Ônibus é assaltado na Rio-Teresópolis, outro leva pedrada na Via Lagos e bando rouba carros na Dutra

Em plenas férias escolares, época de estradas cheias, três importantes rodovias do estado tiveram casos de violência na noite de domingo e na madrugada de ontem. Um ônibus que seguia para o Espírito Santo pela Rio-Teresópolis foi assaltado na altura de Guapimirim, por ladrões que haviam embarcado no Rio. Na Via Dutra, na Baixada Fluminense, bandidos fecharam a pista e roubaram dois carros, provocando acidentes. Já um ônibus que vinha de Rio das Ostras para o Rio, pela Via Lagos, foi atingido por uma pedra. Mesmo com os olhos feridos por estilhaços do pára-brisa, o motorista não parou, evitando um possível assalto.

O ônibus da Viação 1001 que seguia para São José dos Calçados, no Espírito Santo, foi assaltado por três homens armados que embarcaram juntamente com os outros passageiros na Rodoviária Novo Rio. O veículo saiu do terminal por volta das 23h de domingo. Os bandidos estavam sentados nos últimos bancos. Por volta dos 40 minutos de ontem, eles anunciaram o assalto.

Ao todo, 37 passageiros foram assaltados. Segundo as vítimas, os criminosos foram bastante agressivos e tinham o apoio de cúmplices numa caminhonete que seguia o ônibus.

— Os bandidos embarcaram de bermuda, chinelo, sem bagagem e de touca. Perto de Parada Modelo, eles cobriram os rostos com as toucas e acordaram os passageiros aos socos — contou Renato José Fernandes. — A senhora que estava do meu lado foi agredida por um deles. Levaram tudo meu. Só fiquei com um sapato velho.

A aposentada Leonor do Carmo, que viajava com o filho, foi uma das pessoas agredidas.

— Acordei com os três homens de máscara. Um deles me deu um murro no braço e fiquei tonta. Entreguei o dinheiro que eu tinha. Quando meu filho tentou resistir, levou um soco na cabeça. Eles estavam nervosos e gritavam muito.

Dois dos assaltantes estavam com pistolas e o terceiro, com uma faca.

— Um apontava a arma para a cabeça do motorista, o outro para os passageiros, enquanto o terceiro bandido vasculhava as bolsas das vítimas — lembrou Renato.

Bagagem foi toda roubada por bando

Após saquear os passageiros, os assaltantes ordenaram que o motorista parasse na altura do quilômetro 95.

— O motorista desceu, abriu o bagageiro do ônibus e eles transportaram todas as malas para o carro que nos seguia. Foram 20 minutos de muito terror — contou Leonor.

Ao chegar a Teresópolis, os passageiros tentaram registrar o roubo, mas foram informados de que deveriam seguir para a 65 DP (Magé). Por volta das 7h, eles deixaram a 65 DP e seguiram, no mesmo ônibus, para São José dos Calçados.

A Novo Rio informou que a segurança dos passageiros após a saída do terminal é de responsabilidade das empresas de ônibus. A apresentação do documento de identidade na compra da passagem e no embarque do veículo é obrigatória, no caso de viagens interestaduais. Mas o cumprimento da norma também fica a cargo da empresa, no caso a 1001. Segundo a rodoviária, as imagens de todos os passageiros que embarcaram foram gravadas pelas 36 câmeras instaladas no terminal e estão à disposição da polícia. A 1001 disse que os três assaltantes usaram informações falsas para preencheram os documentos necessários para embarcar. A empresa alegou que faz aleatoriamente a revista dos passageiros com detector de metais para inibir assaltos.

Na Via Lagos, o suposto ataque aconteceu na noite de domingo. O ônibus da Macaense que vinha de Rio das Ostras para o Rio saíra lotado às 18h. De acordo com um dos passageiros, o fotógrafo e publicitário Humberto Teski, todos entraram em pânico quando, cerca de uma hora e meia depois, no quilômetro 19, em Rio Bonito, ouviram o estrondo da pedra contra o pára-brisa:

— Cheguei a achar que o motorista tivesse atropelado algum animal, já que ele seguiu viagem. Mas cerca de três quilômetros depois ele parou e constatamos que estava machucado. O motorista teve muito sangue-frio e evitou que todos fôssemos assaltados. Agora, enquanto a ambulância chegou rapidamente, a polícia demorou mais de uma hora e meia. Estávamos numa região erma, sem iluminação, e tivemos medo de que os assaltantes viessem ao nosso encontro.

Comandante do Batalhão de Polícia Rodoviária, o tenente-coronel Ricardo Pacheco disse considerar o caso incomum e surpreendente. Ele disse que há uma base da PM próxima:

— Nossos policiais ficam em Boa Esperança (a cerca de 15 quilômetros do ponto onde o motorista parou). Se eles levaram mais de uma hora e meia para chegar, deviam estar em outro atendimento. Quando havia totens com telefones nas margens das pistas, era mais fácil pedir socorro.

Já o subchefe de Relações-Públicas da PM, major Oderlei Santos, sustentou que a patrulha não foi chamada e teria chegado ao local durante uma ronda. Ele disse ainda que, segundo apurou o comando do batalhão, o ônibus teria sido atingido por uma pedra que voou de uma obra na pista.

Bando fecha a Dutra e rouba dois carros

A concessionária da Via Lagos informou que os totens eram constantemente roubados ou depredados, por isso estão sendo substituídos por uma central de atendimento gratuito. O motorista, que sofreu ferimentos leves, foi atendido e liberado.

Em março de 2005, uma pedra atirada por um assaltante na BR-101, no trecho Niterói-Manilha, provocou a morte de dois passageiros e do motorista, que perdeu o controle do veículo e caiu numa ribanceira.

Na Dutra, em São João de Meriti, cinco homens armados com pistolas, em três carros, fecharam a pista em direção ao Rio, roubando um Honda Civic e uma caminhonete S-10. Uma das vítimas foi Edgard Barros Matos, de 53 anos, auditor do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Ele voltava de uma temporada de oito dias em Caldas Novas, Goiás, em seu Honda Civic com a mulher, a irmã e o cunhado, que é policial federal.

— Perdemos em torno de R$ 25 mil, sem contar o carro. Foram roupas, sapatos, filmadoras, presentes e celulares — disse Edgard.

Ele contou que no carro havia duas pistolas escondidas. Depois de retirarem todos do Honda Civic, os assaltantes abordaram o motorista da S-10. Edgar ligou para um dos celulares roubados e um dos criminosos disse que tinha visto, pela carteira do cunhado, que ele é policial.

— O bandido disse que, se soubesse disso na hora, teria matado o meu cunhado. Ele gritava que eu tinha perdido tudo, que não recuperaria nada — disse o auditor. — Os criminosos já sabem que aquela região é a melhor: não tem luz, não tem polícia.

Quando o bando fechou a estrada, carros frearam bruscamente e houve pequenas batidas. Segundo motoristas e policiais, o trecho de 15 quilômetros entre Jardim América e Nova Iguaçu é o mais perigoso do Dutra. De janeiro a março deste ano, em apenas duas das seis delegacias que cobrem a estrada no Rio e na Baixada, foram registrados 62 assaltos na rodovia. A concessionária Nova Dutra informou que não faz parte do contrato da empresa a iluminação da estrada.