Delegado Wesley Silva encarregado do inquérito confirmou que motorista dormiu ao volante - Reprodução das mídias sociais

O motorista da Viação Catarinense, que conduzia o veículo que tombou na BR-277 (PR), Fernandes Pinheiro (PR), e deixou sete mortos, até o momento, e 22 feridos, admitiu em depoimento à Polícia Civil, na Delegacia de Teixeira Soares (PR), responsável pela investigação do acidente (sinistro), que cochilou ao volante. 

Durante essa terça-feira (31), a equipe da Polícia Científica realizou o trabalho pericial no local do tombamento e constatou que não havia marcas de frenagens na pista, indício de fadiga do condutor.

Segundo o delegado, Wesley Vinícius Gonçalves da Silva, o motorista, um representante da Viação Catarinense e doze passageiros prestaram depoimento à polícia. Outro passo importante para a investigação foi o recolhimento do ônibus para o pátio da Polícia Rodoviária Estadual (PRE) de Ponta Grossa para a realização da perícia que apontará se teve alguma falha mecânica no veículo.

Motorista confirma versão de passageiros

No depoimento do motorista, o delegado destaca que não pode relevar o que foi dito, já que o inquérito policial é um procedimento sigiloso, mas confirma que o motorista dormiu na direção do veículo. “Devido a circunstâncias que ainda vamos apurar nas investigações”, explica. Conforme as apurações, não chovia no momento do acidente.

Além disso, o delegado informou que o motorista realizou o teste do bafômetro com resultado negativo para ingestão de álcool e que estava com a documentação em dia. Ele negou o uso de qualquer medicamento.

Ainda segundo o delegado, no momento do sinistro, o único representante da empresa dentro do veículo era o próprio condutor. “Não havia bagageiro ou alguém que pudesse prestar um eventual suporte”, pontua. Silva disse que o motorista pode responder por homicídio culposo e lesão culposa, caso seja comprovado que ele agiu com negligência ou imprudência.

Alguns passageiros alegaram que logo no início da viagem que, segundo e empresa, iniciou às 16h20, em Florianópolis (SC), com destino a Foz do Iguaçu (PR), o motorista já dava sinais de cansaço, inclusive invadindo a outra faixa. Do momento da partida até o local do sinistro, ele já teria conduzido o veículo por mais de 450 quilômetros e ainda teria cerca de 120 quilômetros de direção até chegar no local da troca de motorista. Neste trajeto, ainda não está claro se ele realizou alguma parada para descanso.

Viação Catarinense

Um representante da Viação Catarinense de Curitiba também prestou esclarecimentos à polícia. A empresa será investigada quanto ao cumprimento do intervalo de descanso, que deve acontecer a cada quatro horas de viagem por um período de 30 minutos. “O representante disse que estava previsto uma parada”, disse Silva. “A troca de motorista estava marcada para acontecer em Guarapuava. As investigações vão apurar se haverá responsabilização do condutor ou da empresa.”

As informações do cronotacógrafo, a caixa preta do transporte rodoviário, que permite identificar distância percorrida, tempo de direção contínua e velocidade praticada será fundamental para a perícia e deve ser acompanhada da fiscalização deste e outros condutores da empresa. Esta é a opinião do coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto. “Não basta averiguar este caso, tudo indica que é a ponta do iceberg. É preciso que auditores fiscais e o Ministério Público do Trabalho tomem providências e façam uma apuração rigorosa dos procedimentos da empresa. Caso seja exemplar, deve ser valorizada; caso contrário, aplicada com todo o rigor da lei.

Ele acrescenta ainda que é preciso averiguar como a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está controlando a operação das linhas da empresa. “É preciso verificar o esquema operacional que foi aprovado e se ele é respeitado. A ANTT não precisa fazer operações midiáticas nas rodovias, deve resolver os problemas com a fiscalização nas garagens, checagem nas rodoviárias, estimular as denúncias dos passageiros, entrevistar os motoristas, e principalmente acompanhar a perícia dos acidentes e utilizar as informações geradas para aprimorar as normas e controles a fim de evitar que as tragédias se repitam“.

Passageiros que usavam cinto foram os que menos sofreram lesões

Segundo Silva, ao todo, 12 passageiros foram ouvidos, dez deles estavam internados na Santa Casa de Irati e outros dois estavam em um hotel. “O que elas relataram é que muitas delas estavam dormindo devido ao horário do acidente e quando acordaram já tinha acontecido o tombamento“, frisa o delegado.

As testemunhas também confirmaram que no momento do acidente não havia outro motorista para fazer a troca. Os passageiros também foram questionados quanto ao uso do cinto de segurança. “As vítimas que nós conversamos que tiveram menos lesões, foram justamente as que disseram que estavam utilizando o cinto de segurança”, disse.

Inquérito tem prazo de 30 dias

O inquérito policial tem o prazo de 30 dias para ser encerrado. “Vamos aguardar o trabalho da perícia para que possamos incluir no inquérito e ouvir mais vítimas”, finaliza Silva.

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