Ao fim de todo feriado prolongado, Minas Gerais aparece nos noticiários como o estado campeão de acidentes e mortes em rodovias. A explicação das autoridades responsáveis pelas estatísticas de tanta violência também é sempre a mesma: a imprudência dos motoristas, muitas vezes atrelada a fenômenos naturais, como chuva. Por isso, insistem os fiscais do asfalto, a maioria das mortes ocorre em colisões frontais, causadas, principalmente, por ultrapassagens irregulares em pistas sinuosas e estreitas.

Mas especialistas em trânsito dão outra dimensão ao problema ao eleger a falta de estrutura da malha rodoviária mineira, a maior do país, como a grande vilã. Precariedade que tira a vida de milhares de pessoas, causa grandes perdas a transportadoras, empresas de ônibus e indústrias, e afeta até a Polícia Rodoviária Federal (PRF). A corporação teve de cancelar o lançamento da campanha Acenda os faróis – dê uma luz para a vida, que ocorreria na quarta-feira na BR-381, por causa da interdição da abalada ponte no Rio das Velhas, no km 455, no limite de Belo Horizonte e Sabará, na região metropolitana.

Pontes e viadutos das rodovias mineiras estão em estado precário Os quatro dias do feriado da semana santa de 2010, de 1º a 4 de abril, foram os mais sangrentos da década em Minas de acordo com a PRF. Houve 603 acidentes nas rodovias federais, que deixaram 351 pessoas feridas e 31 mortas. Com as 32 mortes no mesmo período nas rodovias estaduais e federais delegadas à Polícia Militar Rodoviária (PMRv), 63 pessoas perderam a vida. O número é 215% maior do que o registrado no mesmo feriado de 2009, com 20 mortos (13 nas federais e sete nas estaduais). Os dados da PRF também são superiores aos do carnaval deste ano, quando houve 29 mortes nas BRs mineiras.

Para que a carnificina no asfalto não seja novamente motivo de sofrimento para tantas famílias neste feriadão, o Estado de Minas analisou os números da PRF na Operação Semana Santa de 2010. Os dados apontam as principais causas dos acidentes com mortes, o dia de maior incidência dos desastres, as características dos trechos das rodovias onde eles ocorrem com maior frequência, além do horário citado por especialista e pela corporação como o mais crítico. O objetivo é criar um “manual de sobrevivência” para motoristas e passageiros, permitindo que eles cheguem ao destino em segurança.

Das 31 mortes do feriadão da semana santa de 2010, 11 foram na BR-381, sendo oito no trecho mais perigoso da rodovia, entre Belo Horizonte e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, e três na Fernão Dias, entre a capital mineira e São Paulo. Sete foram na BR-116 (Rio/Bahia), quatro na BR-040 (três entre BH e o Rio de Janeiro e uma entre BH e Brasília), três na BR-365, uma na BR-459 e uma na BR-050. A PRF não informou os locais de quatro mortes.

Apenas uma pessoa perdeu a vida em rodovia de pista duplicada, ao ser atropelada no km 433 da BR-040, em Paraopeba, na Região Central. Os demais casos foram em vias de pista simples e sem divisória central que pode evitar choques entre veículos que trafegam em sentidos opostos ou que fazem ultrapassagens malsucedidas. As colisões entre carros de passeio causaram 21 mortes (15 em batidas frontais, três em transversais, duas em laterais e uma na traseira do carro).

“As características dos acidentes mostram que todas as rodovias federais de Minas estão ultrapassadas. Não basta melhorar a sinalização, é preciso reconstruí-las, duplicar as pistas e pôr barreiras físicas para separar os dois sentidos, de concreto ou aço”, afirmou o especialista em trânsito e assuntos urbanos José Aparecido Ribeiro, presidente do Movimento SOS Rodovias Federais-MG.

Segundo ele, estudos mostram que as intervenções nas rodovias evitariam 60% das mortes. “Não podemos negar a imprudência dos motoristas. Mas o que mata são as colisões entre veículos, sobretudo frontais. Por isso, a maioria das mortes ocorre, historicamente, na BR-381, principalmente entre Belo Horizonte e João Monlevade, trecho conhecido como Rodovia da Morte.” A maior parte das mortes (10) na semana santa de 2010 ocorreu no domingo, último dia do feriado, na volta para casa. O período noturno é o mais crítico. “Alterações da pressão sanguínea são mais comuns das 19h às 21h, podendo provocar sonolência nos motoristas”, diz o especialista.