NA PRÁTICA: Documento de Transporte Eletrônico (DT-e) vai garantir uma maior fiscalização do cumprimento da tabela de frete, uma das principais reivindicações dos caminhoneiros. Foto: Divulgação

Caminhoneiro Chorão, derrotado nas eleições à vaga na Câmara Federal, se aproximou do governo e tem negociado diretamente com Tarcísio Freitas e Onyx Lorenzoni

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e supostos líderes de caminhoneiros se reúnem na próxima semana para dar encaminhamento às medidas apresentadas pelo governo e debelar uma possível paralisação prevista para 29 de abril.
O caminhoneiro Wallace Landim, conhecido como Chorão — um dos que se posicionaram como líderes da greve do ano passado — e outras supostas lideranças vão ao Espírito Santo com o chefe da Infraestrutura para acompanhar a implementação do Documento de Transporte Eletrônico (DT-e). O estado é uma espécie de piloto para a implementação da ferramenta, que trará informações integradas, como nota fiscal, distância da viagem e cálculo do piso mínimo de frete em cima da distância, bem como o vale pedágio, o valor da estadia para carga e descarga e o próprio contrato da viagem.
Na prática, o DT-e vai garantir uma maior fiscalização do cumprimento da tabela de frete, uma das principais reivindicações dos caminhoneiros. O sucesso e a replicação da guia eletrônica é avaliada como a resposta que pode tranquilizar os autônomos mais indignados. A leitura é de que, somente com propostas concretas, a categoria poderá se acalmar.
Internamente, há uma disputa entre as supostas lideranças que começou nas últimas eleições. Dedéco e Chorão foram candidatos a deputado federal pelo Podemos, no Paraná e em Goiás, respectivamente. Perderam. Depois do período eleitoral, com a vitória do presidente Jair Bolsonaro — o candidato que recebeu apoio massivo da categoria —, Chorão se aproximou do governo e começou a negociar as demandas diretamente com Freitas e o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.
Já Dedéco não teria conseguido a mesma proximidade, apontam caminhoneiros. Para alguns, teria sido o motivo da mensagem crítica enviada a Lorenzoni por WhatsApp na terça, quando anunciou uma paralisação para 21 de maio. Dois dias depois, no entanto, bancou a paralisação para 29 de abril. A falta de demandas atendidas enervou os brios de caminhoneiros como Dedéco, que acusam Chorão de estar alinhado ao governo e ter esquecido a categoria.
A pressão interna rachou de vez as supostas lideranças e, agora, Chorão e outros autônomos tentam resgatar a confiança para evitar que a promessa de paralisação de Dedéco desencadeie um efeito dominó. “Ficam com ciúmes, mas não estamos vendo sigla partidária. O que estou fazendo é apenas trabalhar e mostrar o que está sendo feito”, rebateu Chorão. A ideia é que, com a apresentação de resultados na próxima semana, consiga convencer outras lideranças a demoverem a ideia de uma greve.
O caminhoneiro esteve com Tereza e Freitas na quarta-feira negociando até outras pautas que nem foram apresentadas pelo governo na terça-feira, como destravamento de contratos diretamente entre autônomos e embarcadores, eliminando do processo a necessidade de transportadoras. A ministra está articulando junto à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e à Confederação Nacional da Indústria (CNI) e prometeu a Chorão desburocratizar entraves que vêm impedindo que cooperativas de autônomos busquem cargas diretamente na Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
GOVERNO NÃO SABE QUEM MANDA E ESQUECEU OS EMPREGADOS
No facebook do Estradas.com.br , quando os caminhoneiros são solicitados a informar se consideram que Chorão e Dedéco representam a categoria, a maioria absoluta diz não representam e também desconhecem quem são. Por isso o Estradas.com.br define como supostas lideranças. Nas paralisações desde 2015, o Estradas.com.br fez o mesmo com vários dos que sentam representando entidades constituídas e sindicatos da categoria nas reuniões  e obteve a mesma resposta.
O que fica evidente é que o Governo não conseguiu definir ainda quem são os verdadeiros líderes, até porque não existe liderança nacional e mesmo as regionais são dispersas. Há inúmeros grupos  e interesses que não aparecem por trás dessas supostas lideranças. Quem tem de assumir o controle da situação é o Governo que está perdido sem saber qual o rumo tomar. A tal ponto que esqueceu que metade da categoria são caminhoneiros empregados cujos interesses nenhuma das supostas lideranças menciona. Na pauta de reivindicações não são mencionados aumentos de salário, redução de jornada, diária que permita pagar estacionamento seguro e banho.
Fonte: Estradas.com.br e Correio Braziliense