Chego até a estranhar, nessa imensa massa de governantes populistas que assolou o País nos últimos tempos, que o prefeito de São Paulo, prudentemente, sancionou uma lei que proíbe o uso de motocicletas para o transporte de passageiros, os mototáxis, na capital do Estado.Voltando um pouco no tempo, uma lei federal de 2009 regulamentou em todo o País a profissão de mototaxista, deixando a cargo dos municípios estabelecer regras para o serviço.
Isso demonstra como São Paulo está preocupada com seus habitantes, como já o fizeram Nova York e Londres, proibindo este tipo de transporte.
O uso da motocicleta para o transporte de passageiros pode ser considerado criminoso, de baixa qualidade e inseguro. As estatísticas não me deixam mentir. O número de mortes de motociclistas na cidade de São Paulo em 2018, 360 no total, chega a quase um óbito ao dia.
Técnicos da Prefeitura Municipal avaliam que a alta está ligada ao crescimento dos aplicativos de entrega por motoboys, que dão prêmios em dinheiro para quem faz mais viagens.
A prática de oferecer incentivos monetários para quem faz mais entregas leva à direção imprudente e abusos de velocidade pelos motociclistas, as maiores vítimas do trânsito na cidade. Esses estímulos violam regras de saúde do trabalho como a falta de tempo e descanso adequado. O resultado disso é o aumento do número de acidentes de trânsito, mortos e sequelados, levando a despesas com previdência social e perdas para as famílias.
Mensagens atribuídas a empresas de alimentação dizem: ‘ganhe 570 reais completando 44 entregas’, ou, ‘incentivo especial de R$50 para quem fizer cinco entregas em 2 horas’. ‘Garanta o presente da garotada hoje’, diz outro texto.
Esta guerrilha urbana travestida de atividade econômica e a desculpa de que melhora o trânsito é uma inverdade. Motos trafegando em espaços exíguos, quase virtuais, em alta velocidade, são ingredientes de uma receita para acidentes frequentes e graves, que pioram a fluidez do trânsito, afetando a vida e a atividade de milhares de pessoas.

Dr. Jack Szymanski – Médico Especialista em Oftalmologia também é especialista em Medicina de Tráfego e Médico Perito do Detran-PR para Exames Especiais e Adaptações para Deficientes Físicos na direção veicular. É professor, autor de inúmeros artigos sobre segurança no trânsito. Palestrante em Congressos nacionais e internacionais, foi o primeiro brasileiro eleito para a presidência da International Traffic Medicine Association (ITMA), a qual comanda atualmente.