o carnaval, aparece a informação detalhada do trabalho nas rodovias: “O Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) realizou abordagem a 9.864 veículos e 10.027 pessoas entre sexta-feira (17) e terça-feira (22), com apreensão de duas armas de fogo, três pessoas presas em flagrante, duas pessoas foram conduzidas a delegacias, seis veículos foram recuperados, 92 veículos foram retidos. A BPRv ainda registrou 12 ocorrências de acidentes e socorreu quatro pessoas com ferimentos graves. Todavia, não informa que pelo menos três pessoas morreram em sinistros graves nas rodovias estaduais.

Minas Gerais é outro caso complicado. Depois de insistir, a reportagem conseguiu confirmar que ocorreram 142 sinistros nas rodovias estaduais, provocando 14 mortes na pista. Mas a Polícia Militar Rodoviária (PMRv) não informa o número de feridos. Somente numa colisão ocorrida na quarta-feira de Cinzas morreram três pessoas e seis ficaram feridas.

Boa notícia foi a redução de letalidade nas rodovias federais

A redução de 107 mortes no balanço do carnaval de 2022 para 73 registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) é a melhor notícia das operações neste período. Embora o aumento do número de feridos de preocupe. Afinal, foram registrados, em 2022, um total de 1.160 sinistros deixando 1.306 feridos. Este ano, foram 1.085 ocorrências de sinistros com 1.520 feridos. Portanto, 75 sinistros a menos que em 2022, mas 214 feridos a mais.

O que provavelmente pode ter ocorrido com o índice de redução de mortes foi a fiscalização de velocidade. Desde abril de 2019, a Polícia Rodoviária Federal não utilizava os radares com a mesma intensidade. Inclusive sequer eram apresentados dados quantos às fiscalizações e multas aplicadas por excesso de velocidade. Este ano de 2023, no feriado de carnaval, foram flagrados mais de 30 mil veículos em excesso de velocidade.

Número insignificante em relação ao total de veículos que circulou no período, onde somente na Via Dutra (BR-116), foi previsto pela concessionária responsável a passagem de pelo menos 530 mil veículos. A presença de policiais com radares também desestimula as ultrapassagens proibidas. Ao menos é o que mostram os números. Em 2023, foram 7.436 multas por ultrapassagem em local proibido, contra 10.291, em 2022.

Previsões do Estradas se confirmam

Na quinta-feira(16) o Estradas.com.br previu pelo menos 200 mortes e 2.000 feridos no período do carnaval, entre sexta-feira (17) e quarta-feira de Cinzas (22). Faltando ainda os dados dos mortos e feridos nas rodovias estaduais de 15 estados (22 de feridos): Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Pará, Maranhão, Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia e Roraima, os números já atingem 137 mortos e 2.119 feridos.

Infelizmente, os números confirmam a realidade que o portal Estradas e o SOS Estradas estudam há anos. Sem contar os sinistros e as vítimas nas rodovias municipais de cada estado e os casos que não incluem as vítimas dos sinistros ocorridos na quarta-feira de Cinzas (22).

O coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, observa ainda que no número de feridos, a estimativa já foi superada e inclui apenas dados das rodovias federais – que representam 1/3 da malha rodoviária pavimentada – e os feridos em cinco estados.

É inacreditável que estados como Minas Gerais, por exemplo, informe os sinistros e mortos, mas não disponibilize os dados dos feridos. Outros apenas informam os mortos, o que impede de calcular o total de ocorrências. Somente cinco informaram o total de feridos. E a maioria dos estados sequer faz um balanço público do que ocorreu. Sem contar os casos que apuramos em que informam oficialmente que têm um acidente em todas as rodovias do estado, como foi em Mato Grosso, e nós identificamos rapidamente quatro sinistros, sendo dois com vítima fatal e outros dois com três feridos, ressalta Rizzotto.”

O Estradas.com. espera que as autoridades dos 15 estados que ainda faltam informar os dados sobre mortos e 22 sobre feridos, colaborem disponibilizando os números ou assumindo que não têm controle sobre o que ocorre nas suas rodovias estaduais e municipais.

Precisamos aprender com essas mortes para evitar que novas ocorram. Para isso, dados sérios são essenciais“, acrescenta Rizzotto.