PRESERVAR VIDAS: A principal missão da PRF é cuidar da segurança viária e preservação de vidas. Foto: Divulgação/PRF

A política fez mal à Polícia Rodoviária Federal (PRF) e, desde o início do atual governo, o Portal Estradas.com.br e o Movimento SOS Estradas alertaram sobre as consequências que medidas populistas, sem fundamentação técnica, poderiam representar na missão da instituição de garantir a segurança viária.

O primeiro grande equívoco foi o desligamento de 80% dos radares fixos nas rodovias federais, em abril de 2019, e logo depois, em agosto do mesmo ano, a retirada de radares portáteis dos policiais rodoviários federais, com a irresponsável insinuação de que os agentes da lei ficariam escondidos para flagrar os infratores, com o objetivo de auferir algum benefício. O velho discurso da indústria da multa num país que é dominado pela fábrica de infratores, cuja expansão é garantida pela impunidade.

O recolhimento dos radares portáteis garantiu a impunidade nas rodovias federais dos potenciais assassinos, entre 16 de agosto e 23 de dezembrode2019. Alguns mataram outros, morreram…

Nesse período, nenhuma multa por excesso de velocidade foi aplicada pela PRF em todas as rodovias federais do país. Algo sem precedente no mundo. A volta da fiscalização somente ocorreu às vésperas do Natal, quando o Ministério Público Federal (MPF) conseguiu que os policiais pudessem operar novamente os radares.

O resultado prático foi aumento de 15% na média mensal de mortos, entre abril e dezembro de 2019, como mostramos e alertamos que ocorreria. Essa política de garantir a impunidade reverteu a tendência de queda das vítimas fatais que ocorria desde 2011.

Nem mesmo a pandemia, cujo período mais longo e grave ocorreu em 2021, foi capaz de reduzir as mortes nas rodovias federais. Elas continuaram aumentando, apesar de queda no volume de veículos em circulação.

Em novembro de 2020, às vésperas do ‘Dia dos Mortos’, entrou em vigor a Resolução 798/20 do Conselho Nacional de Trânsito (CONTRAN), imposta pelo governo federal sem nenhum estudo que justificasse a medida, e que obrigou as autoridades de todos os níveis de governo a informar aos infratores onde poderia haver algum controle para surpreendê-los.

Enquanto no exterior as autoridades demonstram que não toleram abusos de velocidade, como mostramos no estudo “Indústria da multa ou fábrica de infratores, aqui, no Brasil, tornamos infratores e criminosos do trânsito em celebridades. Como é possível ver nos vídeos postados diariamente nas mídias sociais.

Inclusive, o atual governo, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, vetou projeto de lei que visava usar as imagens fornecidas publicamente pelos potenciais assassinos para responsabilizá-los à luz do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A união da direita com a esquerda deixou claro que a impunidade no trânsito une partidos de ideologias opostas. Enquanto isso, vidas são perdidas nas estradas e vias urbanas do país.

Durante as lives de Bolsonaro, era constrangedor ver os diretores da PRF concordarem com a defesa dos infratores que o presidente proporcionava. O então ministro Tarcísio de Freitas, às vésperas de sair candidato ao governo do estado de São Paulo, passando por cima do ministro da Justiça, tentou convencer o diretor-geral da PRF a “dar um tempo na fiscalização dos caminhões arqueados”… e outras infrações dos caminhoneiros.

Aliás, caminhoneiros que sempre foram usados como ‘fachada’ para beneficiar grupos econômicos ou interesses políticos, ora da esquerda, como na paralisação para derrubar o governo Temer, ou pela direita, como mais recentemente para contestar os resultados das últimas eleições.

O que ficou de lição neste período mais recente da PRF é que estão comprometendo a história da corporação com uso político da instituição. E agora, quando começam as especulações sobre quem comandará esse grupo de elite do trânsito brasileiro, surgem nomes que não têm como foco a segurança viária. Podem ter até pautas importantes para a sociedade. Entretanto, a razão de existir da PRF é a preservação da vida no trânsito.

É preciso unir os policiais rodoviários em torno desta missão. Esperamos que o novo governo coloque à frente da PRF uma pessoa cuja prioridade da sua trajetória tenha sido reduzir os “acidentes” e evitar a perda injustificável de vidas.

Precisamos de alguém com perfil totalmente técnico, com larga experiência de pista e na fiscalização, que também dê continuidade ao combate ao crime na pista. Em particular, roubo de cargas, contrabando e tráfico de drogas.

Alguém discreto que não use as mídias sociais para promover outra causa que não seja a da preservação da vida no trânsito. Nos tempos atuais, temas defendidos na vida privada, quando expostas no exercício de função pública, só criam polêmica. Precisamos dar um basta nesse clima. A PRF e a sociedade precisam de paz.

O foco deve ser aplicação e fiscalização da legislação de trânsito com o máximo rigor, usando quando possível a tecnologia para punir e combater a infração e o crime na rodovia. Aprender com os “acidentes”, em respeito às vítimas e a seus familiares.  Principalmente, quando o país tem como meta reduzir à metade as mortes no trânsito, entre 2021 e 2030, conforme estabeleceu a Década da ONU dedicada a segurança viária.

