Cansados dos acidentes e assaltos, que viraram rotina desde o início das obras de duplicação da BR-116, cerca de 100 moradores impediram, por cerca de uma hora, o trânsito na rodovia e cobraram agilidade do Governo Federal
Os motoristas mais ousados passam pelos buracos com dificuldade, quase encostando o eixo do carro no chão. Os caminhoneiros, cuja pressa de chegar é fundamental para garantir os ganhos, se aborrecem com os congestionamentos causados pela lentidão no trânsito, que ainda facilita os assaltos. Há dez anos, este é o estado de vários trechos da BR-116, entre Fortaleza e Pacajus, cujas obras de duplicação continuam sem prazo para terminar por causa de diversas paralisações decorrentes da falta de recursos.
Cerca de cinco quilômetros da rodovia cruzam a cidade de Horizonte, a 42 quilômetros de Fortaleza. No ponto mais crítico, no qual nem existe acostamento, os motoristas acabam transitando pelas laterais enlameadas para fugir dos buracos, pondo em risco a segurança dos pedestres. Por causa disso, na manhã de ontem, os moradores resolveram bloquear o tráfego da BR-116, cobrando, do Governo Federal, a conclusão das obras.
“Isso aqui é uma vergonha. Já faz dez anos que a gente vive nessa situação e até para andar a pé está perigoso. Quem mora perto da BR, tem que pisar na lama para sair de casa e ainda corre o risco de ser atropelado”, afirma o líder comunitário José Maria de Oliveira, um dos organizadores da manifestação, que mobilizou pouco mais de 100 moradores de Horizonte. De acordo com Oliveira, a única manutenção feita pelo Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit), responsável pela obra, é colocar brita nas crateras formadas no asfalto. “É inútil. Com a chuva, a água e o movimento de caminhões pesados acabam tirando a brita, e quando a lama seca, a poeira é insuportável”, comenta.
Além da má conservação, a falta de drenagem da rodovia tem causado alagamentos e aumentado os riscos de acidentes. “Em dias de chuva, isso aqui vira um atoleiro. Os buracos ficam cobertos e os motoristas acabam caindo dentro deles”, afirma o mototaxista Fabílio Brito.
Por causa da barreira humana, que impediu o tráfego por cerca de uma hora, formou-se um congestionamento de quase dois quilômetros, que só melhorou após a liberação de um trecho em obras paralelo à cidade, por onde passará a variante (desvio) da BR-116. Segundo o engenheiro do Dnit, Josidan Góis Cunha, as obras da variante já deveriam ter sido concluídas. “O problema é que na época do projeto foi feito um levantamento das áreas a serem desapropriadas, fora do perímetro de Horizonte, mas com as paralisações e a falta de fiscalização da prefeitura, outros moradores invadiram o terreno da obra. Com isso, novo processo de desapropriação deverá ser feito”.
Até o momento, três dos cinco quilômetros da variante já foram desapropriados, e a previsão é de que o processo inteiro seja concluído em julho. “Em até três meses depois de concluídas as desapropriações, a variante deverá ficar pronta. Em seguida, recuperaremos a antiga BR, que corta a cidade, e a entregaremos para a prefeitura”, diz o engenheiro.
Quanto aos alagamentos, Cunha aponta a ocupação desordenada da população como principal causa. “Os bueiros foram todos fechados pela população. Como se não bastasse, ainda foi construído o muro de uma granja na lateral da pista antiga da BR, impedindo o curso do riacho Catu, inundando todo o trecho. Por causa disso, enviaremos um ofício para que a Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente), tome as devidas providências”, afirma.
De acordo com o prefeito de Horizonte, Francisco César de Sousa, quando o trecho da BR-116 que corta a cidade for desativado e passar para a responsabilidade da prefeitura, será feita a reurbanização da área, que prevê a construção de calçadões e o alargamento das pistas, onde ficará a avenida principal da cidade.
No início de abril, o trecho da BR-116 que passava pelo município de Pacajus foi desativado. O fluxo de veículos já passa por fora da cidade, mas a conclusão das obras na área está prevista para o fim de maio. “A variante de Pacajus já está pronta, mas estamos fazendo pequenos acabamentos, para podermos entregar o trecho da BR que passava pela cidade à prefeitura”, afirma o engenheiro do Dnit Josidan Góis Cunha.