No feriado de Páscoa, constatamos mais uma vez o grande número de vidas perdidas em nossas estradas. Paralelamente, fomos impactados pela notícia de repercussão nacional do crime cometido por um motorista de um Porsche, em São Paulo, que vitimou um trabalhador ao trafegar a aproximadamente 130 km/h em um trecho de 50 km/h.
Na BR-376, no Paraná, o portal Estradas.com.br noticiou a morte do fotógrafo Chuniti Kawamura, que foi esmagado entre duas carretas. Descobriu-se que a carreta que colidiu com o carro do fotógrafo estava com uma “gambiarra” no sistema de freios, além de irregularidades no tacógrafo (caixa-preta) e um caminhoneiro que não conseguiu comprovar a realização do descanso obrigatório.
Nas rodovias de todo país, potenciais assassinos do trânsito postam vídeos com rachas e todo tipo de infração, inclusive expondo ao ridículo a PRF.
Esses quatro temas — as mortes nas rodovias durante o ano e nos feriados, o caso do Porsche, os crimes de trânsito nas mídias sociais e a morte do senhor Kawamura — já seriam suficientes para que o parlamentar que preside a Frente Parlamentar Mista do Trânsito Seguro fizesse algum tipo de manifestação em suas mídias sociais.
Deputado lança Frente mas parece só aparecer na posse
Em 19 de setembro de 2023, o deputado Nicoletti, na qualidade de presidente, lançou a Frente. O grupo prometia propor medidas para reduzir as mortes e lesões no trânsito das cidades e rodovias brasileiras.
Ao entrarmos no Instagram do mencionado parlamentar, não encontramos uma única referência às tragédias recentes, aos projetos para reduzir os sinistros ou até mesmo alguma atividade da Frente que ele preside, apesar de sua origem como policial rodoviário federal.
Aliás, o destaque que encontramos na página do deputado foi sua participação em competições de arrancada, além de R$ 3 milhões em recursos destinados à construção de pista para esse fim.
Lembramos, então, que em 2022, ainda sob a presidência de outro parlamentar, foi lançado um site da Frente Parlamentar do Trânsito Seguro, cujo objetivo era abrir um espaço para o debate em prol da segurança no trânsito.
O portal permitiria a participação da sociedade com mensagens e sugestões. O domínio era www.transitoseguro.net e foi destacado em matéria da Agência Câmara. Ao clicarmos, caímos em um site de apostas.
Tentamos também visitar o site www.transitoseguro.net.br, mas, neste caso, não encontramos nenhum conteúdo. Não foi possível identificar quando essa mudança ocorreu.
A criação da Frente no passado foi uma boa ideia, que gerou muitas expectativas entre aqueles que atuam no setor. Entretanto, a realidade é que ela tem servido apenas para conferir status a políticos, sem contribuir de fato para a causa.
Como portal ligado às entidades de vítimas, a ideologia dos parlamentares não nos diz respeito, até porque a morte no trânsito não escolhe suas vítimas pelo partido ou candidato em quem votaram.
Desde que existimos como veículo de comunicação focado nas estradas e na segurança viária, inicialmente como Revista das Estradas (1993-2003) e, posteriormente, como portal Estradas.com.br (2000-atual), nenhum governo priorizou a segurança no trânsito, sejam governos mais à esquerda ou supostamente de direita.
Por isso, na avaliação do Estradas.com.br, a Frente deve ser extinta, não importa seu formato, mista ou não. Adiantamos ainda que assistimos com desconfiança o surgimento de uma Frente Parlamentar para Defesa das Vítimas de Acidentes de Trânsito.
