Eram 8h47 da chuvosa manhã de ontem quando a vida de dezenas de pessoas que ocupavam 21 caminhões, 11 carros e duas motos na Rodovia Anchieta mudou para sempre. Dois motoristas, porém, saem desse grande acidente com histórias heróicas. Sidnei José, 48, e Felipe Mayano Ferreira, 26, arriscaram suas vidas para salvar o próximo.
Logo após escutar o estrondo da colisão, o caminhoneiro José, que vinha atrás dos veículos que se chocaram na altura do quilômetro 29, contou que frear o bitrem – caminhão com duas carretas – carregado de madeira foi uma das manobras mais difíceis da carreira.
“Ainda não acredito que consegui. Se não parasse poderia matar muita gente.”
Gritos femininos por socorro o motivaram para a segunda ação de heroísmo do dia. O caminhoneiro caminhou até um Celta que estava debaixo de um caminhão-tanque. Havia fogo e ameaça de explosão. A estrada estava repleta de óleo e combustível.
“O que este cara (José) fez não existe. Ele apagou o fogo com o extintor do caminhão, arrancou a porta do Celta e conseguiu salvar o casal. Acho que ele não estava aqui por acaso, é verdadeiro herói”, disse o publicitário Manoel de Brito, 43, emocionado com a cena.
Outro cidadão de extrema coragem não mediu esforços para tentar salvar o bancário Almir Morgato Bispo, que pilotava uma moto. Felipe Ferreira viajava a trabalho. Ele conta que a busca pelo motociclista começou quando curiosos à beira da estrada disseram que o rapaz havia caído na Billings. “Não dava nem para ver a água da represa. A neblina era intensa”, contou.
Ferreira decidiu descer pelo vão entre as muretas de proteção das pistas. Nesse momento avistou o que parecia ser um “saco preto”. Era a jaqueta impermeável de Almir. Se jogou na represa e, após algumas braçadas, o encontrou. “Carreguei o motoqueiro até a margem e esperei 10 minutos até a ambulância do Samu chegar. A gente tentou fazer massagem (cardíaca), mas não sei se ele sobreviveu”, disse.
Ao fim da conversa com o Diário, o jovem promotor pediu: “Você pode me ligar para avisar se ele ficou bem?.” Três horas depois do diálogo, foi informado que Almir Morgato havia chegado sem vida ao Pronto Socorro de São Bernardo.
Foram sete engavetamentos ao todo
Sete engavetamentos foram registrados entre os quilômetros 29 e 33 (veja os principais no quadro acima). O primeiro acidente ocorreu às 8h47, no término da ponte sobre a Represa Billings. A batida envolveu cinco caminhões, seis automóveis e uma moto. Segundo os motoristas, a visibilidade no momento da colisão era inferior a 15 metros de distância. O piso escorregadio – garoava no momento – também teria prejudicado a frenagem.
Outros quatro veículos e uma moto ficaram prensados entre dois caminhões. A força do impacto arremessou o bancário Almir Morgato Bispo de sua moto pelo vão entre as muretas de proteção das pistas. Ele foi a única vítima fatal.
Após a primeira ocorrência, a falta de visibilidade e a parada repentina no trânsito ocasionou uma sucessão de acidentes. No Km 29,5, dois caminhões e dois carros – Ecosport e Blazer – bateram. “Não dava para enxergar quase nada. Ouvi o barulho do engavetamento e parei. Logo depois um caminhão acertou a traseira do meu carro e foi empurrando em cima de outros”, disse a bancária Maria Aparecida Pinheiro Teixeira, 42, que trabalha em São Bernardo.
O caminhoneiro Róbson Motinha Ferreira, 37, contou que foi obrigado a “jogar” o caminhão cegonha que dirigia no mato para não colidir com três carretas que estavam atravessadas na estrada. “Deu tempo de ver três (caminhões) parados e mirar no mato. Se a Imigrantes (rodovia) estivesse liberada para os caminhões também tudo isso não teria acontecido. Mesmo a 20 km/h estava perigoso”, disse Ferreira.
Um motoqueiro que tentava sinalizar para os veículos que vinham atrás pararem quase foi atropelado por um caminhão. Ele foi obrigado a se jogar no acostamento da estrada, enquanto sua moto foi arremessada embaixo de uma carreta.
Dois funcionários de uma empresa de sorvetes que iam de caminhão para Diadema se machucaram ao bater na traseira de uma carreta. Airton Alves de Moraes, 52, foi resgatado pelo helicóptero da Polícia Militar com fratura exposta na perna direita e levado para o Hospital Santa Marcelina, em São Paulo. A pista central da Anchieta foi liberada às 11h25. Na noite de ontem, a descida era realizada em operação comboio.
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