“Antes do Código de Trânsito eu não usava cinto de segurança”, confessa o motorista Enéas Ramos.

“Antes do código, não. Agora, uso”, diz o motorista Fernando Magalhães.

Está no código: “É obrigatório o uso do cinto de segurança”.

“Eu estava distraído, não coloquei”, explica o administrador de empresas Renato Cavalcanti.

“Pegou mal! Pegou mal! Deixa eu colocar logo. Pegou mal”, diz o bombeiro Roberto Jacob.

É obrigatório para os passageiros também.

“Na cidade, muitas vezes, não uso. Esqueço”, afirma a consultora de empresas Fátima Gonçalves.

“A maioria não usa atrás, não”, conta o taxista Odilon José da Silva.

O Código de Trânsito prevê punição rigorosa para o excesso de velocidade nas estradas. Infrações gravíssimas são punidas até com a perda da carteira de habilitação.

Veja o que a lei dizia: motorista flagrado a uma velocidade 20% maior do que a máxima perde a carteira.

Em uma rodovia com máxima de 90 km/h, toda e qualquer velocidade acima de 117 km/h caracterizava infração gravíssima, já considerando uma pequena margem de tolerância para eventuais erros do velocímetro ou do radar.

Mas, no ano passado, este artigo da lei foi mudado. E o Código de Trânsito se tornou mais tolerante com o motorista infrator. Para perder a habilitação, o motorista tem que ser flagrado não em uma velocidade 20%, mas 50% do que a máxima permitida.

Ou seja, no exemplo que a gente deu, o limite para infração gravíssima passa de 117 km/h para 146 km/h.

“Em um momento onde nós deveríamos, cada vez mais, estar sendo mais rigorosos, nós estamos afrouxando”, critica o piloto de provas César Urnhani.

Vamos ver o que essa diferença de velocidade significa na prática: primeiro, uma freada a 117 km/h. A distância percorrida pelo carro com as rodas travadas é de 95 metros. Agora, uma freada a 146 km/h. O carro precisa de 144 metros para parar.

Imagine o que seria uma freada brusca, a essa velocidade, na Avenida Brasil, um dos principais acessos ao Rio de Janeiro. O veículo iria percorrer o equivalente a um quarteirão e meio. “Esta frenagem foi a 146 km/h e o pneu ficou muito próximo de romper. Uma vez que você não tem o pneu ali no aro, girando, ele estourou, é a perda de controle”, explica o piloto de provas César Urnhani.

Agora, o teste na pista molhada. O carro só pára depois de 312 metros.

Existem estradas em que a velocidade máxima permitida é de 120 km/h. E aí?

“A partir daí, o cidadão só perderia a carteira se estivesse a 194 km/h”, explica o piloto. É mais do que a velocidade média dos carros de fórmula 1 no Grande Prêmio de Mônaco.

O diretor do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Alfredo Peres da Silva – que é contra a mudança do código – disse esta semana: o limite de velocidade das rodovias é que pode ser reduzido.

“Havendo um número de acidentes muito grande por excesso de velocidade, a solução, embora possa ser criticada, é reduzir a velocidade, a velocidade da via para que esse percentual de mais de 50% fique no limite aceitável de segurança”, propõe Alfredo Peres da Silva.

No ano passado, quase 6,5 milhões de motoristas deveriam ter feito cursos de reciclagem depois de terem perdido o direito de dirigir. “Mas, na prática, isso não acontece. Os Detrans não tem a autorizada de ir à casa dessas pessoas recolherem essas carteiras. É preciso aprimorar essa legislação para se criar uma responsabilidade, quem sabe, até criminal para uma pessoa que esteja dirigindo com uma carteira suspensa”, explica Rodolfo Rizzotto, especialista em trânsito.

Ao se aproximar da faixa, o motorista deve ficar atento. Se não houver sinal de trânsito, a prioridade é do pedestre, diz o Código. Esta é uma parte da lei que costuma ser respeitada em algumas cidades do país, como em Brasília. Mas em outras cidades… “Hoje, você atravessaria uma rua, o carro com uma distância de 50 metros, ele ia aliviando. Ao contrário. Você viu, é melhor não confiar”, mostra o aposentado Armando Amaral.

Logo que o código entrou em vigor, o índice de mortes no trânsito era de 6,5 para cada dez mil veículos. Quase nada mudou de lá para cá. O índice baixou para 6,3, segundo o último dado oficial.

“O problema é que nós precisamos passar a aplicar a lei. É uma minoria que produz a maior parte das infrações, que causa a maior parte dos acidentes, que mata pessoas inocentes e que continua impune”, afirma o especialista em trânsito Rodolfo Rizzotto.