Chega de política na PRF e também no combate à violência no trânsito. São mais de 90 anos de história em prol da segurança viária. Somente um nome técnico, focado no policiamento de trânsito nas rodovias, vai conseguir acalmar os ânimos e iniciar um trabalho que realmente permita à PRF cumprir sua função de, acima de tudo, preservar as vidas nas rodovias federais.

Escolha fora desse perfil não vai conseguir unir a tropa e somente contribuirá para o radicalismo que estamos assistindo na sociedade brasileira. A morte no trânsito não escolhe as vítimas por ideologia política.

Portanto, esperamos que o novo governo não queira dividir com política uma missão tão nobre como salvar vidas. É importante lembrar que, na hora de atender às vítimas ou chorar os mortos, ninguém pergunta em quem votaram nas últimas eleições.

18 COMENTÁRIOS

  1. Parabéns a quem descreveu o texto. Concordo com as falas. Concordo com a questão política. Órgãos de defesa não podem ter partidos políticos. O último parágrafo foi sensacional.
    Mas também acho que em casos isolados pode haver o abuso de autoridade. Acredito que as multas para excessos devem ser aplicadas. Mas algumas multas deveriam ser assistidas com mais atenção.
    Mas Parabéns quem escreveu.

  2. A PRF precisa de restruturação, e reconhecimento salarial. Chega da tapas nas costas.

  3. O desligamento dos radares tem a ver com a educação dos motoristas. Países muito mais desenvolvidos não tem radar algum, inclusive, há vias que são de alta velocidade e não se vê falar em muitos acidentes. Percebo que o site tem viés de esquerda e quer denigrir a imagem do atual governo, quando a educação do povo é que faz a diferença. Por que não incentivam a venda de veículos que andam somente a 80km/h? Povo demagogo.

  4. Parabéns pela publicação, concordo plenamente que somente um nome técnico deve ser aceito não podem fazer política usando a polícias. O Bem do povo na prevenção de acidentes e combate ao contrabando e tráfico de drogas deve ser embasado o trabalho da PRF .

  5. Sou PRF aposentado e concordo plenamente com a matéria. Fui um dos que participaram da coleta de assinaturas para inserir a PRF na CF/88. Fiquei muito triste com a imagem da Corporação ao ser usada para fins políticos. Parabéns pela matéria.

  6. Discordo do texto e as condições atuais inclusive nos governos do PT são satisfatórias, embora a conscientização é algo que vá melhorar com o tempo à medida que as tecnologias automotivas de segurança avançam. É preciso ter olho que os carros estão ficando cada vez mais seguros graças a este processo e que a PRF faz de longa data um processo de monitorar locais com maiores índices de acidentes e tomar providências cabíveis incluindo a intalação de redutores de velocidade ou colaborando com melhorias junto aos responsáveis pela manutenção. É com educação nas escolas e não baixando o terror é que vamos resolver o problema da violência no trânsito do Brasil.

    • Pensamento diferente dos países que obtiveram maior resultado, onde punir é uma forma de educar, não é terror. Redutores de velocidade que estão sendo instalados são lombadas físicas que colocam vidas em risco e tem provocado tragédias como essa https://estradas.com.br/cinco-pessoas-sao-esmagadas-por-carreta-em-mais-uma-lombada-assassina-na-br-316-no-para/ .
      Vamos poupá-lo do vídeo. Com relação aos governos anteriores, também não tiveram compromisso com a segurança viária. A corporação tem evoluído e melhorado muito na sua atuação. Mas o levantamento de pontos críticos, sem controle de velocidade e fiscalização rigorosa, não gerou redução dos sinistros e sim aumento.

  7. Artigo sensacional. Sou PRF e concordo com cada palavra, precisamos de um nome técnico

  8. Precisamos de mais condutores com curso de direção defensiva, aliás, sugiro, (video) duas horas de instrução de direção defensiva no posto policial, quando flagrado em infração. Na hora.

  9. O principal motivo dos acidentes nas estradas, não apenas a ausência de Radares, más principalmente o grande número de ingestão de álcool pelos condutores de veículos !…

  10. Sou caminhoneiro e concordo plenamente, a segurança viária é mais importante do que discursos populistas, infelixmente nossas rodovias federais viraram terras de ninguem

  11. Parabéns ao autor deste texto. A PRF tem que voltar a ser uma polícia de Estado e não a serviço do governo de plantão. O cuidado com as vidas deve ser prioridade. E realmente, não aguentamos mais politicagem nas redes feitas por servidores que deveriam respeitar seus cargos e o povo que os paga com seus impostos. Chega de lacração. A sanidade mental agradece.

  12. O artigo tem fundamento e é necessário que haja fiscalização no controle da velocidade. Por outro lado, olhado a parte técnica, entendo, que para haver cobrança é necessário que se tenha rodovias em perfeito estado de conservação, sem buracos no asfalto, com acostamento, saídas d’água, super elevação nas curvas, evitando que acidentes possam acontecer pela degradação do asfalto.

  13. Sou Policial Rodoviário Federal e concordo plenamente com este artigo, gostaria até mesmo de tê-lo redigido. Parabéns pela iniciativa e conteúdo. Em tempo, não podemos esquecer que neste período anterior de 4 anos tentaram derrubar a utilização do dispositivo de segurança para crianças no banco traseiro.

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