João Carlos Medeiros Rodrigues Júnior é coordenador do curso superior de Formação Específica em Trânsito da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), além de professor do curso de Direito e assessor jurídico da instituição. Para ele, o trânsito de Criciúma é apenas mais um reflexo do que já existe em outras cidades brasileiras: é um problema que precisa ser tratado com urgência e acima disso, dedicação. Caso contrário, a ferida que, aos poucos, deveria cicatrizar irá, cada vez mais, se abrir. E o resultado disso? Nem queremos pensar.

Para João Carlos, Criciúma enfrenta hoje, com o trânsito, os mesmos problemas que uma metrópole ou qualquer cidadezinha do interior possuem. Os problemas não estão nas ruas, avenidas, rodovias estaduais ou federais. As grandes culpadas não são as vias mal conservadas. Os vilões da história são os próprios homens; sua má educação no trânsito. Eles ainda não se conscientizaram de que é a cabeça deles que deve mudar. “Acredito que para que haja uma grande mudança no trânsito não deva acontecer só o fato de a pessoa tomar consciência. De que adianta eu saber que não devo tomar bebida alcoólica quando vou dirigir se eu não faço isso na prática?”

O coordenador destaca que para que uma boa mudança ocorra, deve-se investir nos três Vs – veículo, via e vivente – em conjunto. Se o investimento for isolado, os problemas sempre estouram em alguma ponta. “Ou seja, as fábricas devem investir na construção de bons veículos, o poder público na melhoria das vias e o principal: os homens devem mudar o modo como pensam. Se as pessoas continuarem com o pensamento de hoje, não adiantará de nada a duplicação da BR-101, por exemplo. As vias irão melhorar, mas o número de mortes vai aumentar também. Pode ter certeza disso”, diz.

Mais acidentes nas rodovias
Ele acredita que com a duplicação da rodovia, o que irá mudar são os tipos de tragédia. “As colisões frontais podem chegar a zero, mas as estatísticas de mortes ou vítimas com lesões irão ficar iguais ou maiores que as registradas no dia de hoje. Uma pista em boas condições é um convite ao excesso de velocidade. Para tirar a dúvida é só pegar dados da duplicação da BR-101 norte. Duplicaram aquele trecho da rodovia há mais de cinco anos e as mortes continuam ilustrando a história”, diz.

Hoje ter um carro é sinônimo de status. Ter um carro veloz, mais ainda. Em Criciúma, muitas pessoas não andam a pé ou de ônibus porque não querem parecer pobres diante da sociedade. “O aumento da frota de veículos e a facilidade para adquirir um automóvel também contribuem para os problemas no trânsito. Só na Unesc há 3,2 mil veículos, entre carros e ônibus, estacionados no pátio. Imagina na cidade inteira. Temos um dos melhores sistemas de transporte coletivo do país, que não é usado como deveria”, conta.

João acredita que ainda hoje as pessoas não estão preparadas para enfrentar a realidade. “A escola não prepara, as auto-escolas também não. Ninguém está preparado para dirigir com segurança. O trânsito evoluiu, mas as pessoas não acompanharam esse desenvolvimento. Todos quando pegam os veículos querem chegar ao destino com segurança e agilidade. Mas, não se dão conta de que o verdadeiro acidente de trânsito é chegar vivo ao destino”, destaca. ” Morre mais gente no trânsito que na guerra. Quando um soldado vai para a guerra a família chora preocupada, mas quando o parente vai viajar essa preocupação deveria ser encarada como maior ainda”, completa.

Unesc é pioneira em ensino relacionado à área

A Unesc é pioneira no país quando o assunto é o ensino relacionado à trânsito. Já formou três turmas no curso de Formação Específica em Trânsito. Ano que vem, uma pós-graduação no ramo será iniciada. As inscrições estão abertas. Também há um projeto inédito no Brasil para um curso de extensão para condutores surdos, com material didático especificamente para eles. Este curso trabalhará paralelamente com os alunos que tiverem passado pelas auto-escolas.