Internado há cinco dias no Hospital São José, em Maravilha (SC), Rosinei Ferrari, 28, motorista da carreta que atropelou e matou 20 pessoas na terça na BR-282, já aceita a idéia de que é um assassino. É o que diz sua mulher, Luciane Ferrari, 28.

Segundo ela, só ontem o marido teve a exata dimensão do que fez, quando os dois policiais militares que fazem sua escolta ligaram a TV quando ela exibia uma reportagem sobre a tragédia ocorrida em Descanso. Dois acidentes em seqüência deixaram 27 mortos e ao menos 90 feridos.

“Ele achava que tinha sido uma coisa pequena. Mas, depois de assistir à TV, os policiais deram detalhes, falaram quantas pessoas morreram. Quando entrei no quarto, ele me perguntou se tudo aquilo era verdade, se matou tanta gente. Ele já está aceitando a idéia de que é um assassino, coitado.”

Segundo ela, o marido está com medo da cadeia, para onde será levado quando tiver alta. Nela, há quatro celas ocupadas por 20 detentos. A capacidade é de oito pessoas, duas por cela.

“Meu marido está com medo, acha que os outros presos conhecem pessoas que morreram e vão querer fazer alguma coisa de ruim. Ele não é bandido.”

A mulher diz que tem acesso ao quarto de Ferrari uma vez ao dia, por uma hora, e que ele chora o tempo todo.

“Ele só diz que lembra de perder o controle da carreta, que, quando viu a fila de carros, conseguiu reduzir a velocidade para 40 km/h, mas, como percebeu que ia bater, mudou de pista. Eu tento mudar de assunto para ele não pensar só nisso.”

Segundo ela, na primeira visita que fez, o marido fez um pedido: “Para eu ir ao local do acidente e tentar achar a bíblia de estudo para ter em que se apoiar”.

O casal freqüenta há seis anos, em Cascavel (PR), a Igreja Pentecostal Unidos com Jesus em Cristo. Ferrari é diácono e participa do culto diariamente.

De acordo com ela, o marido não toma nenhum tipo de bebida alcoólica e não usa drogas para se manter acordado nas viagens. “Colegas insistem muito para que tome rebite (espécie de anfetamina), mas ele nunca quis tomar. Naquele dia do acidente ele estava bem, tinha dormido a noite toda.”

A mulher diz que viajou várias vezes para fazer companhia a ele e que o marido é muito cuidadoso.

“Ele é um ótimo marido, me trata como um tesouro. Faz comida, bolo, ajuda em casa. Na segunda à noite fez macarrão. Ainda bem que já tinha viajado com ele para ter certeza de que é um motorista responsável. No fim do ano, ia parar de trabalhar para viajar sempre com ele. Estava programando engravidar. Agora não sei mais o que vai acontecer.”